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Não era novidade que a notícia de que Gwyn estava noiva de Azriel se espalhasse rapidamente, então, todas as valquírias e sacerdotisas sabiam, suas amigas estavam literalmente eufóricas e não achou justo com elas acabar com os planos de uma linda e exuberante cerimônia, mas Gwyn estava dando um jeitinho sutil de fazer com que ela concordassem com as ideias dela.

Ela não poderia estar mais feliz e mais animada com o futuro, logo mais ela seria a Senhora... Alguma coisa, não sabia o sobrenome de Azriel e ele nunca fez questão de mencionar se tinha um pelo fato de ser bastardo, mas aquilo não importava, ela seria a esposa dele em poucos meses.

Gwyn suspirou enquanto subia as escadas até a Casa depois de um longo dia de trabalho na Biblioteca e com Merill, estava louca para chegar em casa, tomar um banho, fazer carinho nos pelos macios de sua gatinha e descansar.

Ela sempre encontrava Azriel na sala de estar para que ele a levasse de volta, bom, era meio que óbvio que eles iriam acabar morando juntos, afinal, não conseguiram ficar longe do outro. Mas, ao invés de encontrar Azriel na sala de estar da Casa ela encontrou outro macho sentado no sofá.

A luz dourada do final do dia entrava pelas enormes janelas iluminando os cabelos ruivos feito fogo de Lucien e sua pele bronzeada escura, o macho estava com o corpo levemente curvado para frente, cotovelos nos joelhos e as mãos unidas esfregando uma na outra bem devagar, o olhar estava perdido num ponto fixo no chão.

— Lucien, você por aqui? — disse Gwyn entrando na sala e fazendo com que Lucien prontamente a olhasse e se levantasse tão rápido que até a deixou surpresa.

— Oi, Gwyn — ele disse com a voz baixa e um pouco engasgada devido ao nervosismo. Via que as mãos dele deslizavam sem parar pelas coxas secando as palmas no tecido da calça marrom clara.

— Você está bem? — perguntou ela dando um sorriso amigo e se aproximou mais.

— Sim, estou — ele respondeu olhando para o rosto dela. — Eu vim.... Eu vim conversar com você a respeito de algo muito, muito importante.

— Sério? O quê? — perguntou colocando uma mão no cotovelo de Lucien e os dois se sentaram no sofá. — É sobre a Vassa? Koschei está tentando pegar ela de volta?

— Não, ainda não... — Lucien respirou fundo e olhou para a mão de Gwyn que estava sobre o colo da sacerdotisa enquanto a outra continuava no braço de Lucien.. — É sobre o seu pai, Gwyn.

Os olhos de Gwyn se arregalaram e ela pode sentir a barriga fria, as mãos tremeram um pouco e ela as recuou mais para o colo.

— Você conhece ele? — perguntou baixinho e Lucien mais uma vez deu um longo suspiro, ele fechou os olhos e abaixou a cabeça, o cabelo longo pendendo.

— Mais do que você imagina — ele disse e então olhou nos olhos de Gwyn. — Eu não sei como dizer isso sem te assustar...

— Tudo bem, pode falar, eu aguento — ela disse mesmo tremendo por dentro.

Nunca fora uma urgência saber quem era seu genitor, mas ter alguém em sua frente que sabia quem era e que poderia saber o paradeiro dele fazia uma chama esquecida dentro de Gwyn se acender.

— Gwyn... Sou eu — disse Lucien olhando seriamente para ela.

Gwyn piscou os olhos algumas vezes, ela inclinou a cabeça para o lado ainda processando aquela frase.

— Como assim?

— Eu sou seu pai — disse Lucien novamente e a reação de Gwyn fora automática, ela se levantou rapidamente do sofá se afastando dele, levou uma mão sobre o estômago que estava revirando devido ao nervosismo.

— C-Como assim? — a voz dela saiu gaguejada, as dedos apertavam o tecido do manto azul pálido e Lucien se levantou do sofá bem devagar, com medo de assusta-la ainda mais.

— Há cerca de 30 anos, eu e uma fêmea desconhecia tivemos... Um encontro predestinado durante o Calanmai. Eu não me lembro do nome dela, na verdade não me lembro se cheguei a perguntar antes de nos deitarmos em meio ao frenesi do ritual... Mas eu sei que você se parece muito com ela — disse ela fazendo Gwyn arfar e levar uma mão sobre a boca. — Eu não sabia, Gwyn, eu não tinha ideia de para onde aquela fêmea foi depois da cópula e não me importei em procurar, mas se eu soubesse... Se soubesse...

Lucien mordeu o lábio inferior com força, era possível ver lágrimas inundando os olhos dele.

— Eu teria ido até vocês — a voz dele saiu trêmula e falha.

Vocês.

O choro que inrrompeu por Gwyn não foi nada bonito, não, era feio e barulhento, era doloroso. Quantas vezes quando criança ela e Catrin não falavam sobre o pai? Às vezes durante a noite quando não conseguiam dormir ficavam imaginando ele, como ele seria, que seria um macho lindo, grande e forte e que as amaria incondicionalmente, que as compraria mil bonecas e mil vestidos, que contaria histórias na hora de dormir, que faria carinho em seus cabelos... E agora, ele estava bem em frente a Gwyn, sem Catrin ao lado dela.

— Desde quando? — perguntou Gwyn entre os soluços. — Desde quando você sabe?

— Algumas semanas — respondeu Lucien a fazendo grunhir de raiva. — Acredite em mim, eu queria ter contado antes, eu juro, mas achei melhor para nós dois que aguardasse um pouco... Para me acostumar com isso e com... Com morte de sua irmã.

Por mais que Gwyn quisesse firmar os joelhos ela não conseguiu e acabou caindo sobre eles, como se estivesse desmontado, ambas as mãos sobre a boca prendendo aquele choro doloroso e barulhento.

Lucien rapidamente fora até ela ficando de joelhos em sua frente, ele pegou em duas mãos as puxando para o colo dele e as segurando, ele olhava paga o rosto molhado e corado de Gwyn.

— Eu sinto muito que só tenhamos nós conhecido agora, eu sinto muito, muito, muito — ele apertava as mãos dela. — Mas agora estou aqui, Gwyn, e sempre vou estar, não vou deixar você nunca mais — ele levou uma mão ao rosto dela fazendo com que o olhasse. — Sei que está tarde para tentar ser um pai, eu sei disso, mas eu prometo que nada mais vai te machucar, por que eu vou estar.com você.

Gwyn soltou o ar trêmula pela boca e levou a mão ao pulso de Lucien segurando ali.

— Por que o destino não fez você aparecer antes? Por que só agora que... Que... — ela chorou ainda mais ao pensar que estava sozinha e sem Catrin.

— Eu não sei — a voz de Lucien era baixa e tranquila, mesmo que trêmula pela vontade de se derramar em lágrimas.

Ele entrar abraçou Gwyn mantendo o rosto dela contra seu peito e ela se encolheu contra ele, se encolheu contra o calor do pai.

— Mas agora estou aqui e não vou te abandonar, eu jamais vou te abandonar.

Lucien encostou a boca contra o topo da cabeça de Gwyn e ela fechou os olhos de entregando mais ao choro e aquela dor. Era como se o luto pela perda de Catrin tivesse retornado, mas também sentia raiva, não raiva de seu pai, mas raiva do destino que o fez encontrá-la tarde demais.

Corte de Adagas e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora