Capítulo 4 (POV: REGULUS)

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POV: REGULUS

-Eu não tirei ele de você. Ele está aí. É só você ir falar com ele. - James responde.

É uma resposta tão fácil e genuína. De alguém que não sabe de nada. De alguém que acredita na paz mundial, que preenche datas especiais com adesivos em sua agenda, que acha que o mundo se limita ao que ele vê. Que tira conclusões baseadas puramente à olho nú. Que sempre acredita no lado bom das pessoas.

Ele não sabe de nada.

-Não é assim que as coisas funcionam.

-Claro que é. Você que está complicando as coisas. Ele está aí. Não morreu, não foi sequestrado, não virou fantasma nem nada disso.

Esfrego o espaço entre as minhas sobrancelhas, me segurando para não voltar a gritar.

-Tá. Potter. Okay. Então tá. Esquece.

Ele se levanta rapidamente, dando um passo a frente.

-Não, vamos conversar.

-Não tem como conversar com você. Você não entende nada.

-Então me explica. - Ele diz, como se fosse simples.

Suspiro cheio de rancor. Meu e dele.

Digo devagar:

-Você tirou a única coisa que eu tinha naquela casa. Eu só tinha ele, James. E agora eu to sozinho. - Minha voz volta a tremer.

-Eu não te entendo. Você que escolheu ficar.

-Merlim! Não! James, quando você vai entender? Eu não escolhi ficar. Eu fui obrigado. Eu não sou como o Sirius! Eu sou o filho reserva. Eu sou aquele que não pode fugir. Eu sou o que restou. O Sirius só pode ir embora porquê eles tem outro filho pra obrigar a ser o que eles querem que o herdeiro deles seja. E porquê... eu não tenho coragem o suficiente pra ir embora. "Você que escolheu ficar"? James, eu por acaso tinha pra onde ir!? De novo, o Sirius tinha, não eu!

James franze suas sobrancelhas devagar. Parece que ele só está entendendo agora. Ele realmente não sabe de nada.

Ele realmente, esse tempo todo, me vê como o vilão. É o que eu nasci pra ser.

É o papel que eu interpreto. Como posso culpá-lo?

James parece confuso além da conta. Ele pisca diversas vezes e abre e fecha a boca duas vezes antes de realmente falar.

-Nesses dois dias. O que realmente aconteceu? - Ele parece... preocupado.

Respiro tremulo, o ar entrando e saindo dos meus pulmões com mais velocidade do que eu posso aguentar. Meu peito dói o bastante pra eu querer arrancá-lo fora. Me sinto zonzo, as luzes do banheiro estão brancas demais.

Por que eu estou falando essas coisas todas? Por que eu não calo a minha boca?

Eu sei exatamente o porque. Eu quero que James cuide de mim também. Mais do que tudo, eu o odeio por me fazer gostar dele, mesmo que tenha salvado Sirius ao invés de mim. Mesmo que tenha tirado ele de mim.

  E que culpa ele tem? Ele mal me conhecia.

-Eles queriam que eu usasse crucio numa criança mestiça, pra me testar. - Acaricio meu peito, tentando fazer a sensação passar. - Eu não consegui - Nego fortemente com a cabeça. - E enquanto eu não usasse crucio na criança, eles continuariam usando em mim. Eu passei horas sentindo aquilo, até que eles se cansaram de usar a voz e resolveram usar a vareta.

James caminha até mim devagar e segura minha camisa, como se me pedisse permissão. Quando eu não digo nada, ele a desabotoa, mostrando os machucados. Varias marcas de chibatada da vareta da minha mãe.

Qualquer Um, Menos EleOnde histórias criam vida. Descubra agora