Corpos em chamas: um clichê de romance adolescente

Uma viagem além das estrelas

Estou ansioso para ver Michael. Meu coração bate mais rápido só de imagina-lo. Onde será que vamos? Quero que dê logo nove horas, e ainda faltam dez minutos, dez longos minutos. Parece que o tempo não passa e minha vontade de beijar ele grita dentro da minha pele. Quero sentir seus lábios depois de tanto tempo novamente nos meus.

Quando meus avós chegam em casa, me perguntam porque estou todo arrumado e para onde eu vou. Respondo que irei sair com uns amigos da igreja para a pizzaria. Vovó me lança um olhar desconfiado, mas ela não me proíbe e me deixa sair sem hesitar.

Ouço uma buzina do lado de fora e corro para ver se é Michael. E, sim, é ele. Mariposas voam em meu estomago. Meu avô vem até aqui na frente e, com aquela voz rude dele, me pergunta quem é o menino que buzina.

— É um amigo que veio me buscar — respondo em um fio de voz.

— Vai logo e vê se não demora — ele diz, ríspido.

Chego até Michael me controlando para não agarrar ele aqui mesmo na frente dos meus avós e de todos que passam na rua. Percebo que tem uma mochila nas costas dele, um pouco grande, exagerada eu diria.

Seu sorriso é contagiante ao me ver, safado e manipulador.

— Então, me conta pra onde vai me levar.

— Lembra do nosso primeiro beijo?

— Claro! Como esquecer? — digo, e ele sorri.

— É pra lá que a gente vai.

— E essa mochila aí?

— É surpresa. — Ele dá uma piscadela e abre um sorriso largo.

Subo na moto e aceno para os meus avós que me olham de frente de casa.

A noite está fria e, já fora do meio urbano na estrada escura, abraço ele e sinto seu cheiro penetrar minhas narinas.

Como eu tava com saudades do cheiro do teu perfume, Michael.

Ele segura em minhas mãos e acaricia enquanto pilota. Agarro ele mais forte e vou olhando o céu estrelado sobre nossas cabeças. Uma emoção toma conta do meu peito, fazendo meus pelos se arrepiarem e se misturarem com a paz que sinto toda vez que resolvo olhar para cima durante a noite.

— Fiquei pensando em ti esse tempo todo — diz ele, abafado pelo vento.

— Eu também — confesso.

— Eu não sei o que você fez comigo, desde que te vi na igreja... me despertou um formigamento diferente que eu não sabia explicar pra mim mesmo.

— Eu tenho meus encantos — digo, me achando. — Mas você conseguiu me deixar completamente caidinho.

— Eu também tenho meus encantos, pô.

Paramos na margem do rio. É impossível não relembrar o dia mais incrível da minha vida que vivi aqui. O céu tá praticamente do mesmo jeitinho. Isso me faz sentir muita vontade da boca de Michael.

Com algumas técnicas de escoteiro, que eu não fazia ideia que ele sabia, vejo surgir uma fogueira.

De dentro da mochila, que é quase uma mala, ele tira algumas peças e lonas.

— O que é isso, hein? — pergunto.

— É a surpresa que te falei, vamos acampar. — Ele puxa meus braços e me beija.

— Sério? Sempre quis acampar — digo, com os braços em volta do pescoço dele.

— Tá vendo como sempre acerto? Sou é foda.

— Muito convencido, senhor Michael.

O corpo dele tão pertinho do meu faz meu coração disparar.

Antes de me chamar para ajudá-lo na montagem da barraca, nossos lábios se encostam mais uma vez.

— Eu não faço ideia de como faz isso — digo, segurando algumas barras de ferro.

Eu mais atrapalhei do que ajudei, mas no final nossa cabana ficou legalzinha. As partes feias foram minha culpa, mas fiz o melhor que pude, e não vamos ficar no relento esta noite, é isso que importa.

Perto da fogueira, estendo uma manta no chão e me sento sobre ela. Michael vem logo em seguida, mas antes ele vai até a motoneta e eu o vejo tirar algumas sacolas do bagageiro.

— Trouxe mais o que, menino?

— Comida pra gente não ficar com fome. No caso, pra ti não ficar com fome, eu vou comer Kiwi. — O sorriso safado aparece.

— Não entendi a piada — ironizo.

Sobre o cobertor, ele ajeita as caixas de pizza. Eu me deito com os braços esticados ao longo do corpo para observar o céu. Michael se ajeita ao meu lado com as mãos entrelaçadas debaixo da cabeça, e nós dois soltamos suspiros profundos.