|Contratada para amar

Seis( Kerim)

                    

A água escorria fria sobre minhas costas enquanto meus pensamentos se desviavam para Camila, de uma forma que eu não esperava. Era como se ela tivesse deixado uma marca indelével em minha mente, algo que eu não podia ignorar, mesmo que tentasse.

Enquanto a água continuava a cair sobre mim, minha mente voltou ao momento em que nossos caminhos se cruzaram horas antes. Senti novamente a tensão no ar, o confronto de vontades que parecia inevitável entre nós. A lembrança de como seus olhos escuros faiscavam de raiva e sua determinação inabalável me atingiu como uma onda.

Mas então, em meio a esse turbilhão de lembranças, surgiu uma sensação diferente. Uma memória suave e reconfortante, contrastando com a intensidade do momento anterior. Lembrei-me do toque macio de sua pele quando a abracei, contendo seu ataque de fúria. Era como se naquele instante, apesar de toda a raiva e confronto, houvesse um breve momento de vulnerabilidade compartilhada entre nós.

Essa lembrança, mais do que qualquer outra, me deixou perplexo. Por que eu estava tão intrigado por ela? Por que sua presença continuava a me assombrar, mesmo quando eu tentava me concentrar em outras coisas?

Sacudi a cabeça, tentando afastar esses pensamentos confusos. Talvez fosse apenas o calor do momento, ou talvez houvesse algo mais profundo em jogo. Não, aquilo não passava de uma tentativa insana de fuga. Minha oportunidade de me ver livre das tramas armadas por minha avó, que insistia que eu deveria me casar com Elif quando retornasse a Istambul.

Aquele havia sido um acordo entre famílias, uma decisão que minha avó tomara em nome do que ela considerava ser o melhor para nossa linhagem. Elif era filha do meu tio já falecido, e minha avó acreditava que casar-me com ela seria uma forma de proteger a neta e, claro, de perpetuar a linhagem familiar.

No entanto, desde o início, deixei claro para minha avó que não tinha interesse em me casar com Elif. Por mais que respeitasse a tradição e os desejos dela, eu tinha meus próprios sonhos e desejos, e um casamento arranjado não estava entre eles. Eu estava disposto a usar todas as minhas cartas, e Camila era uma delas. Aquele acordo, mesmo que absurdo, era uma saída para me livrar da ideia de um casamento arranjado.

Eu precisava retornar a Istambul, descobrir quem estava por trás do atentado. Eu sabia que tinha inimigos poderosos, mas ainda precisava descobrir quem eram e qual era a motivação por trás de seus atos. Estava determinado a desvendar esse mistério, não apenas para proteger a mim mesmo, mas também para garantir a segurança daqueles que me cercavam.

Sai do banho para o silêncio da grande e luxuosa suíte do hotel. Lá fora as luzes coloridas da cidade em movimento me traziam uma sensação de paz e conforto. Peguei o telefone e vi as várias chamadas perdidas de Elif, mas decidi ignorá-las. Enquanto pressionava o botão para silenciar o aparelho, uma sensação de alívio me envolvia. Nunca senti nada por Elif além de uma obrigação familiar e, agora mais do que nunca, estava claro que aquele casamento arranjado nunca seria uma opção para mim.

Na manhã seguinte, eu estava me preparando para sair quando Yusuf chegou, dizendo que tudo estava pronto para a reunião com os empresários americanos. Conversamos brevemente sobre minha avó ter insistido para que eu ligasse para ela, e eu prometi que faria isso mais tarde. Saímos do hotel juntos, e Yusuf abriu a porta do carro para mim.

Enquanto dirigiamos pelas movimentadas ruas de Nova York, eu tentava me concentrar nos documentos que Yusuf me entregara para analisar, um contrato milionário entre a Yaman Holdings e uma cadeia de hotéis norte-americana. Me distraí por alguns minutos observando os prédios que nos cercavam como fortalezas imponentes. Foi então que vi Camila passando apressada pela calçada, seus cabelos dançando ao vento. Uma onda de surpresa e curiosidade me atingiu instantaneamente. O que ela estaria fazendo por ali?

一 Pare o carro. 一 ordenei a Yusuf que me encarou pelo retrovisor confuso.

一 O que aconteceu, Kerim? 一 ele disse aproximando o carro do meio fio.

一 Tenho algo para resolver. 一 me preparei para sair.

一 Mas e os americanos..?

一 Eu confio em você para resolver isso, Yusuf.

Quando saí do carro, uma rajada de vento frio tocou meu rosto, mas minha determinação não vacilou. Comecei a andar rapidamente no encalço dela, observando seus passos apressados à medida que ela se afastava pela calçada. Não demorou muito para que eu a alcançasse e, sem hesitação, segurei seu braço gentilmente.

Ela se virou para mim, surpresa, seus olhos marejados e o rosto molhado por lágrimas. Por um momento, ficamos em silêncio, eu tentando entender a razão de sua angústia, e ela apenas me encarando com uma mistura de surpresa e vulnerabilidade.

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