Quando chego no ensaio, Marty não para de olhar para o menino de hoje de manhã da escola. Até então, só eu percebo os segundos interesses dele no tal Pablo, pelo menos acho que é só eu.
Só tem um lugar vazio, entre Marty e mais um outro, em meio os bancos cheios de meninos.
— Ei, Marty — chamo, baixinho.
— Oi, fala.
— Essa vaga tá ocupada? Posso sentar aí?
Antes que ele pudesse pensar e abrir a boca para responder, um menino de pele morena do lado de Marty responde em tom de zoação:
— Não tem ninguém aqui, será uma honra ter você ao meu lado.
— Obrigado, meu humilde rapaz, será uma honra sentar ao seu lado também — respondo, com um sorriso e me ajeito entre eles.
Pego minha caderneta de hinos e começo a folhear procurando o hino que vamos ensaiar hoje.
— Willian? — O tal menino pergunta ao ver meu nome escrito na capa.
— Isso. — Sorrio, continuando a folhear.
— Você não vai perguntar o meu, pô?
— Meu Deus, desculpa. — Também olho a capa da caderneta dele. — Michael, né?
— Como adivinhou? — Brinca, franzido os olhos.
— Tenho dom de revelação, acredita? — digo a ele, dando uma risadinha.
Depois de uma hora e meia de tempo cantando vários hinos um atrás do outro, o ensaio tem uma pausa de 15 minutos para dar chance de nossas gargantas se recuperarem para mais uma hora de batalha.
Marty e eu caminhamos até ao outro lado da igreja para beber água, nossas bocas estão secas implorando por hidratação. Ele bem que tenta disfarçar quando Pablo passa pela gente, mas não consegue e quase se afoga quando pergunto o que acha dele.
— Dele quem? — balbucia em meio a tossidas.
Do cara que você tá afim.
— Do Pablo, ele parece ser legal.
— Ele é gente boa.
Estamos voltando para nossos lugares, tem um tumulto bem na porta de acesso para o salão da igreja. Me espremo entre, em sua maioria, meninas que gritam e sorriem quando querem chamar atenção de algum garoto bonito. Chego até a porta, Michael está fazendo graça atrapalhando a entrada.
— O que tá fazendo já, criatura? — pergunto. — Licença, por favor.
— Pra você eu abro até as portas do céu, meu anjo — ele brinca, dando um sorrindo de canto.
— Obrigado. — Solto um sorriso meigo. — Agora abre!
Enquanto entro, empurro ele para deixar Marty e os outros passarem. Michael me encara sorrindo e revirando os olhos.
— Seu chato.
— Você não fica atrás. — Dou de ombros, dando uma risadinha a ele.
No final do ensaio, a irmã Rute vem nos comunicar que haverá culto de adolescente nesta quarta. Em um sorteio, Marty, Camila, Michael e eu fomos uns dos sorteados para dar a palavra e cantar.
💫
Chego bastante atrasado na escola, entro na sala às pressas e me sento em uma das duas carteiras que ainda restam, bem no fundo da sala. A lista de presença já está sendo conferida, eu só consigo prestar atenção se meu número já foi chamado, parece que não.
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Corpos em chamas: um clichê de romance adolescente
RomansaCom 12 anos, Willian Rodrigues se apaixonou pela primeira vez. O cara que fez seu coração bater mais forte era Daniel, nada mais além do que o namorado da sua melhor amiga; uma menina evangélica que acabou conseguindo convencer ele a entrar para a i...