capítulo 7

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— Você é e sempre será o meu maior sonho.

Acordo ouvindo essa frase e sinto minha mão quente, em um movimento ágil me afasto, fico perto da parede e pego um abajur para tentar me defender, suponho que não vai ajudar muito, mas vale a pena tentar.

— Quem é você? O que está fazendo aqui? Se quiser me matar por favor, faça fora de um hospital.

— Eu não quero te matar, por favor largue o abajur, não vou te fazer mal.

Sai de meu canto escuro dentro desse quarto de hospital, que não era mais tão pequeno assim. A cama era maior, e  os travesseiros também pareciam um pouco mais macios, as paredes continham arte, escritas em uma língua que desconheço, traços sobre a superfície, e dores cravadas sobre a pele, não parecia muito diferente.

Olhei para ele, e me encantei em sua pele morena, e seus cabelos negros, a luz fraca da lua que se infiltrava na janela, era a responsável pela pouca iluminação que resplandecia em seu rosto, eu me perdi na imensidão de seus olhos ambares, ele era um alfa. O seu cheiro era como remédio, que me curava a medida em que absorvia o doce aroma, nunca pensei que isso era possível, ele era lindo. Alto e forte, vestia uma camisa social que abraçava seu corpo bem definido, o pequeno quarto azul e branco parecia pequeno, em comparação a ele.

O ar se esvaiu de meus pulmões, e um medo arrebatador me dominou, eu tremia e não conseguia parar, fechei minhas mãos em punho em uma tentativa pífia de esconder minha desvantagem e fragilidade aparente, eu queria fugir correr para um canto do mundo onde ninguém poderia me encontrar, já vi pessoas sendo rejeitadas, a dor era descrita como horripilante, nem de longe queria conhecer essa dor, mas o futuro é algo eminente que nos acompanha todas as manhãs.

Meus olhos estavam prestes a lacrimejar, mas eu contive as lágrimas assim como têm feito diariamente nos últimos 10 anos, não deixaria ninguém me ver chorar, não vou mostrar essa fraqueza a ninguém, minha dor pertence apenas a mim, e a ideia de dividi-la com meu companheiro que vai me rejeitar não me agrada de nenhuma maneira.

Ele era meu companheiro, e meu coração já se partia, seus olhos de alfa estavam brilhando, cintilantes ao clarão da lua,  eu tenho certeza que ele estava prestes a rejeitar, deve ter investigado minha história, e a essa altura já deve estar ciente das atrocidades que eu cometi, e o arrependimento me acerta precisamente, deveria ter me matado há muito tempo, isso teria evitado muito sofrimento.

— Você é meu companheiro? — Perguntei mesmo já sabendo a resposta, agarrada a um curto fio de esperança, de que tudo o que aconteceu tenha sido apenas uma alucinação  causada pelo ataque.

— Sim, sou eu. — Ele disse e seu belo rosto se suavizou. Ele passou a mão pelos seus pequenos cachos, que começavam a se enrolar devido ao cabelo curto, e sentou provavelmente na intenção de me deixar mais confortável.

— Eu entendo seus motivos, não se preocupe, não vou atrapalhar sua vida, muito em breve eu estarei morta, por qualquer um que quiser reincidir as vidas que tirei. — Disse enquanto meu interior se desfazia, e se tornava pó.

— Motivos para fazer o quê? Desculpe invadir sua privacidade, mas fiquei com medo de que alguém pudesse te atacar.

— Se vai me rejeitar, por favor faça logo, assim eu te liberto de uma vez por todas, de uma vida presa a morte.

— Tá de brincadeira? Eu esperei 80 anos, para encontrar você, uma briga de esquina não vai me fazer desistir. Será minha suprema Luna. — Ele sorriu, ao dizer a última parte e eu tentei entender, mas não fazia sentido.

Ele era burro, mas suprema Luna? Ele era o supremo. Em um movimento rápido me ajoelhei, prestando reverência, por isso seus olhos de lobo estavam sempre consigo, ele não era um alfa comum.

— Se levante por favor, não se curve. Você é minha companheira não precisa disso. — Ele gentilmente segurou meu braço, mas isso me matou.

Um gesto causado pelo impulso, eu me transformei e corri para um canto do quarto, na defensiva, eu iria ser morta por tal desrespeito supremo, mas era o toque de um homem, que me relembrou de noites escuras, repetidas vezes, de toques indesejados e punições cruéis.

— Por favor, não quis a assustar, não precisa ficar com medo. — Ele se afastou gradativamente, devagar enquanto falava.

— Vou deixá-la sozinha, não precisa temer ninguém te fará nada.

Ele abriu a porta e saiu, me deixando só com meus grilhões. Minha mente era um labirinto, e eu nunca achei a saída, em todas as noites que passei acordada, eu percorria os caminhos e me esquecia dos meus passos, afundei diariamente em um poço de lamentações, meus pensamentos eram grilhões e a culpa as correntes, que me puxavam para fundo. Não importa quanto eu me debata, eu nunca cheguei a superfície, pois, estava soterrada de desespero e solidão.

Tudo o que eu mais queria, era poder me livrar de mim mesma, e escapar na dor, mas eu não posso fazer isso por mim mesma, não tenho esse direito.

Eu arranquei a vida de muita gente, não é injusto que eles também arranquem a minha, lágrimas eram companheiras leais sempre assistiram, com um golpe em meu interior.

Continua...

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