Cap 19 - Que Tinder O Quê!

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Foi um começo de relação bem diferente do que ela idealizava, baseado, claro, apenas no que ela tinha vivido com o ex-marido...

Cadu era ótima companhia. Gostavam de fazer os mesmos programas, mas também continuaram a fazer atividades separados. Ela, saindo para o teatro ou um barzinho com as amigas. Ele, jogando futevôlei na praia e tomando chopp com a turma dele. E tudo seguia de forma gostosa, sem pressão.

Laura percebia o desejo que rolava entre eles, mas Cadu agia como se estivesse "fazendo a corte", devagar, se conhecendo. Ela, por seu lado, achava fofo o cuidado dele, mas já estava planejando um programinha mais ousado, para dar um empurrãozinho e partirem pros finalmente.

Mas foi no sexto encontro com Cadu que a coisa toda melou. E por uma divergência de opiniões, que, para Laura, dizia muito do caráter dele.

Estavam passeando pela praia, o lugar preferido dos dois. O meio do mês de agosto já estava mais quente e convidava para uma caminhada. Iam devagar, apreciando a companhia um do outro. Rita Lee ia na guia frouxa, correndo para o mar e voltando quando uma onda chegava perto dela.

Laura estava contando para ele sobre seus filhos, dando mais detalhes sobre cada um. Contou ainda sobre o encontro que tiveram no ano passado com o pai, em um restaurante, para revelar ao ex-marido a orientação sexual de André.

- Eu achei que Flávio iria ficar chocado mas, como bem disse o namorado do meu filho, "os pais sempre sabem". Flávio tentou esconder uma certa decepção no olhar, mas pelo menos não rejeitou o filho. Os irmãos e eu estarmos juntos acho que o fez ver como a família é mais importante do que qualquer preconceito.

Cadu parou e retrucou:

- Acho que não deve ter sido assim tão tranquilo para o seu ex, não... ele pode ter fingido, talvez porque vocês estivessem em um restaurante.

- Não, Cadu, ele aceitou. Passou até o final do ano com eles. O Flávio é conservador em muitos aspectos, mas é um homem inteligente. E ama muito os filhos. Ele sabe que, se rejeitasse um filho, ia sofrer a rejeição dos outros. E, no final das contas, ele próprio iria sofrer muito. E, vamos combinar, qual é o problema ter um filho gay?

- Eu acho que ele pode até ter aceitado da boca pra fora, Laura. Mas, de boa, não foi, não. É muito difícil para um pai aceitar um filho assim.

Ela o olhou, franzindo o cenho:

- Como assim?

- Puxa, nem sei por onde começar... mas, vamos lá! Além da vergonha que um pai pode sentir ao saber que tem um filho gay, vem a preocupação. Ele pode sofrer violência? Pode. Ele pode perder o emprego por causa disso? Pode. Ele pode pegar uma doença e morrer? Pode!

Ela sacudiu a cabeça, sem acreditar no que estava ouvindo. Soltou a mão dele e parou de andar, encarando-o. Rita Lee tinha parado de brincar e observava os dois, sentindo a tensão:

- Vergonha?! Vergonha por quê? São pessoas adultas, que não devem nada a ninguém!

- Falar é fácil, né... mas muita gente rejeita esse tipo de vida. Não é... natural!

- Não é natural? Natural de acordo com o quê? Você que dizer... você está falando de religião? Em pleno século 21?!

- Sim, está na bíblia, se você quer saber.

- Ah, Cadu, me poupa! Tem milhares de coisas na bíblia que, se fossemos praticar hoje, não haveria mais espécie humana. Pela madona, cara! Bíblia?!! Fala sério!

Cadu desviou o olhar para o mar. Rita Lee tentou subir no seu colo, mas ele a ignorou. Laura continuou, começando a sentir raiva:

- Não consigo entender como um homem inteligente e com acesso a tanta informação como você pode se basear na bíblia para justificar preconceito. E ainda achar que é vergonhoso ter um filho porque ele é homossexual?

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