O garoto e a fantasma

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"Eles disseram que eu não poderia viver como eles. Eles disseram que eu não seria como eles, nem em meu sonho mais fantasioso. No dia em que nasci, fui condenada a essa vida, condenada a carregar comigo os erros de meus progenitores".

"Afinal, o que eu fiz de tão ruim para merecer algo assim? A culpa não é minha, nunca foi... Eu não quero acreditar que foi, eu não sei se foi... Eu tenho medo, eu tenho medo de um dia entender que a única razão pela qual eu fui deixada viva é pela minha utilidade. No fim, eu já não posso mais me colocar na posição daquela que julga, eu sou a culpada, por tudo".

"No fim, o grande frio da morte foi a única coisa que se juntou a mim de forma sincera, e por um instante, eu me senti livre. Eu posso contar nos dedos os momentos mais felizes de minha vida, e no fim, eles não chegam a passar da primeira mão".

"Caso eu me encontre com algum Deus, eu irei questioná-lo do motivo da minha existência medíocre. Caso Deus não me responda, eu cortarei sua língua, ele não irá precisar dela para outra coisa".

"Eu não sei o porquê de eu continuar me importando com coisas assim, isso chega a ser patético. Sinceramente, eu nunca estive melhor, pois o fundo do poço era frio e degradante, mas o inferno em que vivo aquece meu coração".

"É um pouco egoísta pensar algo assim, mas eu sempre quis alguém ao meu lado. Eu queria poder estar ao lado de alguém, eu queria que alguém me ouvisse e compreendesse o que eu sinto. Infelizmente, eu já não posso me dar ao luxo de ter alguém assim, pois qualquer um que tente se aproximar de mim será como os mosquitos que me irritavam durante as noites de verão".

"De certa forma, eu nunca pude me salvar sozinha, então eu sempre pedia a Deus para que me ajudasse... Mas ele nunca veio. Eu parei de rezar quando percebi que Deus era apenas um inútil, e então, eu decidi aguardar, aguardar para que a ordem natural das coisas seguisse. Minhas esperanças eram de que alguém apareceria, e enfim, eu seria salva. Como era de se esperar, eu nunca achei essa pessoa".

"Isso não deve ter sido resultado de minhas ações... Não, eu mesma já sei que isso foi culpa minha. Quem sou eu para querer ser salva? Eu sequer deveria existir".

"O mundo é um local distorcido, e minha visão nunca se acostumou a isso".

(Março de 2023, Santa Catarina, Joinville)

Ao amanhecer de um dia comum, um jovem adolescente chamado Mikhail andava pelas ruas com uma mochila em suas costas. O garoto estava a caminho da escola e aparentemente estava sozinho, mas não por muito tempo. Após andar por alguns segundos, outro garoto e uma garota se aproximam para conversar, e os três aparentam ser amigos. No início, nenhum deles quis começar a conversa, mas logo eles começaram a se falar.

— Vocês viram que aconteceu de novo? — O garoto ao lado de Mikhail começa a falar.

— O que aconteceu de novo? — A garota pergunta.

— Fizeram outro ataque terrorista, desta vez foi lá na Argentina! Daqui a pouco a gente explode também, hahaha — O garoto fala enquanto ri da situação.

— Dos criadores de "11 de setembro", vem aí: "18 de março" — Mikhail faz essa piada de forma descontraída, mas seus amigos começam a gargalhar com aquilo.

— Apesar de eu rir, eu acho que deveríamos ter o mínimo de respeito, Mika — A garota disse, mas no fundo ainda estava tentando segurar a risada.

— Claro, você está certa, Juh — Mikhail responde, sem muito peso na consciência.

— Mas então, sobre o que a gente vai fazer hoje, vocês topam? — O amigo de Mikhail pergunta aos dois, e ambos parecem levemente desconfiados.

— Olha, não é querendo duvidar da sua capacidade de escolher lugares para irmos, mas Samuel, da última vez, você quase levou a gente para um puteiro! — Juh disse, mas não de forma agressiva, e sim como uma reclamação.

Shizhen: Convivendo com um espírito Onde histórias criam vida. Descubra agora