Vinte e três

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Camila


Na manhã seguinte, acordei achando que estava sozinha, Kerim provavelmente já havia saído para o trabalho. O silêncio reinava, e o sol matinal iluminava o quarto com uma luz suave. Espreguicei-me e decidi ir ao banheiro antes de começar o dia.

Caminhei despreocupada até o banheiro, achando que teria um momento de tranquilidade para me arrumar. Abri a porta sem pensar duas vezes, mas, para minha surpresa, dei de cara com Kerim, saindo do banho com uma toalha amarrada na cintura, gotas de água escorrendo por seu peito nu.

Engoli em seco, o susto me pegando de surpresa. Antes que eu pudesse reagir, meus pés derraparam levemente no chão molhado, mas, antes de cair, senti os braços fortes de Kerim me segurando com firmeza.

Ele me segurava contra seu corpo, e meu coração disparou. Estávamos tão próximos que eu podia sentir o calor da sua pele e o leve aroma do sabonete. A sensação de estar nos braços dele era desconcertante, e meu pensamento ficou turvo por um momento.

— Bom dia — ele disse com um sorriso divertido, ainda me segurando.

Tentei recuperar a compostura, mas minha mente estava mais focada na proximidade dele do que em formular uma resposta coerente.

— Eu... pensei que você já tivesse saído para o trabalho — consegui dizer, minha voz um pouco trêmula.

— Não tão cedo assim — respondeu ele, o tom de voz calmo, mas com um brilho divertido nos olhos. — Acho que você ainda está meio dormindo.

Meu rosto ardente refletia o turbilhão de emoções que eu sentia, e o embaraço que me consumia só aumentava à medida que o tempo parecia desacelerar. Ali, nos braços fortes de Kerim, depois de uma entrada tão abrupta e inesperada no banheiro, eu estava inexplicavelmente próxima a ele, mais do que jamais estive. Sua respiração era calma e medida, contrastando com o caos do meu próprio coração que batia descompassado.

Seus olhos verdes, normalmente tão claros e penetrantes, agora adotavam um tom escuro e sombrio, refletindo talvez uma mistura de surpresa e outra emoção indefinida que eu não ousava nomear. Enquanto ele me segurava firme para evitar que eu caísse, eu podia sentir o calor emanando da sua pele ainda úmida do banho recente. As pontas dos meus dedos, quase sem querer, tocavam a superfície lisa e molhada de seu peito, explorando a textura da sua pele sob a fina camada de água.

Nossos corpos estavam incrivelmente próximos, roçando um no outro com cada pequeno movimento que fazíamos para manter o equilíbrio. Esse contato inadvertido enviava ondas de calor através de mim, um calor que parecia fluir da ponta dos meus dedos diretamente para o centro do meu ser. Era uma sensação quase sufocante, intensa e perturbadora, provocando uma resposta física que eu lutava para controlar.

A proximidade, o toque, a respiração compartilhada em um espaço tão íntimo — tudo contribuía para um momento carregado de uma tensão palpável, uma tensão que parecia tecer uma conexão silenciosa, mas poderosa, entre nós dois.

— Você já pode me soltar, Kerim — murmurei, tentando injetar uma nota de indiferença na minha voz, apesar do meu coração ainda bater descompassado.

Kerim, mantendo um sorriso travesso nos lábios, demorou um momento antes de responder, sua voz baixa e carregada de uma intensidade brincalhona.

— Tem certeza? — ele questionou, inclinando a cabeça levemente, como se ponderasse a situação. — Afinal, não é todo dia que uma bela dama invade meu banheiro sem bater.

O jeito como ele disse isso, a leve curvatura de suas sobrancelhas e o brilho provocante em seus olhos, tornaram difícil manter a compostura. Seu tom era claramente divertido, brincando com a situação inusitada que nos encontrávamos, e isso me fez corar ainda mais, se possível.

