Dezesseis

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Ao adentrar a grande sala de jantar da mansão Yaman, senti todos os olhares se voltarem para nós. Camila apertou sua mão pequena contra a minha, como se buscasse um sinal de conforto diante daquela situação.

Eu a conduzi até a mesa sob os olhares atentos dos demais. Elif ,em particular, nos olhava com uma expressão de ódio contido.

一 Sente-se. 一 eu disse, puxando a cadeira para Camila que apenas assentiu.

Seu olhar acuado me fazia sentir um perfeito canalha por tê-la arrastado para aquela situação. Afinal, eu mais do que ninguém sabia o quanto a convivência na mansão Yaman era difícil, às vezes até, insuportável.

一 Então agora teremos de suportar essa intrusa até mesmo na mesa do jantar. 一 Elif disparou seca.

一 Se isso lhe incomoda tanto, fique a vontade para se retirar quando quiser. 一 eu disse friamente enquanto ocupava meu próprio lugar.

一 Eu...

一 Não na mesa do jantar, Elif. 一 minha tia interviu fazendo-a engolir as palavras.

O silêncio que se seguiu foi espesso e desconfortável. Todos retomaram suas atividades, mas pude sentir a tensão no ar. Minha tia olhava para Camila com uma expressão indecifrável.

一 E então, Camila. 一 ela bebericou um gole de água 一 O'Que fazia nos Estados Unidos antes do meu sobrinho arrastá-la para cá?

Camila olhou para mim de relance.

一 Depende. 一 respondeu, antes que eu pudesse intervir. 一 Trabalhava como babá nas segundas, de terça a quinta limpava casas e no resto da semana trabalha lavando pratos no hotel.

一 Oh... que interessante, uma faz tudo. 一 a frase de Elif veio carregada de zombaria.

Camila manteve a calma e um sorriso firme nos lábios.

— É, eu diria que sim, uma faz tudo. — Ela disse, com um olhar desafiador. — Aprendi a me virar com o que tinha. Sabe como é, né? A vida não é fácil para todo mundo.

Elif ergueu uma sobrancelha, claramente não esperando por aquela resposta. Antes que pudesse retrucar, Camila continuou:

— E sabe, aprendi muita coisa nesses trabalhos. Coisas que talvez algumas pessoas nunca tenham a chance de aprender. 

--- Como oque por exemplo? --- Elif tinha um brilho sádico no olhar. --- A melhor forma de limpar uma privada?

--- Isso tambem.  — Camila olhou diretamente para Elif. — E como tratar as pessoas com respeito, independente da sua posição.

O silêncio voltou à mesa, mas desta vez era um silêncio de admiração. Me senti surpreso, talvez até um pouco impressionada com a coragem de Camila. 

Elif pareceu engolir seco, e a expressão de desdém em seu rosto se transformou em uma máscara neutra. Camila voltou a olhar para mim, um brilho de vitória em seus olhos.

Tentei disfarçar, mas um leve sorriso brotou em meus lábios diante da coragem dela. Aquela pequena criatura estava provando que não era tão indefesa quanto eu pensara.


Camila

Olhei para a imensa cama de casal no centro do quarto e abafei um suspiro. Dividiríamos o quarto Kerim dissera, algo que não havia me passado pela cabeça até aquele momento.

Estar sozinha com ele entre aquelas paredes já era constrangedor demais para se imaginar, mas dividir a cama? Não, isso estava fora de questão.

Dei uma passo atrás como se quisesse expulsar aquela ideia da minha mente e me sobressaltei quando a porta do quarto se abriu.

一 Ainda não está deitada. 一 ele disse enquanto caminhava em minha direção, uma visível sombra de cansaço dominando seu semblante. 一 Presumo que deva estar cansada, foi um longo dia.

一 Um pouco. 一 respondi, enquanto o observava desabotoar a camisa preta.

Meus olhos não puderam deixar de notar

como os músculos bem definidos de seu peito iam se revelando a cada botão aberto. Meu rosto começou a esquentar, e senti o constrangimento tomando conta de mim. Desviei o olhar rapidamente, tentando encontrar algo mais interessante nas paredes vazias do quarto.

Kerim, alheio ou talvez fingindo estar, continuou a tirar a camisa. Quando finalmente a tirou por completo, ele a jogou descuidadamente sobre uma cadeira próxima. Respirei fundo, tentando acalmar meus pensamentos, mas era impossível não notar sua presença imponente tão perto de mim.

一 Você deveria se deitar, precisa descansar. 一 ele disse, a voz suave, mas firme, enquanto se aproximava ainda mais.

Assenti, sentindo a tensão aumentar. Meus olhos se moviam inquietos, tentando evitar seu corpo seminu. A cama parecia um campo minado de emoções complicadas e não sabia como lidar com a situação.

一 Eu... acho que vou dormir no sofá. 一 murmurei, tentando manter minha voz firme, embora sentisse um nervosismo crescente.

Ele franziu o cenho, evidentemente surpreso com minha sugestão.

一 No sofá? 一 ele repetiu, como se a ideia fosse completamente absurda. 一 Não seja tola, a cama é grande o suficiente para nós dois. Não quero que se sinta desconfortável, mas também não vou deixar você passar a noite inteira em um sofá duro.

Sua lógica era irrefutável, mas isso não diminuía meu embaraço. Com um suspiro resignado, fui até a mala e peguei meu pijama.

— Tudo bem, eu vou me trocar no banheiro. — disse rapidamente, precisando de uma desculpa para sair daquela situação.

Kerim assentiu, seu olhar se suavizando um pouco.

— Tome seu tempo.

Entrei no banheiro e fechei a porta, encostando-se contra ela e fechando os olhos por um momento. Respirei fundo, tentando acalmar o turbilhão de emoções. Após me trocar, voltei para o quarto, e percebi que ele havia mudado de ideia, encontrava-se já deitado no sofá. Notei o quanto ele era grande para o pequeno sofá. 

Pensei em perguntar se ele estava bem, mas ao me aproximar, percebi que ele já estava dormindo. Peguei uma manta e cobri-o com cuidado, observando-o por um momento. Sua tranquilidade era quase hipnotizante. De repente, ele se mexeu, fazendo um leve movimento com a cabeça.

Assustada, dei um passo para trás e resolvi ir para a cama. Deitei-me de costas, fitando o teto. O som da respiração ritmada de Kerim era a única coisa que quebrava o silêncio.

E foi assim que, depois de um longo e exaustivo dia, eu finalmente fechei os olhos, ainda consciente da presença dele ali perto, e deixei o cansaço me tomar.

|Contratada para amarOnde histórias criam vida. Descubra agora