Capítulo 21

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Camila

O silêncio após o beijo era palpável, quase insuportável. Eu podia sentir meu coração batendo tão alto que parecia ecoar . Kerim estava a centímetros de mim, seus olhos fixos nos meus, como se tentasse decifrar o que exatamente acabara de acontecer entre nós.

Minha mente estava em um turbilhão de pensamentos. Eu não sabia se devia dizer algo, me afastar ou... repetir aquele momento. Mas antes que eu pudesse tomar qualquer decisão, o som abrupto do celular de Kerim cortou o ar, fazendo-me pular levemente.

Kerim franziu o cenho ao ver o nome na tela e, por um segundo, vi a hesitação em seus olhos. Ele desviou o olhar de mim, o que, de alguma forma, doeu mais do que eu esperava.

— Yusuf — ele murmurou, atendendo a ligação. Sua voz estava firme, mas havia um traço de ansiedade que eu não tinha notado antes. — O que foi?

Eu podia ouvir a voz abafada do outro lado da linha, mas não conseguia distinguir as palavras. Kerim se endireitou, seus ombros tensos, e por um momento, tudo ao meu redor pareceu desaparecer. Eu sabia que algo estava errado, muito errado.

—O que você disse? — Kerim perguntou, a urgência em sua voz agora inconfundível. Ele virou as costas para mim, como se precisasse de espaço, ou talvez privacidade. A única coisa que eu podia ver eram suas mãos se apertando ao redor do telefone, seus nós dos dedos ficando brancos.

O silêncio que se seguiu foi ainda mais ensurdecedor. Eu queria perguntar o que havia acontecido, mas as palavras ficaram presas na minha garganta. Quando ele finalmente falou de novo, sua voz estava baixa, quase um sussurro.

— Eu... eu vou para aí agora — ele disse, e eu soube instantaneamente que aquilo não era algo que se pudesse ignorar. Kerim desligou o telefone e ficou parado por um momento, imóvel, como se estivesse tentando processar a informação.

— Kerim? — Eu finalmente consegui dizer, minha voz tremendo mais do que eu queria.

Ele se virou para mim, seus olhos sombrios e cheios de uma dor que eu não reconhecia.

— Precisamos voltar. — ele começou, mas sua voz falhou por um segundo. — Algo aconteceu com minha avó.

As palavras me atingiram como um soco no estômago. Tudo o que havíamos acabado de vivenciar foi instantaneamente relegado a segundo plano. Nada mais importava, exceto o medo e a preocupação que agora dominavam seus olhos.

— Então Kerim se colocou em problemas pra defender você? — Brook parecia surpresa assim que eu terminei de contar o que havia acontecido na noite anterior.

— Eu o coloquei em problemas. — suspirei, sentindo o peso da culpa no peito. — Não devia ter reagido às provocações de Elif.

— E se deixar ser intimidada? — Brook me lançou um olhar determinado, e eu sabia que ela tinha razão. Talvez agora Elif pensasse duas vezes antes de tentar me humilhar. Ou, talvez não.

Enquanto Brook continuava a falar, meu pensamento vagou, retornando àquele momento que não conseguia tirar da cabeça: o beijo entre Kerim e eu. Minha respiração ficou um pouco mais pesada ao lembrar do toque suave de seus lábios nos meus, a intensidade do momento, a eletricidade que percorreu meu corpo. Mas, depois que voltamos, ele não dormiu no quarto. De fato, eu ainda não o tinha visto desde então.

Será que ele estava evitando me ver? Ou estava arrependido? A dúvida me corroía, mas eu sabia que não podia ficar pensando nisso. Eu devia focar no que importava, na realidade que estava à minha frente. Ainda assim, não conseguia afastar o sentimento de que algo havia mudado.

|Contratada para amarOnde histórias criam vida. Descubra agora