15. ESPERANÇA

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Ao me deitar para verificar se meu ex-patrão havia liberado meus direitos rescisórios, não esperava ser vencida pelo sono até que abri os olhos e me surpreendi com minha mãe ao lado da cama, olhando-me carinhosamente, com bobes no cabelo.

— Seu pai ainda é mediano usando a chapinha, então tive que encontrar outra maneira de cachear o cabelo... — ela riu — O que você acha?

Essa cena trouxe memórias de quantas vezes acordei com ela ao lado da minha cama. Sempre tive dificuldade para acordar cedo, perdia o alarme quase todos os dias para a escola ou igreja, e ela me acordava com carinho. Era o que fazia naquele momento, e percebi o quanto sentia falta disso. E o quanto ela também devia sentir falta da sua única filha.

— Isso nunca foi o forte dele, mas eu posso te ajudar. Sente-se aqui que vou pegar algumas coisas, será rápido.

Falamos sobre muitas coisas, desde os detalhes da demissão até como estava a vida nos EUA, e sobre a produção de batatas que ainda não tinha visto no quintal. Então, ela tocou num assunto que eu não esperava, ou pelo menos queria evitar enquanto arrumava seu cabelo ajoelhada na cama.

— Então, aconteceu algo entre você e o Dustin? — ela perguntou, entregando-me uma mecha que havia caído do modelador de cachos e olhando de lado para não atrapalhar.

— Não. Ele falou algo para a senhora? — perguntei, e ela suspirou, virando-se para frente e negando com o dedo.

— Pergunto porque não acho que seja coincidência vocês dois voltarem juntos.

Pelo seu tom, ela parecia contemplar possibilidades que me envergonhariam se fossem ditas em voz alta.

— Mãe, você precisa parar de imaginar coisas além da realidade. Somos apenas amigos.

— Vocês eram melhores amigos, e eu adorava a amizade de vocês... — ela riu, lembrando-se de algo — Seu pai nem se preocupava quando havia eventos na escola e vocês dois saíam juntos. Todos sabíamos que Dustin te protegeria de qualquer um que se aproximasse.

— Como a senhora se lembra disso?

— Eu fiz questão de não esquecer nenhum detalhe sobre você, querida...

Percebi então que ela estava com os olhos fechados, sorrindo, como se estivesse saboreando várias lembranças da minha infância e adolescência, que ela usava para matar a saudade. Da mesma forma, ela estava apreciando aquele momento enquanto eu arrumava seu cabelo, para se agarrar a isso quando eu partisse.

E isso atingiu minha ferida mais profunda e escondida.

Porque eu tinha sido cruel com Dustin, ao perceber que compartilhava com ele a culpa de ter deixado meus pais sozinhos.

— Muito obrigada, mãe... — ajoelhando-me ao lado dela, ela se assustou com meu olhar e me encarou confusa até perceber o que eu dizia — Obrigada por esperar enquanto eu estudava por 5 anos na capital com contato limitado e depois por mais 3 anos sem visitas para te abraçar. Obrigada por me esperar e não se esquecer de mim.

— Ah, minha filha... — ela mordeu o lábio, segurando minha mão com os olhos marejados de lágrimas, emocionando-se facilmente com minhas palavras.

— Preciso pedir desculpas à senhora e ao papai por ter negligenciado vocês durante tanto tempo. Acreditei que deveria ser um suporte financeiro para vocês a qualquer custo, sem perceber que deixei de ser filha para me tornar a empresária de vocês. Faltei nos feriados, aniversários e até mesmo nos velórios... Eu não estive presente quando mais precisaram de mim...

Interrompi meu discurso ao sentir um nó na garganta, lembrando-me das palavras de Dustin mais cedo sobre essa sensação.

" — Chorar é uma maneira de expressar o que está sentindo, e não existe problema nenhuma em demonstrar isso. Então quando sentir vontade de chorar, chore e não sinta vergonha disso..."

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