VI

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Quando chego no ensaio, Marty não para de olhar para o menino de hoje de manhã da escola. Até então, só eu percebo os segundos interesses dele no tal Pablo, pelo menos acho que é só eu.

Só tem um lugar vazio, entre Marty e mais um outro, em meio os bancos cheios de meninos.

— Ei, Marty — chamo, baixinho.

— Oi, fala.

— Essa vaga tá ocupada? Posso sentar aí?

Antes que ele pudesse pensar e abrir a boca para responder, um menino de pele morena do lado de Marty responde em tom de zoação:

— Não tem ninguém aqui, será uma honra ter você ao meu lado.

— Obrigado, meu humilde rapaz, será uma honra sentar ao seu lado também — respondo, com um sorriso e me ajeito entre eles.

Pego minha caderneta de hinos e começo a folhear procurando o hino que vamos ensaiar hoje.

— Willian? — O tal menino pergunta ao ver meu nome escrito na capa.

— Isso. — Sorrio, continuando a folhear.

— Você não vai perguntar o meu, pô?

— Meu Deus, desculpa. — Também olho a capa da caderneta dele. — Michael, né?

— Como adivinhou? — Brinca, franzido os olhos.

— Tenho dom de revelação, acredita? — digo a ele, dando uma risadinha.

Depois de uma hora e meia de tempo cantando vários hinos um atrás do outro, o ensaio tem uma pausa de 15 minutos para dar chance de nossas gargantas se recuperarem para mais uma hora de batalha.

Marty e eu caminhamos até ao outro lado da igreja para beber água, nossas bocas estão secas implorando por hidratação. Ele bem que tenta disfarçar quando Pablo passa pela gente, mas não consegue e quase se afoga quando pergunto o que acha dele.

— Dele quem? — balbucia em meio a tossidas.

Do cara que você tá afim.

— Do Pablo, ele parece ser legal.

—  Ele é gente boa.

Estamos voltando para nossos lugares, tem um tumulto bem na porta de acesso para o salão da igreja. Me espremo entre, em sua maioria, meninas que gritam e sorriem quando querem chamar atenção de algum garoto bonito. Chego até a porta, Michael está fazendo graça atrapalhando a entrada.

— O que tá fazendo já, criatura? — pergunto. — Licença, por favor.

— Pra você eu abro até as portas do céu, meu anjo — ele brinca, dando um sorrindo de canto.

— Obrigado. — Solto um sorriso meigo. — Agora abre!

Enquanto entro, empurro ele para deixar Marty e os outros passarem. Michael me encara sorrindo e revirando os olhos.

— Seu chato.

— Você não fica atrás. — Dou de ombros, dando uma risadinha a ele.

No final do ensaio, a irmã Rute vem nos comunicar que haverá culto de adolescente nesta quarta. Em um sorteio,  Marty, Camila, Michael e eu fomos uns dos sorteados para dar a palavra e cantar.


💫

Chego bastante atrasado na escola, entro na sala às pressas e me sento em uma das duas carteiras que ainda restam, bem no fundo da sala. A lista de presença já está sendo conferida, eu só consigo prestar atenção se meu número já foi chamado, parece que não.

Corpos em chamas: um clichê de romance adolescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora