Cap 7 - Será?

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Quando chegou em casa, olhou-se no espelho do quarto de forma crítica. Estava bronzeada, o que escondia as manchas que adquiriu com todos os anos de praia na juventude sem protetor solar. E atenuava as rugas em torno dos olhos. Alguns amigos diziam que ela se parecia com a atriz Sandra Bullock, mas só por conta dos olhos meio amendoados e do nariz arrebitado. Mas era um luxo ser comparada a uma talentosa artista que ela admirava muito e que era uma cinquentona pra lá de enxuta... Seu cabelo, que pintava uma vez por mês, estava na altura dos ombros, era castanho-escuro, mas estava mais claro por causa do sol. Seus cabelos eram um orgulho. Não eram cacheados nem lisos, eram ondulados e, por muito tempo, essa indefinição a irritou demais, e se obrigava sempre a fazer escova ou passar a prancha para alisar. Com o tempo e a evolução dos produtos para cabelos, conseguiu valorizar essas ondas e os cabelos voltaram a ter brilho e volume, como ela gostava. Nem a aproximação da menopausa estava causando algum estrago nele, de tanto que ela cuidava.

Do seu corpo ela já não podia dizer o mesmo. Foram três gravidezes e três amamentações que cobraram o seu preço. Estrias marcavam as suas coxas, sua barriga e seus seios, mas eram tão antigas que ela nem as percebia mais... Em alguns pontos, via uma flacidez crescente, que piorou depois que emagreceu 15 quilos, mas era o que havia para hoje... A celulite, no entanto, era muito irritante. Houve um período em que ela fez a tal massagem de drenagem linfática e funcionou muito bem, mas era muito dolorosa e cara, e acabou desistindo. Sua barriga lisa era seu outro ponto forte. Mesmo quando estava mais gorda, a digníssima se mantinha controlada. E ela agradece à mãe por isso. Não só do ponto de vista genético. Nos pós-partos, Rosana insistiu para ela usar faixas e cintas para colocar seus órgãos de volta no lugar. E a obrigou a usar muito mais tempo do que o recomendado pelos médicos. Era desconfortável, quente, e às vezes ela passava mal, mas manteve as cintas até desinchar. E eles devem ter voltado pro lugar certinho porque, mesmo depois da terceira gravidez, ela ficou com a barriguinha lisa. Mas os sinais dos 50 anos estavam por toda parte, em cada pelanquinha que balançava, embaixo dos braços, entre as coxas, nas costas... Por mais que malhasse, elas estavam lá e não havia nada que ela pudesse fazer. Não pensava em fazer plástica. Era dinheiro demais e sofrimento demais para pouco resultado... Preferia fazer terapia e se aceitar como era. "Afinal, este é o corpo que eu habito. É saudável, funciona e me sustenta. Vou reclamar por quê?" Ok, o discurso é bonito mas, na hora de se perceber através do olhar de um homem mais jovem, o buraco é beeem mais embaixo... Deu de ombros e foi tomar banho.

À noite, foi se encontrar com Sílvia num restaurante de comida mexicana, que ficava na orla de Ipanema. A vista era muito bonita, com o morro dos Dois Irmãos lá longe, à direita. As luzes da comunidade do Vidigal, daquela distância, davam um ar bucólico e mediterrâneo para a paisagem... não que ela tivesse visto pessoalmente, apenas imaginava...

As outras amigas estavam em um "evento de casal".

- Que saquinho isso, jantar de casal... a gente podia aparecer um dia num desses eventos organizados por aquela Antonella idiota como um casal, que tal? Com direito a beijo na boca e tudo!

- Eu topo!!! – riram e ela perguntou – Não vai fazer nenhum comentário sarcástico sobre a foto do SUP que eu te mandei, não?

Sílvia quase engasgou com o vinho:

- Menina, é mesmo, me esqueci! Quê que foi aquilo? A foto ficou ótima!

Laura contou a aventura da manhã e deixou o melhor pro final:

- E sabe aquele cara do Arpoador que parecia que ia me abordar?

- Sei...

- É o Luiz! O cara instrutor do SUP!

- Men-ti-raaaaaa!!!!

- Eu fiquei roxa quando topei com ele... mas, do jeito que ele agiu, me pareceu que não se lembrou da minha fuga ridícula, graças aos deuses! E foi ele que tirou a foto e me mandou...

Quase 50tonaOnde histórias criam vida. Descubra agora