16

390 43 2
                                        

Gwyn estava sentada no meio da cama que dormiria naqueles dias no Refúgio do Vento, o quarto não era grande, mas muito maior que o dormitório dela na Biblioteca, a cama era confortável, mas parecia estar cheia de espinhos e percevejos a mordendo.

Ela não conseguia parar de pensar na luta de horas atrás, nas falas e no jeito daquele macho que a olhava como se fosse um pedaço de carne, aquilo a enjoava, a estava deixando ânsia de vômito, e para piorar aquilo a estava dando gatilhos a fazendo se lembrar de sua última noite em Sangravah.

A sacerdotisa se encolheu abraçando os joelhos, as mãos segurando os braços onde as unhas se afundaram com força chegando a feri-la. Gwyn tremia e suava frio, trincava os dentes com força e apertava os olhos, tentava respirar mas o ar não parecia entrar em seus pulmões.

Se continuasse naquela cama e não procurasse alguém para ajudar a se acalmar iria entrar numa crise forte, mas Emerie estava dormindo no sofá da sala depois de ter bebido tanto vinho que a deixou impossibilitada de ir para casa. Nestha deveria estar perdida nos braços de Cassian, então, só havia sobrado uma pessoa.

Gwyn saiu rapidamente da cama e foi para a porta da porta a abrindo tão rápido que a fez bater contra a parede, saiu para o corredor e fora para a porta quase à frente da porta do quarto dela. Parou ali em frente e começou a bater freneticamente, sentia lagrimas incontroláveis escorrendo pelo rosto, pingando do queixo.

A porta se abriu nem segundos depois rapidamente a fazendo abaixar o punho e olhar para cima, para o rosto de Azriel que ficou surpreso ao vê-la, as sombras dele dispararam para Gwyn se enroscando nela.

Azriel não usava nada além de uma calça preta e confortável, o peito dele arfava pesado, o rosto assustado.

— Me ajuda... — ela disse baixinho, quase sem voz e Azriel prontamente a puxou para si a abraçando, fazendo com que Gwyn se agarrasse em si e chorasse.

— Está tudo bem, eu estou aqui — ele disse enquanto acariciava as costas dela cobertas pelo tecido de algodão da camisola branca.

O macho apoiou a boca sobre o topo da cabeça dela e Gwyn respirou fundo, aliviada e encolheu os ombros a fim de ficar mais aconchegada a ele que apertou mais o abraço fechando as asas em torno de Gwyn, como se fizesse uma muralha para protege-la de tudo, e aos poucos aquele sentimento ruim fora a deixando. 

***

Era comum que Azriel não conseguisse dormir, mas naquela noite, estava sendo praticamente impossível, a cama que devia estar confortável parecia cheia de agulhas, uma sensação estranha de angústia no peito e quando ouviu aquelas batidas desesperadas na porta correu para ali.

O coração dele apertou ao ver o rosto molhado de Gwyn, os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar, bochechas e nariz avermelhados e quando ela pediu por ajuda não sabia o que fazer além de puxar ela para aí e acolhê-la bem apertado contra seu corpo. Ela estava gelada, realmente fria como não sentiu antes, ele sentiu a urgência de aquecer o corpo dela e quando Gwyn fora ficando mais calma, ele também fora.

E agora, eles estavam deitados juntos na mesma cama, ela deitada contra o peito dele, as pernas enroscadas nas dele e os braços apertados em volta de Azriel que enrolava as mechas do longo cabelo castanho acobreado nos dedos.

Azriel olhava para o teto e afagava a nuca dela, ouviu o suspiro profundo de Gwyn.

— Eu me sinto patética — ela disse. — Me  sinto fraca e inútil quando isso acontece... Do que adianta saber me defender fisicamente sendo que não posso lutar contra essas lembranças? Contra esse sentimento ruim?

— Você não é fraca — disse Azriel ainda encarando o teto.

Ela soltou o ar pelo nariz como num riso.

— Será que não?

— Eu tenho certeza que não — ele abaixou o olhar para encontrar com o dela. — Essas lembranças não vão desaparecer, infelizmente, mas você pode lutar contra elas, não sentir medo delas e você já faz isso, mas tem vezes... Perdemos nossas batalhas internas.

O olhar dela dançava com o dele, mas então fora para a mão de Azriel que afagava o antebraço dela. Gwyn se ajeitou na cama virando e pegou a mão dele entrelaçando seus dedos, os deslizando pela pele cheia de cicatrizes.

— O que aconteceu com você? — ela perguntou e Azriel suspirou.

— Acho que sabe que sou bastardo — Azriel disse segurando a mão dela. — Meu pai é uma lorde illyriano, ele já era casado e tinha dois filhos quando eu nasci. Ele me tirou da minha mãe e me trancou numa cela sem janelas, e fiquei lá por muito tempo... Meus meio-irmãos uma vez acharam interessante testar a minha habilidade de cura e jogaram óleo em minhas mãos e fogo... Se não fosse o guarda escutar meus gritos eu teria morrido.

Sentiu o toque molhado e quente das lágrimas de Gwyn caindo sobre o peito e olhou para ela, não havia pena ali, apenas tristeza.

— Quantos anos você tinha? — ela perguntou com a voz baixa.

— Acho que uns 8 anos, eu não lembro mais tão bem — ele disse.

— Por que fizeram isso com você?

— Eles não tinham muitos motivos para me machucar, apenas faziam e gostavam — soltou a mão de Gwyn e a levou só rosto dela limpando as lágrimas. — Mas depois que eu cresci e conheci Rhysand e Cassian, depois de nos tornamos guerreiros, fomos até meus irmãos e demos uma surra neles.

Ela abriu um pequeno sorriso.

— Mais do que merecido — disse levando a mão ao braço dele e afagando os dedos ali. — As vezes noto que tenta esconder elas.

— Não são muito agradáveis de se olhar.

— Eu não acho isso — a sacerdotisa segurou a mão dele e roçou o rosto contra ali fechando os olhos. — Pra mim, elas são lindas.

Azriel entreabriu os lábios ao ver Gwyn beijando sua mão com carinho, o peito dele ardeu, algo dentro dele cantou e quando ele menos percebeu tinha empurrado Gwyn contra a cama e a beijado com vontade.

Gwyn aceitou o beijo, as mãos foram aos cabelos de Azriel enterrando os dedos entre os fios negros, a boca deslizava contra a dele e a língua dela dançava lentamente com a dele, ela gemia baixinho. Ele mordeu o lábio inferior dela o puxando entre os dentes antes de voltar a beija-la e o joelho fora afastando as pernas da sacerdotisa para se colocar entre elas.

— Espera — ela disse parando o beijo. — Eu... Eu não quero.

Azriel respirou fundo e assentiu com a cabeça e Gwyn o deu um beijo no rosto e o abraçou fazendo com que o macho agora deitasse com a cabeça contra o peito dela escutando as batidas do coração da fêmea que lhe acariciava os cabelos e costas.

Gwyn começou a cantar baixinho, uma voz doce e meiga, uma voz que fazia as sombras de Azriel cantarem de volta e ele se acalmar por dentro, tanto que o sono finalmente veio e ele pode dormir com ela segura em seus braços.

Corte de Adagas e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora