Dilan me olhou, os olhos como ouro derretido, e eu engoli em seco. Não merecia isso, mas mesmo assim, lá estava ele com a mão estendida me esperando para subir no helicóptero. Estávamos indo para outra alcateia, qual exatamente ainda não sei. Fiquei sentada olhando a paisagem além, embora tenha perdido mais uma vez meu irmão a socialização foi bem-sucedida, consegui conquistar o respeito de meus soldados por mim, e fiz com que acreditassem que um futuro ainda seria possível depois da guerra.
—No que você está pensando? Vai se sair bem na próxima também, nosso povo reage a uma liderança forte e sincera, eles sabem a nossa intenção. Não se preocupe.
Ele preguiçosamente me abraçou e depositou um beijo carinhoso em minha testa, me confortando. O momento seria de pura perfeição se não fosse por Zyan que nos olhava como se estivesse prestes a pôr as tripas para fora. Mostrei a língua em gesto descontraído, o mesmo me ignorou e Dilan riu, e prosseguimos tranquilamente até nosso destino.
Ao descer vislumbrei de uma paisagem bonita, as folhas caídas no chão, constatavam com o céu, arvores sem folhas, um típico outono, porém continuamente lindo. Alcateia Malais, os estrategistas, viemos aqui discutir a melhor abordagem para encarar o conflito eminente, o alfa daqui é o presidente do conselho, eles aconselham o supremo, embora a decisão final seja dele, por gerações os alfas sábios levavam em conta os conselhos de seus anciões.
O alfa de lá despontou a frente da grande porta de madeira maciça, feita exclusivamente para manter o frio do lado de fora, e o calor do lado de dentro.
Oscar fez uma leve reverência, e ergueu sua cabeça com um leve sorriso nos lábios, mas do que jamais o vira expressar.
—Está de volta! É bom te ver.
—Voltei, pelo meu povo e qualquer um que acreditar em mim e minha história.
Entramos e fomos para uma sala de reunião, e contei tudo a ele, cada detalhe angustiante, ele era nossa força de estratégica, um dia meu pai e ele foram amigos. Contei coisas que até mesmo de Dilan escondi, e o vi se encolher discretamente algumas vezes. Mas tudo poderia ser útil, e iria, era nisso que eu me apegava a continuar contando.
—Isso é... - Ele deu uma pausa — Horrível, eu sinto muito por não prever e te poupar desta situação, falhei com um amigo, e com meu alfa.
Ele abaixou um pouco a cabeça, e culpa cintilou nos olhos dele, envergonhado, com o sentimento de insuficiência que o tomava. E isso doeu em mim também, isso foi muito além do que aconteceu comigo, impactou muito mais pessoas do que consigo contar. Fiz um juramento silencioso comigo mesma. Samael Irá se arrepender, se arrepender do dia que moveu seus pulmões para respirar, e vai ser lento e doloroso. Não terei pena, qualquer traço de piedade foi arrancado de mim sob seus açoites.
—Não falhou.
Afirmei, o olhando com toda a convicção que fui capaz de reunir.
—Não falhou com ninguém, eles usaram magia proibida. Não há nada que nenhum de vocês possa fazer. Aquela batalha estava perdida muito antes de se quer começar.
Compreensão assombrou os olhos dele, não por qualquer conforto que minhas palavras pudessem trazer, mas porque sabia. Sabia que magia proibida era impossível de se quebrar, a não ser com a mesma energia, corrompida e obscura.
—Qual foi seu preço, pequena verônica? - Questionou, com cautela.
—Fiz um tratado de sombra. Da mesma natureza de Samael, eu teria o poder de destruição, e com uma certa idade despertaria uma certa habilidade de burlar a magia. Aconteceu na última lua. Em troca, perderia todo parente de sangue vivo no momento do contrato, assim que o visse. Aceitei, pois achei que estavam todos mortos.
Sombra e compaixão cintilaram seus olhos, compreensão e aceitação, sobre meu passado e tudo que precisei fazer, sem julgamentos, e isso me confortou.
—Sinto muito, Veronica, realmente sinto muito. Eu entendo sua atitude, em meio ao desespero, você tentou e achou uma maneira, e sei que te custou muito, mas não é assim que as pessoas vão te ver, vamos trabalhar em você como pessoa pública.
Ele parou um instante, pensando e planejando, uma solução, uma maneira de contornar tudo isso.
—Fiquei sabendo que vocês estão visitando as alcateias, e que Veronica teve um bom encontro com seus guerreiros, isso é ótimo, continuem fazendo isso, para podermos humanizar, e afastar a ideia de assassina sanguinária contra o seu povo, e ressaltar que ela vai matar e derramar sangue sim, mas dos nossos inimigos,
—Eu vou.
Podia jurar que era orgulho nos olhos de Dilan, e isso acalentou algo dentro de mim que ne sabia que era necessário.
—Faremos isso, tem dado certo, todos amaram minha parceira.
Minha, a possessividade nesse termo me fez sorrir, tão típico de alfas.
—Vou levá-los para seus aposentos, teremos uma reunião com o conselho de estratégia, conhecem o caminho.
Ele sorriu.
—É bom te ver Veronica.
—Bom te ver também.
Entramos e o quarto era espaçoso, confortável as janelas estão fechadas, ao lado da cama havia um jardim de inverno, lindo.
Mas cama, só havia uma cama.
Olhei de soslaio para Dilan, que talvez estivesse pensando o mesmo que eu, pois me olhou e esboçou com um sorriso triste.
—Vou pedir para arranjarem outro quarto para mim, fique a vontade.
Eu queria, ficar próxima a ele, ter algum contato físico e proximidade, mas não sei o motivo isso me mata de vergonha e me enche do sentimento de estar vulnerável, mas não é justo nem com ele nem comigo ignorar nossos sentimentos a fim de medos frívolos.
—Não precisa Dilan, vamos dormir juntos.
Estou quente, com vergonha, mesmo parecendo totalmente impensável, somos parceiros, sei que não vamos avançar o sinal, não antes da cerimonia, mas mesmo assim, fico na expectativa da resposta dele.
Espanto, era isso que estava em suas feições, mas feliz, ele estava feliz com isso.
—Vamos sim, princesa.
Sorrimos um pro outro, e eu me senti feliz por ter conseguido dar esse primeiro passo.
Continua...

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Loba Escarlate
Manusia SerigalaQuando tinha apenas 8 anos, foi sequestrada de sua alcateia, levada para aprender lutar e matar, ser uma arma na mão de homens maléficos, o companheirismo deixou de ser um sonho e se tornou um medo. Pensava que matar, para proteger seu povo era a s...