Elain Archeron andava em direção ao jardim para cuidar de suas rosas e demais plantas, a mente dela estava distante, ou talvez não tão distante, estava no macho e na fêmea que sequer apareceram para tomar café da manhã. Tinha que ser sincera que desde quando viu o colar no pescoço de Gwyneth ela sabia que tinha algo a mais ali, algo que nem a sacerdotisa e nem Azriel viam ainda, e então, na noite anterior ao entrar na sala e ver eles juntos, compartilhando o mesmo cheiro, Azriel sequer a olhando... Ela teve certeza de que fora uma tola.
A fêmea suspirou fundo e sentiu o cheiro de canela e folha frescas, ela soube no momento em que seu coração disparou quem era. Elain olhou na direção da pequena sala de leitura onde Lucien estava sozinho, andando de um lado para o outro na frente das janelas de vista para o Sidra e os jardins de Elain.
Ela podia sentir que ele estava aflito, extremamente aflito, não só por aquele laço que os unia, mas também por que o macho não parava de roer o canto das unhas.
Elain poderia passar direto e ignorar como sempre fazia, mas aquilo o que ele estava sentindo era tão intenso que mesmo seu laço fraco passava para ela, então, deu dois passos para dentro daquela sala.
- Lucien - chamou com a voz baixa, como se tivesse receio de dizer o nome dele e o macho a olhou assustado, olhos arregalados como se nunca tivesse ouvido a voz dela antes, nunca a tivesse visto. - Você está bem?
Ele piscou algumas vezes sem entender o que estava acontecendo.
- Eu... Eu acho... - ia dizendo mas bufou desistindo. - Não sei, sinceramente, não faço ideia.
Ele continuou longe dela, passou as mãos pelos longos cabelos acobreados, Elain nunca tinha percebido como eram de uma cor ruiva viva como fogo.
- Bom, você é minha parceira - ele disse e Elain quis sair correndo da sala. - Então acho que deveria saber...
- Saber o que? - perguntou já na defensiva, se ele notou, não transpareceu.
- Gwyn... Ela... Ela é minha filha - ele disse baixinho e o queixo de Elain caiu na hora.
- Sua filha? - perguntou e ele assentiu com a cabeça uma vez. - Como assim? Desde quando?
- Desde sempre, pelo visto - deu um riso nervoso. - Eu estou apavorado, desesperado...
As peças aos poucos foram se encaixando na mente de Elain que ficou ainda mais surpresa.
- Por isso saiu ontem do jantar - ela disse baixinho e ele assentiu.
Elain olhou para trás averiguando se ninguém vinha vindo e entrou mais dentro da sala.
- Você não fazia mesmo ideia?
- Não, pela Mãe, Elain, como eu iria saber? Eu e a mãe dela fomos escolhidos pela magia durante o Calanmai, eu não fazia ideia quem era ela, não sabia e não tinha interesse para onde foi depois... Claro que se eu soubesse, por um milagre que fosse, que eu tinha duas filhas... - ao dizer essa última frase Lucien engasgou, como se uma dor lacerace seu peito e ele mordeu o lábio inferior voltando a olhar para fora. - Se eu soubesse delas teria feito de tudo para ficar com elas, para evitar que...
Elain viu o queixo e a mandíbula dele tremerem. Como ele podia sentir aquilo sendo que sabia nem há uma noite que era pai de Gwyn e da falecida irmã? Como ele podia se importar tanto? Como podia sofrer?
- Eu só quero dizer a Gwyn quem eu sou, só quero poder segurar ela nos meus braços... - Lucien respirou fundo. - E dizer que agora eu estou aqui e que jamais vou deixá-la.
Algo aqueceu o peito de Elain e ela pode ver Lucien de uma forma que não tinha visto antes.
- Desculpe estar falando essas coisas para você, tenho certeza de que não tem o mínimo de interesse...
- Eu tenho.
As palavras saíram mais rápidas do que ela pensou em dizer ele a olhou com surpresa.
- Eu acho que devia contar a ela - continuou Elain.
- Eu também, mas Rhys e Feyre acham melhor eu esperar um tempo, esperar que toda essa ideia se assente em minha cabeça, que eu também lide com a ideia de que aqueles desgraçados mataram a minha filha...
O peito de Elain se apertou, ela não sabia qual era a dor de perder um filho, mas se fosse parecida com a dor de perder um pai, ela entendia Lucien.
- Então, o que vai fazer? - perguntou ela e Lucien respirou fundo, muito profundamente, fechou os olhos depois se acalmou de alguma forma.
- Vou voltar para as terras humanas agora, se eu ficar, assim que Gwyn sair daquele quarto eu irei fazer a besteira de dizer tudo a ela. Ficarei algumas semanas fora e depois vou voltar e contar tudo.
- Se acha que é o certo - disse Elain segurando as mãos em frente ao corpo, ela olhou para o chão e depois deu um pequeno sorriso. - Acho que essa é a primeira vez que realmente conversamos.
Lucien ergueu as sobrancelhas a encarando e a femea pode ver as bochechas dele corando de leve, o que foi de certa forma fofo.
- É, isso é verdade... - ele disse levando a mão à nuca e afagando ali. O músculo do braço ficando marcado só tecido da túnica verde musgo. - Mas, enfim, eu tenho que ir logo.
Abaixou o braço de Elain acompanhou com o olhar cada centímetro de movimento.
Lucien andou até ela, mas fez um desvio longo pela esquerda.
- Até logo, Elain - disse ao sair da sala e tudo o que ela conseguiu respondeu fora um ofego baixo, como se sentisse aquela corda amarrando o estômago e puxando até ele junto de um frio na barriga.
Elain levou a mão sobre o estômago e respirou fundo, trêmula, aquelas sensações queno laço passava para ela, escutar o coração de Lucien toda a noite quanto ia dormir a assustava, mas depois daquela conversa, depois de ver aquela parte do parceiro, ela sentiu uma grande vontade de ir com ele para as Terras Humanas.

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Corte de Adagas e Sombras
Fiksi PenggemarFanfic da série de livros pertencente a Sarah. J. Maas com foco no casal Azriel e Gwyn. 🌌 Gwyn é uma sacerdotis, Valquíria da Corte Noturna e Carynthian que vive na Biblioteca abaixo da Casa do Vento em Velaris. Azriel é um encantador de sombras...