Houve uma pausa carregada, onde o som da nossa respiração parecia o único ruído no espaço confinado do banheiro. A tensão entre nós oscilava entre o embaraço e algo mais profundo, algo que nenhum dos dois parecia pronto para nomear.

Finalmente, com um suspiro suave, ele afrouxou o abraço, mas seus dedos demoraram a deixar meus braços, como se relutassem em quebrar o contato.

— Talvez eu devesse trancar a porta na próxima vez — ele brincou, enquanto ajustava a toalha.

— E talvez eu devesse bater antes de entrar — respondi, tentando esconder o constrangimento.

Saí do banheiro apressada, meu coração ainda batendo rápido. Mas, por mais embaraçosa que a situação tivesse sido, uma parte de mim não conseguia esquecer a sensação de estar tão perto dele.

— Mandarei Yusuf buscar você mais tarde. — ele me disse alguns minutos depois, enquanto arrumava a gravata preta.

— Me buscar? — quis saber ,confusa.

— Quero que vá comigo a um lugar.

— Está bem. — concordei.

Sair um pouco daquela casa seria uma boa ideia.

Kerim 

A luz matinal já invadia o banheiro, criando um jogo de sombras e luzes sobre o azulejo, quando ouvi a porta se abrir abruptamente. Antes que eu pudesse reagir ou envolver-me numa toalha mais apropriadamente, Camila entrou, aparentemente desavisada da minha presença. A surpresa em seus olhos era evidente, e uma onda de adrenalina me atingiu, misturando-se com a água ainda escorrendo pelo meu corpo.

Ela deu um passo hesitante, seu corpo congelando no limiar da porta. Mas então, um deslize; seus pés perderam aderência no chão molhado. Num impulso, avancei para pegá-la, nossos corpos se encontrando em um movimento que parecia orquestrado pelo destino. Quando a segurei firme contra mim para evitar sua queda, uma corrente elétrica passou entre nós, revivendo a memória do nosso último encontro tão íntimo e carregado.

Sua proximidade trouxe de volta o aroma de seu perfume, que se misturava agora com o cheiro do meu sabonete. O calor de sua pele contra a minha me fez recordar o toque dos seus lábios, aquele beijo que ainda queimava em minha memória como uma chama não extinta. Segurando-a em meus braços, senti uma vontade intensa de beijá-la novamente, de reacender aquele fogo que tínhamos explorado apenas superficialmente.

Por um momento, tudo ao redor desvaneceu, e só restamos nós dois, suspensos em um tempo e espaço onde o passado e o presente se fundiam. Meu coração batia com força, não apenas pela adrenalina do susto, mas também pelo desejo que ela despertava em mim. Os olhos dela encontraram os meus, e em seu olhar vi um reflexo de minha própria turbulência interna.

— Bom dia — consegui dizer, minha voz mais rouca do que pretendia, vibrando com as nuances não ditas de nossos sentimentos.

— Eu... pensei que você já tivesse saído para o trabalho — ela murmurou, sua voz um sussurro que parecia carregar o peso de nosso momento compartilhado.

— Não tão cedo assim — respondi, cada palavra impregnada com a consciência de nossa proximidade. Eu queria segurá-la mais, explorar cada contorno de seu rosto com meus lábios, mas a razão me segurou, consciente de que cada passo deveria ser cuidadosamente medido.

Nossos corpos ainda estavam próximos, e eu sentia o calor emanar dela, tentador e provocante. A sensação de seu corpo pressionado contra o meu era uma tortura doce, uma tentação que eu precisava tanto resistir quanto desejava ceder.

— Você já pode me soltar, Kerim — ela disse, uma tentativa de normalizar a situação, mas sua voz trazia um tremor que falava de mais que simples contato físico.

Lentamente, muito lentamente, soltei-a, consciente de cada centímetro de espaço que agora nos separava. Mas mesmo enquanto ela se afastava, o eco de seu toque permanecia, um fantasma de calor que me seguia, lembrando-me do que havia sido... e do que ainda poderia ser.


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|Contratada para amarOnde histórias criam vida. Descubra agora