Cap 15 - Respeitando As Diferenças

38 4 0
                                    

A revelação para os irmãos também foi emocionante e até divertida. Ambos disseram juntos "Eu já sabia!" e em seguida se olharam, gritando: "Verde pra mim!", encostando o dedo na toalha com estampa de palmeiras, e riram e gritaram de novo: "Verde pra mim!", lembrando da brincadeira de infância. Todos se abraçaram e a noite foi maravilhosa. Apesar dos descompassos com Maria, Laura tinha muito amor e orgulho por ela também. E se sentia abençoada com filhos tão incríveis.

André então teve que responder à chuva de perguntas a respeito do namorado. E ele contou.

Se conheceram na faculdade e, apesar de fazerem cursos diferentes, frequentavam os mesmos lugares, bares, baladas por serem gays. O namoro demorou para começar, pois a rotina de Gabriel já era pesada na graduação. Além disso, André tinha ficado com poucos rapazes, ainda resquício da sombra do armário onde tinha se escondido da família. E se mostrava muito travado para expor seus sentimentos. Já Gabriel, apesar de também não ter se revelado ao pai, vivia de forma mais despreocupada. Ele dizia que os pais "sempre sabem", e tinha os que aceitavam e tinha os que não aceitavam. Simples assim...

André, no entanto, não achava tão simples. Conheceu diversas pessoas com histórias comoventes e trágicas de revelação. Pais que as bateram, mães que as expulsaram de casa, parentes que as rejeitaram com nojo... mas também houve quem fosse acolhido e abraçado e aceito pelos seus. E eram essas histórias que o encorajavam a não mais viver uma mentira.

Quando André se formou, o namoro já durava um ano, e resolveram juntar os trapinhos... seria mais em conta financeira e emocionalmente também. Gabriel já tinha se formado após seis anos de Medicina, e agora estava fazendo uma residência médica em cirurgia. Foram morar em Copacabana porque ambos amavam o bairro, e André tinha conseguido um apartamento dos sonhos para eles.

- Morar junto é diferente de dividir um apê com um colega, você sabe, né, bro?

- Você está falando de direitos, Lu? – o irmão acenou com a cabeça – Na verdade, tou meio por fora...

- Bom, a união estável homoafetiva, que é o seu caso, ganhou os mesmos direitos de uma união estável hetero. Isso significa que, mesmo não casando no papel, vocês têm direitos, tipo se um morrer o outro pode receber pensão. E, se se separarem, será pelo regime de comunhão parcial de bens.

- Mas, uma união estável não tem que ter um tempo mínimo de vida em comum?

- Tá interessada também, mana?

- Claro, ué!

- Não, não tem mais essa de tempo mínimo. O que é preciso é que haja uma vida em comum pública, que quem convive com vocês saiba que vocês estão juntos amorosamente, e que têm o objetivo de constituírem uma família. Isso é o mais importante. Porque nem todo mundo que divide um apê é casal, né? Agora, Dedeco, no caso de uma união como a sua, o melhor seria vocês irem num cartório e firmar um contrato de união estável. Dessa forma, vocês vão estar mais protegidos. Eu posso ajudar, se vocês quiserem.

- Tá, beleza, vou conversar com o Gabriel...

- E quando é que a gente vai conhecer ele, filho?

- Mãe, mandei pra ele agora há pouco uma mensagem, e ele ficou muito feliz em saber que tá todo mundo de boa. Então, é só marcar.

E foi marcado.

Alguns dias depois, Laura o conheceu. Ela já tinha visto fotos de Gabriel, mas o achou mais bonito pessoalmente.

Simpático, ele ficou bastante calado no encontro, quase introvertido, só abria um luminoso sorriso ao olhar para André, e presenciar isso deixou seu coração de mãe dourado e morninho. Laura quis saber mais sobre a família do rapaz, mas como sentiu que esse era um assunto complicado, deixou para lá. O que importava era o brilho nos olhos do filho. Para ela, isso bastava.

O primeiro jantar foi só com os dois meninos. Mas outros encontros vieram depois, bem como lanches e almoços não combinados, e tiveram a participação de seus outros filhos com e sem seus companheiros.

Laura se orgulhava de sentir que seus filhos curtiam sua casinha e sua companhia. Até mesmo Maria já estava mais adaptada à separação dos pais. A vida estava sendo generosa com ela, e também com Flávio, que estava tentando seguir com sua vida, buscando um lugar para morar com a ajuda do filho.

O segredo de André, contudo, ainda não tinha sido compartilhado com o pai. Afinal, foi uma vida escondendo sua natureza. "os pais sempre sabem", dizia seu parceiro, mas André não conseguia acreditar que essa máxima se encaixava no pai. Laura o tranquilizava sempre, dizendo que o tempo cura mas também prepara: "Quando você quiser, quando se sentir preparado, a gente conta juntos". Ela sorria e se achava uma pessoa feliz e realizada. Porque seus filhos pareciam felizes e realizados.

Quase 50tonaOnde histórias criam vida. Descubra agora