XVI

10 4 0
                                    

Um uma manhã de prova de fim de ano, me sinto completamente cansado. Essa última semana de aula tá me matando. São tantos trabalhos para entregar e tantas matérias
para estudar que eu não consigo mais nem dormir direito.

Encontro Camila e outras meninas da igreja sentadas na arquibancada da quadra de esportes.

— Oi, gente. A paz do senhor — digo.

Elas me respondem em meio ao coro que estão cantando. As vozes ecoam pelo ginásio e não parecem incomodar os meninos que estão jogando bola.

Me sento ao lado de Camila e espero elas acabarem de cantar.

Percebo que Lívia, a prima de Michael, me olha meio que diferente. Então, pergunto para Camila se ela contou alguma coisa sobre nossa conversa para ela. Ela fica meio tentando fugir da resposta. Pressiono para que ela me fale a verdade, sei que ela está me escondendo alguma coisa.

— Eu posso ter deixado escapar umas palavrinhas — ela confessa.

— Quê palavras, Camila?

— Então... Talvez eu tenha dito que você gosta dela.

Respirando fundo, para não surtar, tento pensar em algo que eu possa dizer caso a Lívia venha falar comigo. Mesmo que
eu diga a verdade, se essa história se espalhar pela igreja, ninguém vai acreditar em mim. Mas simplesmente o que me preocupa mais é se isso chega aos ouvidos de Michael. Eu sei que ele vai ser a última pessoa a acreditar nisso tudo, porém é estranho, é a prima dele.

— Mas que merda! Eu disse pra você que eu não gostava de ninguém.

— Você falou da Lívia.

— Eu disse que ela era legal, é diferente — digo, e o olhar de Camila se afasta fixando em alguém atrás de mim.

— Oi, Will — Lívia se senta do meu lado.

Fico paralisado por alguns instantes sem saber o que falar.

— Oi, tudo bem?

— Tudo. Quer um pedaço? — Ela segura uma fruta e me oferece um pedaço.

— O que é isso? — pergunto.

— Kiwi.

— Eu vou aceitar só porque sempre ouço falar nessa fruta.

Camila observa Lívia colocar a fruta em minha boca. Penso que ela acha que posso ser curado por uma namorada.

— O que achou? — Lívia quer saber.

— Uma delícia — respondo de boca cheia.

Posso ver que ela tá curiosa para me perguntar se eu gosto dela. Então, antes que ela possa questionar algo, começo a falar
da igreja.

— O que vocês acharam do culto de domingo?

— Achei uma benção, principalmente quando o pastor falou de casais — Camila diz, nos olhando e sorrindo.

— Também achai, mas ainda tô procurando meu varão — Lívia diz.

Eu também, inclusive quero sentar no varão do teu primo.

— Que ótimo, um dia você vai achar — digo, desviando do olhar dela.

Lívia ajeita sua postura e se encosta na arquibancada.

— É... Não sei como te perguntar isso. — Ela sorrir sem graça. — Não sei se é exatamente verdade, mas você gosta de mim, Willian?

Como posso responder isso sem aparecer arrogante ou magoar ela de alguma forma?

— Eu... eu...

— Quem é que gosta de quem aí? — Michael diz, chegando por trás da gente de repente.

Assustado, pisco os olhos algumas vezes.

— É...

— Tô perguntando se é verdade que o Willian gosta de mim. — Lívia me interrompe com a voz ligeira.

Os olhos dele se estreitam em confusão, sem entender nada do que tá rolando.

Michael arqueia as sobrancelhas querendo me perguntar:
“mas que merda de papo é esse?”

— Eu não gosto de ninguém — exclamo.

— Não? — Michael e Lívia perguntam ao mesmo tempo.

— Não. — Olho para ela, depois para ele querendo dizer: isso não é pra você, idiota.

— Lívia, você é uma menina incrível, mas Camila entendeu tudo errado.

— É mentira dele, ele gosta de ti sim — Michael diz, dando uma risada.

— Para de graça seu retardado — digo, arremessando uma bolina de papel nele. — Tô falando a verdade, Lívia.

— Eu bem que achei estranho quando Camila me falou. Eu achava que você fosse g-ga... Deixa pra lá.

Olho para Michael, sondando a reação dele e sua possível fala. Ele apenas me olha e ri. A prima dele quase me chama de gay na frente de todos. Detesto esse jeito dele de puro cinismo.

— Pois é, continua procurando teu varão, uma hora Deus manda um pra você — digo.

— Eras, gente. Eu já tava shippando vocês — Camila diz.

Michael se levanta de onde ele está e senta mais perto.

— Eu também, acho que eles dois formam um casal super fofo e lindo — ele satiriza a vós de um bebê.

Inclino a cabeça em sua direção e franzo o cenho.

— Michael, para de encher a paciência e vai pra porr... Comer Kiwi.

— Eu jurava que você ia falar um palavrão, sangue de Jesus. — Lívia arregala os olhos.

— Onde é que come isso? — Michael pergunta, zoando.

— A Lívia que trouxe e deu na boquinha dele — Camila diz.

Deus tem que me dar muita paciência para lidar com esses dois me atentando o juízo.

Corpos em chamas: um clichê de romance adolescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora