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Pelo visto Rhysand e Feyre ainda ficariam para o jantar, então as conversas e os detalhes da luta estavam sendo contados sem parar e era ótimo ver as garotas contando, como quando Nestha quase arrancou o braço do oponente dela, ou quando Emerie derrubou o primo, Dion, no chão e o encheu de socos, quando Feyre imobilizou o garoto illyriano que se rendeu, e Gwyn, ela havia conseguido desequilibrar o macho o bastante para que ele caísse desarmado sobre os joelhos e apontou a espada bem para o meio da testa dele.

Azriel gostaria muito de te visto aquilo, ver as quatro mostrando o que as fêmeas da Corte Noturna eram capazes, ver Gwyn mostrando a valquíria que era, mas se ele visse o macho a ferindo, se o visse abrir aquele corte na bochecha ou no braço dela, perderia a cabeça.

Notou que a sacerdotisa havia saído alguns minutos da sala, as sombras o avisaram que ela estava sentada nos degraus do lado de fora, então, se levantou e fora até lá.

Assim que saiu pela porta viu Gwyn sentada no primeiro degrau descendo, por cima do couro illyriano um casaco grosso e quente, os cabelos agora estavam soltos e parcialmente unidos por causa do frio, o ar saia condensado nas vias áreas dela e as sombras foram diretamente para ali de enrolando na fumaça branca avisando Gwyn que ele estava ali.

Ela o olhou por cima do ombro e deu um sorriso pequeno e depois voltou a olhar para frente.

- Está frio aqui fora, é melhor entrar - disse ele e a fêmea suspirou.

- Está tudo bem, eu gosto do frio - ela disse se abraçando e deslizando as mãos pelos braços. - Por que você foi embora?

Azriel notou um pouco de magoar no tom da voz dela, se aproximou e se sentou ao lado de Gwyn. O rosto dela estava sério, os olhos fixados na vila mais a baixo, as bochechas vermelhas decido ao frio assim como a ponta do nariz.

- Eu tive que resolver uma coisa - disse ele.

- E era urgente? - ela apoiou os cotovelos sobre os joelhos enquanto ainda se abraçava.

Azriel mordeu o lábio inferior sutilmente e olhou para a mesma paisagem que Gwyn assistia.

- Sim - se lembrou da raiva que sentia vendo aquele macho subestimar Gwyn e a provocar com palavras sujas. - Se eu não saísse logo, iria acontecer uma desgraça.

Gwyn soltou o ar pelo nariz como num risinho.

- Eu nem sei como eu venci - ela disse e respirou fundo soltando o ar pela boca fazendo fumaça branca sair dali, as sombras disparando até ali e depois voltando para ele. - Eu só sei que estava tão nervosa, com tanta raiva...

O brilho de lágrimas nos olhos dela o deixou levemente em alerta.

- O jeito que ele olhava, o jeito que falou comigo... O que ele disse no meio da luta - disse ela tremendo e fechando os olhos. - Me fez lembrar daquela noite, daqueles machos... Daquele primeiro que...

A voz falhava, tentava não chorar, não mostrar fraqueza, e Azriel podia sentir como aquilo ainda a machucava. Ele se sentou mais perto dela, o braço passou por seus ombros e a asa direita se fechou em volta dela a protegendo do vento frio.

Gwyn deixou que o choro saísse de dentro dela, escorou o rosto contra o peito de Azriel e o abraçou. Ela tremia, soluçava e gemia baixinho.

- Eu queria que aquela noite nunca tivesse existido - ela disse entre os soluços e o peito de Azriel doeu que a apertou mais contra e afagou o braço dela com a mão.

Suas sombras estavam em volta de Gwyn, envolvendo ela da mesma forma que sua asa a envolvia, a protegendo.

- Eu sei - ele disse e ela fungou em meio ao soluço roçando o rosto contra o couro da armadura dele.  — Mas você venceu, e isso é o que importa.

Ela assentiu com a cabeça.

As sombras avisaram ao mestre para que olhasse para a janela da sala e quando ele o fez viu as faces mais do que curiosas dos irmãos e amigas assistindo os dois.

Os olhos de Rhysand só faltavam piscar como literais estrelas, o rosto dele não disfarçava o que Azriel sabia que estava pensando. Cassian sorria largo feito um idiota, Feyre ainda parecia confusa com o que via, Emerie sorria e mordiano lábio inferior, inquieta como uma criança, e Nestha... Os olhos dela eram severos, a face seria, sombrancelhas franzidas.

Azriel soltou um riso baixo voltando a olhar para frente.

— O que foi? — perguntou Gwyn erguendo rosto para ele.

— Estão nos vigiando — disse ele e a sacerdotisa ergueu as sobrancelhas.

Quando Gwyn olhou para a janela todos rapidamente saíram dali, mas deixando  óbvio que espiavam. Aquilo as fez rir e limpar as lágrimas, depois encostou a cabeça no ombro de Azriel.

— Acho melhor a gente entrar — disse ela e Azriel assentiu com a cabeça, a mão apertando de leve o braço dela.

Se levantaram e voltaram para dentro da casa onde foram recebidos com sorriso falsos e inocentes, como se não estivessem os espiando havia pouco tempo, mas, tanto Gwyn quando Azriel deixariam aquilo passar, afinal, nenhuma deles sequer desconfiava do que já haviam feito, e o encantador de sombras tinha que admitir que gostava daquele segredo.

Corte de Adagas e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora