Dezessete

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Camila

A luz suave da manhã penetrava pelas cortinas do quarto quando abri os olhos de repente, o coração acelerado por um sonho inquieto. Olhei ao redor e percebi que Kerim já havia saído. Um alívio misturado com uma ponta de decepção me atingiu ao constatar sua ausência. Suspirei, sentindo-me estranhamente sozinha na imensa cama.

Sentando-me devagar, olhei para o celular ao meu lado na mesinha de cabeceira. Eram onze da manhã. Dormi como uma pedra. Abri o celular e encontrei uma mensagem de Kerim:

"Fui ao escritório da empresa. Volto à tarde. Qualquer coisa, peça ajuda a Yasemin."

Um sentimento de apreensão tomou conta de mim. Estava sozinha naquela mansão com pessoas que mal conhecia. Kerim era minha única ligação real com aquele lugar, e agora ele não estava ali. Tentei afastar os pensamentos ansiosos e me levantei, decidindo que ficar deitada não me ajudaria em nada.

Depois de me arrumar rapidamente, minha barriga roncou alto, lembrando-me de que não havia comido nada desde a noite anterior. Decidi procurar a cozinha e ver se conseguia algo para comer. Saí do quarto e comecei a caminhar pelos longos corredores da mansão, admirando a decoração luxuosa e os detalhes elegantes que pareciam estar em cada canto.

Enquanto explorava, ouvi vozes exaltadas ecoando por um dos corredores. Curiosa, segui o som até encontrar uma porta entreaberta. Espiei discretamente e vi Elif e Yusuf discutindo, seus gestos expressivos denotando a intensidade do conflito. Embora não entendesse o que diziam, a tensão era palpável.

De repente, Elif se virou e seus olhos encontraram os meus. Ela parou de falar imediatamente, surpresa e talvez um pouco irritada por me ver espiando.

Me virei imediatamente e ia começar a andar para longe, mas ela me interceptou no meio do caminho.

— O que você acha que está fazendo aqui?

Eu hesitei, meus olhos desviando entre Elif e Yusuf, que ainda parecia confuso e um tanto preocupado.

一 Me desculpe... eu estava procurando a cozinha...

一 Procurando a cozinha? 一 Elif cruzou os braços, uma sobrancelha arqueada em descrença. 一 Ou estava bisbilhotando? Parece que é exatamente isso que estava fazendo.

— Eu realmente só queria achar algo para comer. Não sabia que vocês estavam aqui. 一 tentei me justificar, sentindo meu rosto corar sob seu olhar acusador.

Antes que Elif pudesse responder, Yusuf interveio, tentando acalmar a situação.

— Eu posso levá-la até a cozinha, se quiser. 一 ele ofereceu gentilmente, um sorriso tentando suavizar a tensão no ar.

Elif, no entanto, levantou a mão, impedindo-o de continuar. Seus olhos escuros fuzilaram Yusuf com uma autoridade inquestionável.

— Não, Yusuf. Eu mesma vou lidar com isso. Saia daqui agora.

Yusuf hesitou, mas a firmeza no tom de Elif não deixava espaço para objeções. Ele lançou-me um olhar de desculpas antes de se retirar apressadamente pelo corredor, deixando-me sozinha com Elif.

Assim que ele desapareceu de vista, Elif voltou sua atenção completamente para mim, sua expressão se tornando ainda mais severa.

— Você acha que pode vir aqui e se aproveitar da bondade de Kerim? 一 ela começou, suas palavras afiadas como facas. 一 Nós sabemos muito bem o tipo de pessoa que você é. Uma oportunista, é isso que você é. Só está aqui pelo dinheiro, pelo status. 

— Você não sabe nada sobre mim.  一 retruquei, minha voz mais firme do que eu esperava.

— Oh, por favor. 一 Elif bufou, os olhos brilhando de desdém. 一 Você acha que vai enganar a todos com essa fachada de inocente? Eu já vi muitas como você, que pensam que podem entrar em uma família rica e se dar bem às custas dos outros.

Eu estava prestes a responder novamente, mas antes que pudesse, uma figura imponente apareceu no corredor. A senhora Yaman, a matriarca da família, observava a cena com um olhar crítico.

— O que está acontecendo aqui? 一 sua voz era calma, mas carregava uma autoridade inegável.

Elif imediatamente endireitou-se, o tom ácido desaparecendo de sua voz.

— Vovó eu...

— Basta, Elif. 一 a senhora Yaman interrompeu, erguendo uma mão para silenciá-la. Seus olhos se voltaram para mim, avaliando-me com cuidado. — Camila, não é? Venha comigo.

Ela acenou para que a seguisse, e eu, aliviada por escapar da hostilidade de Elif, fiz o que me foi pedido. À medida que nos afastávamos, podia sentir os olhos de Elif queimando em minhas costas.

一 Senhora, eu não quero confusão... 一 eu disse a senhora Yaman que permanecia parada a minha frente de costas, os olhos fitos em algum ponto da janela lá fora.

一 Minha família está nesta casa há muitas gerações. 一 ela falou calmamente 一 Construímos cada parede, pedra por pedra e lutamos com quem quer que fosse para que tudo permanecesse de pé... e o mais importante, para que tudo permanecesse em nossas mãos.

A mulher se virou para mim, sua expressão dura e impassível.

一 Kerim será meu sucessor, um dia ele herdara esta casa e todo império que o nome Yaman carrega.

Engoli em seco, eu não sabia onde ela queria chegar e porque estava me dizendo aquelas coisas.

一 Pessoas como nós tem inimigos em todos os lugares, olhos que nos observam sempre à espreita, temos que nos manter focados naquilo que realmente importa, sem distrações.

一 Eu não sei onde a senhora está querendo chegar...

一 Você não passa de uma mera distração. 一 ela acusou com escárnio 一 Uma pedra no caminho do meu neto. Se realmente deseja o bem dele, deve se afastar e deixá-lo focar no que é essencial.

Então, ela tirou um envelope do bolso e o estendeu para mim.

— Aqui deve ter o suficiente para você recomeçar em outro lugar — disse ela, sua voz fria e autoritária.

Minhas mãos tremiam enquanto abria o envelope. Dentro, havia um cheque com uma quantia absurda de dinheiro. Meus olhos se arregalaram ao ver a cifra.

— Você não serve para Kerim — continuou a senhora Yaman, sem um pingo de compaixão. — Aceite isso e vá embora. É o melhor para todos nós.

一 Me desculpe senhora, mas não posso fazer o'que está dizendo. 一 eu disse firmemente depositando o envelope sobre a mesa.

一 Você... 一 a senhora Yaman me fuzilou com seus grandes olhos cor de esmeralda, parecia surpresa.

一 Não quero trazer problemas para senhora e sua família, mas só irei embora se Kerim quiser que eu vá.

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|Contratada para amarOnde histórias criam vida. Descubra agora