Cap 11 - Antes de Morrer

35 5 0
                                    

Laura pensou que dormir ao lado de Luiz depois da primeira transa – e da segunda - seria ousado demais, e que ela ficaria tão tensa que acabaria dormindo mal. Mas, supreendentemente, dormiu pesado – também, pudera! E acordou cedo. Porque não importava o horário em que ela fosse dormir, sempre acordava às seis horas. Luiz parecia profundamente adormecido, e era bonito até dormindo. Ele ressonava levemente, ao contrário do trombone roncador que era o ex-marido: "Eu preciso parar com essa comparação. É chato, desnecessário e até injusto com Flávio." Mas, ela não conseguia evitar, por experimentar coisas tão diferentes agora. Tentou dormir de novo, mas não conseguiu. Acabou se levantando e foi preparar um café da manhã para eles. Eram quase 7 horas quando a campainha tocou. Ela achou cedo para isso, ainda mais numa segunda-feira. E tampouco iria abrir a porta de uma casa que não era a sua. Foi até o quarto acordar Luiz:

- Bom dia... estão batendo na porta...

Ele franziu o cenho, estranhando:

- Ué, tão cedo?

- Achei a mesma coisa, mas não abri, claro, a casa é sua... – ele se levantou, vestiu um short e ela o seguiu. Pelo olho mágico, viu algo que o fez se virar assustado, o olhar preocupado, murmurando:

- Putz! Ela disse que só ia chegar hoje à tarde...

- O quê? – a campainha tocou de novo.

- Ééé... Laura, será que você se importaria de entrar no banheiro?

- O quê?!!

- É... é que... eu preciso abrir a porta para uma pessoa...

- Quem é ela?

- É... complicado. - Ela nem esperou ele continuar. Entrou no quarto e calçou seus sapatos rapidamente. Ele foi atrás dela, tentando se explicar: - Laura, espera. Olha, eu nunca disse que a gente seria exclusivo.

Ela parou na sua frente e respondeu com raiva:

- Eu sei disso, Luiz, não sou nenhuma ingênua. Não estou achando isso um absurdo. O que me ofendeu foi você querer me esconder no banheiro como se eu fosse uma prostituta. – e foi indo em direção à porta.

- Onde você vai?

- Embora. – ele tentou segurá-la, mas ela já abria a porta, dando de cara com uma mulher bonita, um pouco mais nova do que ela. As duas se olharam criticamente, e Laura falou:

- Bom dia, estou indo. E não se preocupe. Você nunca mais vai me encontrar aqui, e muito menos perto dele. Tchau.

E saiu sem esperar para ouvir uma resposta nem assistir nada. Só notou que uma discussão começava. Vai ver, não era a primeira vez que a pobre mulher o pegava no flagra. Nem quis esperar o elevador. Pegou as escadas e foi descendo os quatro andares, embalada pelo ódio. "Meus cristais, como eu fui cair nessa? É claro que ele seria assim, como não? Tudo bem que eu não estava apaixonada, mas, pomba, eu acabei de dormir com ele! Esperava pelo menos mais consideração!"

Pensou também como o idiota era abusado, em deixá-la dormir lá na certeza de que não seria apanhado. Bem-feito, pra deixar de ser malandro. "Porra, eu tou muito velha pra essa merda..."

Foi para casa andando mesmo, no calçadão, para se acalmar. Teve vontade de mergulhar no mar, só pra esfriar os ânimos, mas não estava a fim de entrar na água de roupa e tudo e o friozinho da manhã também a desanimou. Não curtiu nem mesmo aquela paisagem da orla.

Chegou em casa faltando pouco para as 8. Ela perdeu sua ginástica na praia por causa disso... "Mas nunca mais, nunca mais eu me deixo enganar assim." Estava elétrica e resolveu tomar outro banho para tentar apagar Luiz de seu corpo. Bloqueou também o contato dele no celular e se sentiu um pouco melhor. Como a terapia só seria dali a alguns dias, resolveu marcar um almoço com as amigas, só para desabafar.

Depois de contar, com riqueza de detalhes - e algum exagero – os acontecimentos da noite anterior e da manhã, as amigas se dividiram entre os elogios ao sexo e xingamentos à forma como tudo acabou:

- Aí, Laurita, mandou bem, hein? Duas numa noite?

- E você é quem tomou a iniciativa... minhas preces foram ouvidas...

- Aí, mas não precisava esse Luiz ser tão canalha, né... desnecessário...

- Pelo menos você não se envolveu, né? Imagina o mico e a dor de cotovelo se você estivesse apaixonadinha...

E assim seguiu a sessão de descarrego, regada a muito vinho e risadas até o meio da tarde. Laura foi para casa com a alma lavada e enxaguada, com um sorriso à toa nos lábios, agradecendo ao universo pelas amigas que tinha. E prometeu novamente a si mesma: "Não caio em cilada assim de novo!"

Quase 50tonaOnde histórias criam vida. Descubra agora