Michael está na porta da minha sala fazendo sinais me chamando para ir
até lá com ele.
Desde quando terminamos, ele soube fingir muito bem que nada aconteceu entre a gente. Criamos uma espécie de amizade. Ele sempre age com safadeza, mas eu relevo, porque é o Michael.Já pensei em me afastar completamente dele, mas não consigo. A realidade é que pensar em ficar longe é tão doloroso que acabo por aceitar as migalhas que ele tem para me oferecer de sua atenção.
Meu comportamento nesses últimos meses foi de alimentar essa relação que temos. Estou sempre inventando uma desculpa para falar e estar perto dele. Ainda digo que preciso de seu livro de filosofia, apesar de não ser mais verdade. Meu fone, que já era um material importante para mim, passou a sempre está dentro da minha mochila, pois sei que Michael vai vir até minha sala todas as manhãs me pedir emprestado. Meu cordão, minhas pulseiras e anéis já são quase dele. Faz semanas que Michael me pediu emprestado e até agora não me devolveu.
Peço licença para o professor, abro a porta e coloco apenas a cabeça para fora.
— Me empresta teu fone, kiwi — ele pede com um sorriso.
— Sabia — digo, bufando e revirando os olhos.
— Sabia de quê?— Nada não, mas você só vem atrás de mim pedir minhas coisas.
Michael dá aquele sorriso safado e manipulador.
— Nada a ver, pô. Agora, por exemplo, eu vim te dar um abraço. — Ele me puxa para fora da sala.
— Sai, Michael, me solta. — Finjo ser indiferente ao abraço dele, mas não me esforço para me desvincular de seus braços musculosos. — Tenho que voltar pra aula.
— Will, você precisa ser mais fofo comigo. — Damos alguns passos para trás, ainda abraçados, e nos encostamos na parede.
— Michael, pega a merda do fone e vai embora, tenho que entrar — resmungo.
— Tem que parar de ser assim. Será que você não percebe que parte meu coração? — ele diz, em um tom agudo, satirizando um bebê.
Sinto a respiração de Michael no meu pescoço, o fogo bate.
— Chega, tenho que ir. — Me solto dele e ando em direção a sala.
— Ei!
— Quê? — Viro-me para encara-lo.
— Tá esquecendo de me dar o fone.
Tiro o objeto do bolso e jogo para ele.
— Valeu!
Algo dentro de mim me alerta dizendo que sou muito besta, mas não consigo cortar nosso vinculo. Por que não consigo ficar distante de Michael? Sei que é porque ainda tenho esperança de algum dia a gente possa ter um relacionamento de verdade, mas também sei que ter ele por
perto me causa muito mal.***
A professora de história está escrevendo um exercício no quadro com perguntas relacionadas as Guerras Mundiais. Cada questão exige respostas de nível alto, já estamos treinando para a prova do Enem no final do ano.
Pego meu caderno e começo a fazer anotações, mas minha mente não consegue ficar inteiramente focada na matéria, o rosto de Michael parece flutuar na minha frente com aquele sorriso que me enlouquece.
— Preciso estudar mais, não tô conseguindo entender muito bem — comento com Marty.
Ele resmunga e assente. Claramente a sua mente também está longe, o caderno dele tá vazio e seus olhos estão fixos no nada.
— Ando um pouco desatento nos últimos dias — digo.Na verdade, ando distraído nos últimos anos.
— Por quê?
Porque Michael não quer sair da minha cabeça nem por um segundo. Não importa onde eu esteja, se é na cama, no banheiro ou na escola, ele sempre acompanha dentro dos meus pensamentos. Isso me dar raiva.
— Sei lá... Acho que deve ser tensão do último ano de escola — respondo, girando a caneta em cima do caderno.
Ele fica olhando para um ponto fixo na parede, e ele suspira.
— Acho que te entendo, ando do mesmo jeito. — Em um instinto involuntário os olhos de Marty viram-se para janela em direção a sala de Pablo.
— É, acho que entende.
Os pés da cadeira arranham o piso da sala com Camila se inclinando em nossa direção e logo depois a voz dela invade nossa conversa.
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Corpos em chamas: um clichê de romance adolescente
RomansaCom 12 anos, Willian Rodrigues se apaixonou pela primeira vez. O cara que fez seu coração bater mais forte era Daniel, nada mais além do que o namorado da sua melhor amiga; uma menina evangélica que acabou conseguindo convencer ele a entrar para a i...