Bom, tinha se separado. Os filhos criados, cuidando de suas vidas. Tinha uma casa nova, independência financeira e um emprego. "E então? O que você quer fazer agora? Cadê aquele monte de plano que você queria realizar com o Flávio?" Ela se viu cobrando, numa manhã, enquanto caminhava pela areia. Era outra linda manhã, fresca e luminosa. O mar estava limpo e transparente, com uma coloração clara num verde esmeralda e numa temperatura gostosa. O sol se refletia na superfície das ondas, espalhando milhares de pontos dourados.
Quando o tempo permitia, ou seja, quase todo dia, ela dava uma caminhada ou pelo calçadão ou na areia. E quanto mais caminhava, mais necessidade seu corpo sentia de caminhar. Além da alimentação mais regrada, acompanhada por uma nutri, ela fazia exercícios regulares em aulas ministradas na praia. Era uma delícia, mas a maioria dos alunos era mais jovem, assim como a professora. E alguns exercícios ela simplesmente não conseguia executar. E isso a irritava muito. Mas ficava porque sentia seu corpo mais condicionado e tonificado, ou seja, estava funcionando. "E em time que está vencendo não se mexe!", outra analogia esportiva aleatória...
Ela tinha tirado as férias em janeiro, portanto, viagem longa ia demorar. O que mais gostaria de fazer? Ir a museus, teatros, exposições? Ok, ela poderia fazer isso com as amigas. Aliás, já estava fazendo... O que teria de novo ou desafiador para ela realizar? Saltar de asa delta ou fazer bodyjump estava fora de cogitação. Ela queria se desafiar, não arriscar a vida! Olhou em volta e se deparou com o SUP – Stand-Up Paddle. Há muito ela desejava tentar subir naquela prancha e remar além da arrebentação, mas sempre achou que era algo muito difícil. Já tinha visto pessoas mais jovens tomarem tombos hilários de cima daquilo. "Mas, a ideia não é se desafiar? Fazer algo novo? É isso!" Como estava vestindo biquíni por baixo da roupa de ginástica, era ali naquele momento mesmo que ela tentaria. A água não estava gelada e o mar no Posto 6 era manso. Se aproximou de uma das barracas que oferecia o serviço e tocou no ombro de um rapaz de costas:
- Oi, bom dia!
Ele se virou... e ela se deparou com o rapaz que a tinha encarado no Arpoador. Sentiu seu rosto corar e arrependeu-se na hora da ideia. Mas ele sorria para ela de forma amistosa e charmosa:
- Oi, tudo bem? Tá a fim de dar uma volta de SUP?
- É... é sim... quanto é?
- Você já fez antes?
- Não... é a... a minha primeira vez – ele a olhou de cima a baixo, e parecia despi-la com aqueles olhos claros.
- Ah, então, vou ter que te dar uma atenção especial... Você pode esperar só um pouquinho, enquanto eu recebo aquele cara ali que está voltando? – ela virou-se para olhar para onde ele apontava. Um homem parecendo estrangeiro estava tentando remar de volta, ajoelhado na prancha. Ele se tremia todo e dava uma angústia ver todo o esforço que fazia para não cair.
- Ahn... quer saber? Acho que vou deixar pra outro dia...
- Como é o seu nome?
- Laura.
- Oi, Laura, o meu é Luiz, prazer – apertou a mão dela com delicadeza. – Olha, Laura, fica, você não vai se arrepender. – a intensidade daqueles olhos e a simpatia de Luiz a convenceram. Ela acenou com a cabeça – Ótimo. Fica aqui, meu amigo vai colocar o colete em você e eu já volto pra sua aula, ok? Luquinha, um colete aqui! – e chamou um rapaz que estava arrumando uns remos no canto da barraca.
Laura tirou a roupa de ginástica, e enquanto vestia o colete sobre o biquíni, se viu dividida entre a excitação da aventura e o choque de se deparar com esse mesmo cara que – aparentemente – a tinha cantado no Arpoador dias atrás. "Será que ele se lembrou de mim? Espero sinceramente que não! O jeito ridículo como eu fugi! Ninguém merece!"
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Quase 50tona
Chick-LitLaura estava livre.... Depois de 27 anos de casamento, depois de três filhos, depois de 49 anos de vida, depois de quase 30 anos de trabalho como professora de Inglês - é muito número..., ela estava livre para fazer o que quisesse. Sem amarras nem o...