Vinte e Dois

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Camila

A casa estava envolta em um silêncio profundo quando finalmente resolvi sair do quarto para tomar um pouco de ar. Kerim ainda não havia retornado da empresa, e eu começava a suspeitar que ele estava evitando voltar para casa. Não que isso fosse inteiramente ruim; a verdade é que eu também não tinha a menor ideia do que dizer depois de tudo o que aconteceu.

Caminhei lentamente até o final do corredor, e quando estava prestes a descer as escadas, avistei a senhora Yaman. Ela ainda não havia notado minha presença, parecendo perdida em seus próprios pensamentos. Por um instante, considerei simplesmente continuar meu caminho, mas algo em seu comportamento me chamou a atenção, algo que não parecia certo.

— A senhora está bem? — perguntei, correndo até ela e a amparando. Seus olhos verdes encontraram os meus, um misto de surpresa e alívio evidente em sua expressão.

Por pouco, ela não havia caído ali mesmo no corredor.

— Tire suas mãos de mim. — disse firmemente, tentando se desvencilhar.

— Estou tentando ajudá-la. A senhora não devia ter saído da cama, não parece estar bem.

— Eu estou bem! — ela retrucou, irritada, puxando o braço com força.

Por mais que aquela velha me irritasse, eu não era o tipo de pessoa que podia ignorar alguém em apuros.

— Me deixe... — ela começou a dizer, mas antes que pudesse terminar a frase, cambaleou novamente.

— Eu vou chamar alguém. — fiz menção de me afastar, mas ela me impediu, segurando meu braço. Seus olhos, antes duros, suavizaram um pouco, e ela sussurrou, quase como uma súplica.

— Não, não chame ninguém... apenas me ajude a voltar para o quarto.

— Está bem.

Ajudei-a a se acomodar, e, ao vê-la pálida e com o rosto tão cansado, senti um aperto no peito. Era estranho ver a temida senhora Yaman tão vulnerável.

— Pode sair. — ela retrucou com a voz firme, mas eu percebi o tremor por trás das palavras.

— A senhora não parece bem. Posso chamar alguém, talvez o médico...

— Eu já disse que não quero ver ninguém, apenas saia.

— Mas... — comecei a insistir, mas o olhar dela deixava claro que estava determinada a me expulsar. No entanto, isso estava fora de cogitação. Por mais que ela fosse uma cobra, eu não podia simplesmente ignorar o fato de que não estava nada bem. — Tudo bem, não chamarei ninguém, mas eu mesma irei preparar um chá para ajudá-la.

— Allah, Allah! — ela exclamou, ainda mais irritada. — Eu já disse que não preciso de nada.

— Minha avó também tinha problemas de pressão — continuei, tentando acalmá-la. — Então fique tranquila. Vou fazer o chá e volto logo!

Kerim

Depois de todo o caos da noite anterior, era estranho voltar para casa e ser recebido por um silêncio tão profundo.

Depois de todo o caos da noite anterior, era estranho voltar para casa e ser recebido por um silêncio tão profundo. Subi as escadas, cada passo ecoando suavemente pelo corredor vazio. Quando me aproximei do andar superior, dei de cara com Ezra e outra jovem serviçal, ambas inclinadas, escutando atrás da porta do quarto da minha avó.

Algo estava definitivamente errado. As duas pareciam tensas, e quando me viram, suas expressões se transformaram em puro susto. Elas se afastaram rapidamente, murmurando desculpas apressadas enquanto se retiravam. A desconfiança cresceu dentro de mim, e me aproximei da porta, que estava ligeiramente entreaberta.

|Contratada para amarOnde histórias criam vida. Descubra agora