Vinte e Seis

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Kerim

— Kerim, você precisa pensar bem. — Minha avó me encarava, a preocupação clara em seus olhos enquanto tentava apaziguar a tempestade de raiva que se formava dentro de mim. — Acusar seu tio dessa forma não é a coisa certa a fazer...

— Não seja tola, babaanne. Acha mesmo que ele não está por trás de tudo isso? — rebati, a incredulidade tingindo cada palavra. A simples ideia de ignorar as evidências era inconcebível para mim. Hazar Aksoy tinha todos os motivos e recursos para querer atingir-me através de Camila, manipulando as circunstâncias para seus próprios fins.

— E se ele estiver envolvido? O que você pretende fazer? — Ela segurou meu braço firmemente, buscando meu olhar com uma intensidade que raramente demonstrava. Sua preocupação era palpável, mas também havia um desafio em sua voz, um convite para pensar nas consequências de minhas ações. — Você e aquela garota tola insistiram em desafiá-lo...

— Por que tem tanto medo de um homem a quem não deve nada, babaanne? — Minha voz subiu um tom, mais afiada do que pretendia. Era difícil entender sua hesitação, seu medo aparente de confrontar alguém que, na minha visão, claramente merecia ser desafiado.

A expressão dela era um misto de frustração e medo, uma combinação que raramente se manifestava na matriarca da família Yaman. Ela soltou meu braço lentamente, ponderando suas próximas palavras com cuidado.

— Não é medo, Kerim. É prudência. — Ela falou suavemente, tentando me fazer entender a complexidade da situação. — Você acha que conhece as jogadas de seu tio, mas talvez esteja subestimando o que ele é capaz de fazer. Não é apenas sobre coragem, é sobre ser sábio. Precisamos pensar não só em como atacar, mas em como nos protegermos das repercussões.

Eu respirei fundo, tentando absorver suas palavras, ainda que cada fibra do meu ser gritasse por ação. Era um jogo de xadrez perigoso, e cada movimento precisava ser calculado com precisão, algo que minha avó entendia melhor do que ninguém.

— O que está fazendo aqui? — dei um passo à frente assim que vi Aslan adentrando o escritório, sua presença inesperada disparando uma onda de desconfiança em mim.

— Eu acho que sei onde Camila pode estar — ele disse de repente, sua voz carregada de uma urgência que parecia forçada ou talvez calculada.

Eu o encarei, tentando decifrar suas verdadeiras intenções.

Camila

Eles haviam me deixado sozinha, e os minutos arrastavam-se como horas, cada segundo uma eternidade. A noite havia caído implacável sobre o lugar, engolindo o pouco de luz que se infiltrava através das frestas sujas do galpão abandonado. Ali, envolta na escuridão quase palpável, só conseguia rezar, suplicando por um escape daquele pesadelo maldito.

Como tinha me envolvido naquela confusão? Até que ponto essas pessoas seriam capazes de ir movidas pela ganância? Era como se eu estivesse presa em um filme de ação de baixo orçamento, uma trama absurda onde a lógica falhava e o perigo espreitava a cada cena.

Subitamente, vozes cortaram o silêncio, vinham de algum lugar no escuro, um murmúrio que me fez congelar. Meus pulsos e tornozelos doíam terrivelmente das tentativas frustradas de me desamarrar. A esperança de liberdade parecia tão distante quanto a luz das estrelas que não conseguia ver através do teto encardido do galpão.

— Quem está aí? — gritei com toda a força que a angústia me proporcionava. — Kerim não virá, por que não me deixam ir?

Uma sombra escura se movimentou ao alcance da minha visão limitada. Aproximou-se lentamente, apenas o suficiente para que eu distinguisse uma silhueta imponente, iluminada fracamente pela luz incerta que se focava do peito para baixo. A forma da pessoa permanecia um mistério, um vulto ameaçador que se destacava contra a escuridão envolvente.

— Quem é você? — insisti, minha voz ecoando pelo espaço vazio, esperando uma resposta que pudesse me dar alguma pista sobre meu destino ou sobre quem manuseava os fios da minha sorte. A resposta, no entanto, não veio, deixando-me apenas com o eco da minha própria voz e a crescente sensação de desespero.

A silhueta permanecia imóvel diante de mim, quase como uma estátua esculpida nas sombras. Minha respiração era a única coisa que parecia perturbar o silêncio opressor. O desespero crescia, mas minha atenção foi capturada por um breve brilho que emanava de sua mão. Era um anel, não um simples adorno, mas um com um brasão escuro e intrincado que captava a escassa luz do ambiente.

O brasão, embora eu não pudesse identificar completamente seus detalhes, carregava um ar de autoridade e segredo, algo profundamente enraizado nas tramas da história ou da nobreza. A visão do anel em sua mão despertou em mim uma nova onda de perguntas — quem era esse homem? Que poder ele representava?

Então, ele se moveu ligeiramente, e a luz revelou mais de sua forma, mas seu rosto continuava escondido na escuridão. Ele murmurou algo em turco, uma frase curta e carregada de um tom que soava final, talvez uma ordem ou uma simples constatação. Não pude entender as palavras, mas a maneira como ele as disse fez um arrepio percorrer minha espinha.

Sem mais palavras, ele se virou e caminhou para longe, deixando-me novamente na escuridão e no silêncio. Cada passo que ele dava parecia ressoar com o eco de uma ameaça velada, e a lembrança do anel ficou gravada em minha mente como uma pista crucial da identidade ou da intenção do meu captor.

Agora, sozinha mais uma vez, eu tentava decifrar o significado daquela breve interação, agarrando-me a qualquer fio de esperança que aquele anel pudesse representar. Quem quer que fosse aquele homem, ele era claramente mais do que apenas um simples executor; ele estava ligado a algo muito maior, algo que talvez pudesse ser a chave para minha liberdade ou para a compreensão da teia na qual eu havia sido tragicamente enredada.

|Contratada para amarOnde histórias criam vida. Descubra agora