04

464 46 10
                                        

Como o combinado, Azriel fora até a Biblioteca onde encontrou Gwyn que estava sentada a uma das mesas, ela derretia numa vela cera vermelha, deixou três gotas caírem em cima do envelope e depois com o carimbo fechou a carta quando a cera se endureceu.

— Acabou? — perguntou ele a fazendo sobressaltar de leve e o olhar assustada.

— Você precisa parar de aparecer assim do nada — respondeu ela se levantando e Azriel segurou o sorrisinho que queria dar. — Mas, aqui está.

Esticou a mão que segurava a carta para Azriel que a pegou e ficou olhando para o envelope.

— Algum problema? — perguntou ela inclinando a cabeça para o lado fazendo a trança do longo cabelo pender.

— Não quer vir comigo? — perguntou, novamente palavras que ele não pensou direito.

Gwyn arregalou os olhos azul-mar levemente, ela o olhava decima a baixo rapidamente, sobrancelhas erguidas, testa enrugada.

— Como é? — a voz dela era baixa e confusa.

— Eu estou indo para as Terras Humanas para uma reunião com a rainha humana, talvez você pudesse vir — disse ele.

— Mas por quê?

— É uma chance de sair um pouco daqui — explicou ele erguendo o olhar para o dela. — E o local onde a rainha e os outros estão não é movimentado, tem apenas eles três literalmente.

Os lábios avermelhados de Gwyn se partiram, ela parecia estar pensando, estar tentada a aceitar.

— Bom... Eu não vou te atrapalhar? — perguntou juntando as mãos e apertando os dedos aflita.

— Acredito que não.

— E carta? Como vai devolver?

— Peço para entregarem.

Os dois se encararam e um silencio de um minuto se instalou.

— Não precisa aceitar...

— Eu sei, mas — ela deu um sorriso nervoso. — Como você disse, é uma chance de sair um pouco... E se é um lugar tranquilo... — ela mordeu o lábio inferior deslizando os dentes pela pela avermelhada e molhada.

Os olhos de Azriel prestaram atenção ali mais do que ele deveria e depois olhou nos olhos dela que brilhavam em animação.

— Eu vou — disse ela o deixando surpreso.

— Certeza?

— Não me faça pensar duas vezes — retrucou ela que olhou para os trages de couro illyriano que usava. — Posso ir assim ou tenho que trocar de roupa?

— Assim está ótimo — respondeu ele a fazendo dar de ombros. — Vamos então.

Gwyn assentiu com a cabeça, respirou fundo e começou a segui-lo pela Biblioteca, ao passarem por Clotho a sacerdotisa avisou que estava saindo e a fêmea encapuzada deu um largo sorriso e a desejou sorte. Azriel por outro lado ficou mais focado na animação estranha de suas sombras que não pararam de dançar a sua volta desde quando Gwyn começou a acompanhá-lo.

***

Gwyn estava nervosa antes de chegar até às Terras Humanas, quando teve que segurar a mão de Azriel para que ele os atravessasse até lá - ou o que quer que ele fazia para ir de um lado para o outro daquele jeito - achou que o coração fosse parar ao sentir a mão dele envolvendo a sua.

Era fria, um pouco áspera e com calos, sentiu a testura das cicatrizes e Gwyn não se sentiu incomodada, muito pelo contrário, ela até gostou da pensão geladinha na sua pele e a pressão da mão dele em volta da dela, mas era claro que jamais diria algo sobre aquilo.

Corte de Adagas e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora