A revelação para os irmãos também foi emocionante e até divertida. Ambos disseram juntos "Eu já sabia!" e em seguida se olharam, gritando: "Verde pra mim!", encostando o dedo na toalha com estampa de palmeiras, e riram e gritaram de novo: "Verde pra mim!", lembrando da brincadeira de infância. Todos se abraçaram e a noite foi maravilhosa. Apesar dos descompassos com Maria, Laura tinha muito amor e orgulho por ela também. E se sentia abençoada com filhos tão incríveis.
André então teve que responder à chuva de perguntas a respeito do namorado. E ele contou.
Se conheceram na faculdade e, apesar de fazerem cursos diferentes, frequentavam os mesmos lugares, bares, baladas por serem gays. O namoro demorou para começar, pois a rotina de Gabriel já era pesada na graduação. Além disso, André tinha ficado com poucos rapazes, ainda resquício da sombra do armário onde tinha se escondido da família. E se mostrava muito travado para expor seus sentimentos. Já Gabriel, apesar de também não ter se revelado ao pai, vivia de forma mais despreocupada. Ele dizia que os pais "sempre sabem", e tinha os que aceitavam e tinha os que não aceitavam. Simples assim...
André, no entanto, não achava tão simples. Conheceu diversas pessoas com histórias comoventes e trágicas de revelação. Pais que as bateram, mães que as expulsaram de casa, parentes que as rejeitaram com nojo... mas também houve quem fosse acolhido e abraçado e aceito pelos seus. E eram essas histórias que o encorajavam a não mais viver uma mentira.
Quando André se formou, o namoro já durava um ano, e resolveram juntar os trapinhos... seria mais em conta financeira e emocionalmente também. Gabriel já tinha se formado após seis anos de Medicina, e agora estava fazendo uma residência médica em cirurgia. Foram morar em Copacabana porque ambos amavam o bairro, e André tinha conseguido um apartamento dos sonhos para eles.
- Morar junto é diferente de dividir um apê com um colega, você sabe, né, bro?
- Você está falando de direitos, Lu? – o irmão acenou com a cabeça – Na verdade, tou meio por fora...
- Bom, a união estável homoafetiva, que é o seu caso, ganhou os mesmos direitos de uma união estável hetero. Isso significa que, mesmo não casando no papel, vocês têm direitos, tipo se um morrer o outro pode receber pensão. E, se se separarem, será pelo regime de comunhão parcial de bens.
- Mas, uma união estável não tem que ter um tempo mínimo de vida em comum?
- Tá interessada também, mana?
- Claro, ué!
- Não, não tem mais essa de tempo mínimo. O que é preciso é que haja uma vida em comum pública, que quem convive com vocês saiba que vocês estão juntos amorosamente, e que têm o objetivo de constituírem uma família. Isso é o mais importante. Porque nem todo mundo que divide um apê é casal, né? Agora, Dedeco, no caso de uma união como a sua, o melhor seria vocês irem num cartório e firmar um contrato de união estável. Dessa forma, vocês vão estar mais protegidos. Eu posso ajudar, se vocês quiserem.
- Tá, beleza, vou conversar com o Gabriel...
- E quando é que a gente vai conhecer ele, filho?
- Mãe, mandei pra ele agora há pouco uma mensagem, e ele ficou muito feliz em saber que tá todo mundo de boa. Então, é só marcar.
E foi marcado.
Alguns dias depois, Laura o conheceu. Ela já tinha visto fotos de Gabriel, mas o achou mais bonito pessoalmente.
Simpático, ele ficou bastante calado no encontro, quase introvertido, só abria um luminoso sorriso ao olhar para André, e presenciar isso deixou seu coração de mãe dourado e morninho. Laura quis saber mais sobre a família do rapaz, mas como sentiu que esse era um assunto complicado, deixou para lá. O que importava era o brilho nos olhos do filho. Para ela, isso bastava.
O primeiro jantar foi só com os dois meninos. Mas outros encontros vieram depois, bem como lanches e almoços não combinados, e tiveram a participação de seus outros filhos com e sem seus companheiros.
Laura se orgulhava de sentir que seus filhos curtiam sua casinha e sua companhia. Até mesmo Maria já estava mais adaptada à separação dos pais. A vida estava sendo generosa com ela, e também com Flávio, que estava tentando seguir com sua vida, buscando um lugar para morar com a ajuda do filho.
O segredo de André, contudo, ainda não tinha sido compartilhado com o pai. Afinal, foi uma vida escondendo sua natureza. "os pais sempre sabem", dizia seu parceiro, mas André não conseguia acreditar que essa máxima se encaixava no pai. Laura o tranquilizava sempre, dizendo que o tempo cura mas também prepara: "Quando você quiser, quando se sentir preparado, a gente conta juntos". Ela sorria e se achava uma pessoa feliz e realizada. Porque seus filhos pareciam felizes e realizados.
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Quase 50tona
ChickLitLaura estava livre.... Depois de 27 anos de casamento, depois de três filhos, depois de 49 anos de vida, depois de quase 30 anos de trabalho como professora de Inglês - é muito número..., ela estava livre para fazer o que quisesse. Sem amarras nem o...