𝟎𝟖. gladiola, o poodle cor-de-rosa

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capítulo 08. 
gladiola, o poodle cor-de-rosa

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TODOS ESTÁVAMOS INFELIZES NAQUELA NOITE. Depois de fugir de três vovózinhas demoníacas e lutar contra a Medusa, meu corpo latejava, implorando por descanso. Acampamos no bosque, a cem metros da estrada principal, em uma clareira pantanosa que as crianças do lugar obviamente vinham usando para festas. O chão estava repleto de latas de refrigerantes amassadas e embalagens de fast-food.

Tínhamos pego um pouco de comida e cobertores da tia Eme, mas não ousamos acender uma fogueira para secar nossas roupas molhadas. As Fúrias e a Medusa já haviam proporcionado animação suficiente para um dia. Não queríamos atrair mais nada.

Decidimos dormir em turnos. Percy se prontificou a ser o primeiro a ficar de guarda.

Annabeth enroscou-se sobre os cobertores perto de mim e já estava roncando quando sua cabeça tocou o chão. Eu, por outro lado, encarei o céu em alerta. 

Por mais que tentasse dormir, minha mente estava um turbilhão, e eu temia fechar os olhos e ter outro daqueles pesadelos. O céu estava poluído, não dava nem para ver as estrelas. A saudade do acampamento me assolou. Heitor e eu costumávamos escapar no meio da noite e escalar o teto do chalé para observar as constelações, assim como mamãe gostava de fazer.

Me contive para não chorar. Como eu queria o abraço do meu irmão agora.

Desisti de tentar dormir, movimentei a cabeça de Annabeth com cuidado, colocando minha mochila como travesseiro para dar suporte ao seu pescoço, me enrolei no cobertor e andei silenciosamente até uma árvore. Até pensei em escalá-la, mas meus músculos estavam cansados demais então me contentei com sentar sobre a raíz e usar o tronco como apoio para as costas.

Percy e Grover conversavam sobre algo e para me distrair, passei a prestar atenção na conversa.

    — Como vamos entrar no Mundo Inferior? — Percy perguntou. — Quer dizer, que chances temos contra um deus?

Nenhuma, pensei.

    — Eu não sei — admitiu o sátiro. — Mas antes, na casa da Medusa, quando você estava vasculhando o escritório dela, Annabeth e Helena estavam falando sobre...

    — Ah, deixe eu adivinhar, Helena ajudou Annabeth a montar um plano? — falou com desdém. — Qual das duas falou mal de mim dessa vez?

Me encolhi no tronco de árvore e encarei meus tênis enlameados. As palavras de Percy me atingiram como flechas nas costas, fazendo um nó subir à minha garganta.

    — Não seja tão duro com elas Percy. Annabeth teve uma vida difícil e Helena perdeu tudo. Heitor é a única coisa que lhe restou.

    — Eu não tenho um problema com a Annabeth. Pode até ser irritante toda essa briguinha por conta dos nossos pais, mas pelo menos ela não muda de humor a cada segundo!

Abracei meus joelhos, sentindo o nó na garganta ficar ainda maior.

    — Olha, Percy... Helena pode parecer mudar de humor com facilidade, mas ela lida com muita pressão todos os dias. Ela e Heitor tiveram uma infância difícil, e por mais que não queira admitir ainda se culpa por muita coisa...

    — O que quer dizer? Que culpas?

Estava grata por Grover tentar me defender, mas não fiquei feliz por ele ter tocado naquele assunto. Só de lembrar o que aconteceu naquela noite me deixava nauseada.

SUNSHINE | percy jackson¹Onde histórias criam vida. Descubra agora