O começo das nossas aulas parece mais com uma largada de corrida de atletismo. Estamos iniciando o primeiro semestre da nossa longa maratona pelo ensino médio, encarar esses três pequenos anos não vai ser nada fácil. Quero poder iniciar esse novo ciclo com pé direito. Tenho que fazer o máximo para que ocorra tudo dentro dos conformes esse ano: nada de notas vermelhas; nada de matar aulas; nada de procrastinação; dedicação as tarefas escolares; dedicação a igreja. E, ah! Nada de paixões.
Eu nuca mais tive notícias de Daniel, aquela paixão passou em menos de dois meses. Preciso aproveitar essa fase de paz interior e focar nas obras de Deus, aproveitando melhor meu tempo disponível com coisas essenciais para minha vida.
Na frente do colégio, a movimentação é intensa e normal para um primeiro dia de aula. Os alunos do terceiro ano sempre estilosos e soberbos, olham para você com superioridade, principalmente aqueles que são filhos de algum político da cidade. Fico parado esperando dar coragem para entrar, observando o muro com grandes letras que formam: E.E.E.M Santa Inês.
— Will, tá fazendo o que, aqui, parado? — Camila pergunta, tocando em meu ombro.
— Ai, garota, que susto! — Levo a mão ao peito. — Esperando uma cara conhecida pra me acompanhar.
— Sorte tua, tem uma cara mais conhecida que a minha?
— Nem um pouquinho, a mais conhecida e a mais chata.
— Por isso que combinamos, dois chatos. — Ela ri. — Vamos?
Abraçados, chegamos no mural de anotações para ver onde vai ser nossa sala. Ela acha o nome dela na lista do 1º ano (A). Na mesma lista, vou direto para os últimos nomes que começam com W, mas parece que dessa vez nós dois vamos ter que estudar separados, não acho meu nome. Droga!
— Não acredito, Will. Vamos ficar separados?
— Sim, minha sala é a 1º ano C. — Bufo.
— Que pena, Willian. A gente se fala na hora do intervalo, então. — Ela me dar tchau e some no meio da multidão de alunos.
Sozinho, entro na minha sala, passeio meus olhos pelas mesas que ainda restam, procurando um lugar. Vejo um rosto conhecido: Marty, o meu amigo da igreja, que acho que também é gay.
— Oi, Marty — cumprimento ele, sentando em uma carteira ao seu lado.
— Oi, Will. Como é que vai?
— Tudo certo — respondo, ajeitando meus matérias sobre a mesa.
— O que tá achando da escola?
— Por enquanto, não tem nada de tão anormal a ponto de me fazer querer fugir. — Dou uma risadinha.
— É... Santa Inês é uma escola bem agradável — Marty diz. — Cadê aquela tua amiga?
— Camila? — pergunto, e ele assente. — Ela tá em outra sala.
Tenho quase certeza que Marty sofre com o mesmo problema que eu. Tem trejeitos femininos, desmunheca as vezes e tem um olhar diferente para outros meninos. Se ele não fosse da igreja eu teria receio de ser amigo dele, medo do que iriam pensar, mas acho que nenhum irmão nunca falou da gente por sermos amigos.
💫
Mais uma vez, estou assistindo uma pregação de quanto o homossexualismo é pecado. Marty está do meu lado, eu consigo perceber o desconforto dele com as palavras ditas. Ele ruboriza toda vez em que o pastor passeia os olhos pelo grupo de adolescentes, e seu olhar se desvia para a bíblia fingindo ler algo, quanto na verdade só não consegue encarar a realidade dele, a nossa realidade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Corpos em chamas: um clichê de romance adolescente
RomanceCom 12 anos, Willian Rodrigues se apaixonou pela primeira vez. O cara que fez seu coração bater mais forte era Daniel, nada mais além do que o namorado da sua melhor amiga; uma menina evangélica que acabou conseguindo convencer ele a entrar para a i...