Um [ Kerim]

760 82 7
                                    

                                                                                             

Abri os olhos lentamente, sentindo uma leve dor latejante em meu ombro. O brilho fluorescente das luzes do hospital invadiu meus sentidos, trazendo-me de volta à consciência em um piscar de olhos. Olhei ao redor, tentando me situar naquele ambiente desconhecido.

Uma voz feminina ecoou suavemente ao longe, enquanto eu lutava para me lembrar dos eventos que me levaram até ali.

一 Você está acordado.
Elif aproximou-se da cama com um sorriso aliviado nos lábios.
一 Eu tive tanto medo que algo pudesse acontecer a você... 一 ela segurou minha mão por alguns segundos antes de eu afastá-la.

一 Como soube que eu estava aqui? 一 indaguei, uma pontada de dor atingindo meu corpo ante o movimento.

一 A notícia do atentado está em todos os jornais. 一 ela cruzou os braços em frente ao peito em um suspiro 一 Peguei o primeiro voo de Los Angeles para cá... eu precisava vê-lo com meus próprios olhos, saber se estava bem

As lembranças da noite anterior voltaram a surgir em minha mente, precisava descobrir quem estava por trás do atentado. Ficar ali, prostrado em uma cama de hospital não estava em meus planos.

一 Kerim... Oque pensa que está fazendo?

Me levantei, sob os protestos de Elif, eu estava decidido a deixar o hospital. Ignorando sua presença comecei a trocar de roupa.

一 Você está louco? 一 ela se virou de costas, parecia constrangida, mas eu não tinha tempo para seus chiliques. 一 As pessoas que fizeram isso com você podem estar tramando outro ataque, você...

Antes que ela pudesse terminar a frase sai do quarto, para o espanto dos funcionários do hospital que passavam por ali.

一 Senhor, não pode sair desse jeito! 一 uma das enfermeiras tentou me impedir, dei-lhe as costas e segui pelo corredor, o som irritante dos sapatos de salto alto de Elif em meu encalço.

No final do corredor a porta do elevador se abriu e o rosto conhecido de Yusuf, meu melhor amigo e braço direito surgiu a minha frente, parecia surpreso ao me ver.

一 Que porra você... 一 ele desistiu de terminar a frase olhando para mim com um olhar compreensivo.

Me enfiei no elevador ao seu lado sem dizer nada.

一 Kerim espere por mim, você não pode sair assim.

A voz de Elif ecoou pelo corredor.

一 Devemos esperar?

一 Vamos embora.

A mulher tentou alcançar o elevador mas a porta se fechou de repente e a última coisa que vi foi sua expressão de raiva.

Saí do elevador do hospital, ainda atordoado pelos eventos da noite anterior. Ao meu lado, Yusuf mantinha-se vigilante, sua expressão séria denunciando a tensão do momento. Enquanto nos aproximávamos das portas automáticas, já podíamos ouvir o burburinho agitado do lado de fora.

Assim que as portas se abriram, fomos imediatamente cercados por uma horda de jornalistas, suas câmeras apontadas para nós como armas prontas para disparar. A luz forte dos flashes quase me cegou, e as vozes dos repórteres se sobrepuseram umas às outras em uma cacofonia de perguntas.

一 Senhor Yaman, pode nos dizer o que aconteceu durante o ataque ao seu veículo? 一 gritou um dos jornalistas, empurrando um microfone na minha direção.

Yusuf colocou uma mão firme em meu ombro, protegendo-me da multidão enquanto tentávamos nos abrir caminho.

一 Qual foi a sua reação imediata ao atentado? 一 perguntou outra voz, enquanto os fotógrafos capturavam cada momento.

De repente, uma pergunta cortou o ar:

一 E quem era a mulher que estava com você na noite do atentado? Qual é a relação dos dois?

A pergunta me atingiu como um soco no estômago. Eu me viro para encarar o jornalista, tentando reunir minha compostura.

一 Lamento, mas não podemos fornecer mais informações no momento. 一 Yusuf declarou com firmeza, tentando abrir espaço entre nós e os repórteres. 一 Por favor, entendam.

Enquanto Yusuf me conduzia em direção ao carro, a pergunta do jornalista reverberava na minha mente. E então, como se um flash tivesse iluminado minha memória, eu me lembrei da garota que entrou em meu carro por acidente segundos antes dos tiros começarem. Meu coração apertou com a lembrança daquele momento caótico.

Respirei fundo, tentando afastar os pensamentos perturbadores enquanto entrávamos no carro. Sabia que tínhamos muito trabalho pela frente, mas por ora, ao menos estávamos fora do alcance da imprensa faminta por notícias.

一 Para onde estamos indo?

Respirei fundo apertando as têmporas doloridas com a ponta dos dedos.

一 Vamos voltar para casa.

Eu estava decidido a descobrir quem estava por trás do ataque na noite anterior, e sabia que ficando em Nova York por mais tempo não resolveria nada. Estava na hora de voltar para casa e descobrir quem eram meus inimigos reais.

一 Quero que encontre a mulher que estava comigo ontem, faça isso o quanto antes.

Enquanto Yusuf dava partida no carro, meu celular começou a tocar. Olhei para o número no visor: era minha avó, a matriarca da família.

一 Acho melhor atender Kerim. 一 Yusuf sugeriu, sua voz mostrando preocupação.

Respirei fundo e atendi a ligação.

Babaanne?

一 Kerim, meu querido, estou preocupada com você. 一 disse ela com sua voz suave e firme ao mesmo tempo. 一 Você está bem?

一 Estou bem, respondi, tentando transmitir calma através da linha telefônica.

一 Elif me ligou, disse que você a deixou no hospital, pobre garota, estava aos prantos.

Suspirei resignado sem dizer palavra. Minha avó prosseguiu.

一 Kerim, volte para casa, vamos descobrir quem está por trás de tudo isso...

一 Não se preocupe, babaanne...

一 Traga Elif com você, já está mais do que na hora de começarmos a planejar o futuro de vocês dois.

Fiquei em silêncio por um momento, lutando contra as palavras dela em minha mente. Não estava interessado em seguir o caminho que ela delineava para mim. Não havia futuro algum entre mim e Elif, e apesar de minha avó estar ciente de minhas decisões, ela não parecia desistir de empurrar-me naquela direção.

一 Você precisa assumir sua posição, meu neto, e ter uma mulher ao seu lado para assegurar nossa linhagem 一 as palavras de minha avó ecoaram em meus ouvidos, uma lembrança constante do que era esperado de mim como o herdeiro da família Yaman.

Respirei fundo, sabendo que teria que enfrentar mais do que apenas os desafios empresariais quando voltasse para casa. Teria que enfrentar as pressões e expectativas de minha família, tudo enquanto lutava para encontrar meu próprio caminho.

❗️SE VOCÊ LEU ATÉ AQUI NÃO DEIXE DE VOTAR E COMENTAR!❗️ Até o próximo capítulo!


Glossário
Babaanne= avó paterna

|Contratada para amarOnde histórias criam vida. Descubra agora