Willian e Michael

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Quando Willian está arrumando suas malas para ir embora, olha para a foto de Michael em seu celular. O coração dele aperta, e um vazio se estende sobre seu corpo. Desde que desativou as redes sociais, não teve mais notícias do garoto que bagunçou suas emoções, e dói, partir sem se despedir, mas ele briga consigo mesmo para entender que é uma dor necessária
no momento.

— Willian, filho. — Ele ouve a mãe dele chamar da sala da casa de seus avós.

— Tô acabando de arrumar minhas coisas — ele grita em resposta, botando os livros por último na mala, e um papel cai de cima da estante.

Os olhos enchem de lágrimas quando lê escrito no cabeçalho: Aluno: Michael Gama e Willian Rodrigues. Era um trabalho em dupla que fizeram juntos. A letra é obviamente de Michael, pois está muito bem desenhada. A letra de Willian é feia, para não dizer horrível.

Tem muito mais de onde esse papel veio. Ele acha na estante vários trabalhos escolares com o nome Michael Gama. As atividades deles se misturavam todas as vezes que o menino Gama pegava a mochila de Willian e colocava seus matérias dentro e levava para não deixar o pobre garoto magro levar peso. O caderno velho do primeiro ano ainda tem o nome de Michael escrito na capa.

— Filho, vamos. Tenho vários clientes me esperando na loja, e a viagem é longa — a mãe dele diz, entrando no quarto.

Ele está ansioso para chegar na capital e se matricular na faculdade, mas lembra que não pode ir embora sem se despedir de alguém muito especial.

— Mãe, eu não vou agora. Leve minhas malas que de tardezinha eu vou de ônibus — diz ele, dando um salto da cama e agarrando o celular.

— O quê? Como assim? E porquê?

— Preciso ver alguém antes. — Ele disca rapidamente um número já gravado na mente dele.

— Willian, não vai me dizer que você vai ver o... — Ele interrompe a mãe com um abraço, praticamente expulsando ela de volta para a capital.

— Ligo pra senhora assim que tiver saindo daqui. Pode ser, minha mãezinha linda que amo?

— Olha lá o que você vai fazer, garoto. Não quero mais te ver chorando pelos cantos.

— Eu não vou chorar — diz ele com um sorriso. — Não se preocupe que não vou fazer nada demais. Agora vá que sua loja
precisa da senhora.

Depois de colocar as malas no carro, ele corre na frente do espelho e desbloqueia o celular e clica na tecla de ligação, e o número discado atende depois da terceira chamada.

— Oi, posso ir aí na tua casa pra um abraço? — Willian diz, enquanto enrola um cacho no dedo.

A voz do outro lado da linha sai feliz e direta.

— Mais é claro que sim, universitário.

Ele abre um sorriso largo e desliga o aparelho.

— Oh, vó, eu tô indo ali rapidinho — ele grita, pegando a chave da lambreta do avô e saindo.

— Espera o almoço, menino — ela grita, mas Willian já está longe demais para escutar.

Devagar, ele para a moto e desce rodando a chave. Um sorriso largo aparece assim que se olham. Sempre existiu carinho entre eles e sempre vai existir, pois passaram juntos por situações parecidas.

Ao ver que Camila também se encontra lá, por um segundo, se sente desestabilizado pela menina que antes era a melhor amiga dele, mas logo volta ao normal e o riso aparece novamente em seu rosto.

— Então, eu vim te dar um abraço... Em vocês, na verdade — diz ele, parecendo um pouco tímido. — Vou sentir saudades da gente. Quero que saiba que nunca vou esquecer você, e nem você, Camila.

Corpos em chamas: um clichê de romance adolescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora