22. TEMPO

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Eu estava ciente de que uma entorse não era algo simples e sabia que precisava evitar apoiar o pé no chão. Por isso, fiquei em casa dois dias de repouso. Contudo, foi o máximo que consegui ficar sem sair antes de usar minhas muletas para ir à igreja no domingo pela manhã.

Quando descia do carro, vi o pessoal do projeto chegando ao mesmo tempo que eu e meus pais.

— Nicole! — Talita chamou alto demais na entrada da igreja, fazendo-me sorrir, pois minhas mãos estavam ocupadas.

Talita, Teodoro, Lilian e Marília vieram me cumprimentar, preocupados com meu pé, já que se passaram dois dias desde a festa e eles não tinham me visto.

— Estava com saudades! — Lilian, a menorzinha, me abraçou na perna que estava boa, aquecendo meu coração.

— Eu também, pequena! Como vocês estão? — perguntei, notando que Helena os trouxe de carro. — Tudo bem?

— Relaxa, Nicole, eles estão ótimos, mas agora é você quem precisa se cuidar — ouvi Helena dizer enquanto me abraçava.

Minha mãe concordou de imediato, cumprimentando Helena em seguida.

— Tentamos dizer isso várias vezes, e eu esperava que, ouvindo de outras pessoas, ela finalmente concordasse...

— Mas eu estou bem, o tornozelo não está tão ruim quanto parece... — tentei explicar, mas elas me olhavam sérias. Então, decidi mudar de assunto. — E os outros, onde estão?

— O pastor os trouxe — Marília explicou, e caminhamos em direção à igreja, que continuava grande, branca e bela. O culto matutino ainda não tinha começado, então me tornei o centro das atenções com minhas muletas e bota ortopédica.

— Nicole querida, como você está? — ouvi a Sra. Lia, amiga da minha mãe, me cumprimentar, e respondi que estava bem, assim como fiz com todos que estavam ali e queriam me agradecer pela festa anual da cidade, que foi um sucesso.

Inclusive Otis, Igor e Laura com suas duas filhas de vestidos floridos, idênticos ao meu, que também usava um vestido florido.

— Pronto, você já tem suas daminhas, e se quiser, eu e meu irmão podemos ser seus porta-alianças, que tal? — Talita brincou, apontando para si mesma e seu irmão, ambos usando tons semelhantes. Isso me fez rir.

— Eu serei o florista! — Igor exclamou, levantando a mão animadamente, fazendo-me sentar ao lado de Laura, rindo e cobrindo a boca com as mãos ao ver Otis levantar a mão também.

— Vocês são incríveis... — comentei, balançando a cabeça e olhando para frente, onde o pastor Louis caminhava em direção ao altar.

E por um breve momento... isso me fez pensar como seria me casar ali, com todos os que me importo ao meu lado.

Percebendo isso, Laura se inclinou para sussurrar, enquanto o pastor falava ao microfone para todos.

— Padrinhos não vão faltar, um pastor e uma igreja nós já temos. O que mais te falta?

— O noivo? — brinquei, e ela riu até ouvirmos alguém se sentar ao meu lado.

— Cheguei! — Dustin anunciou, quase sem fôlego, fazendo Laura e eu o encararmos paralisadas, até ele colocar sua bíblia antiga e desgastada no banco, aparentemente sem ter ouvido nossa conversa. — O que foi? Cheguei na hora errada?

— Acho que você chegou na hora certa — Laura explicou, e quando a encarei, ela se concentrou em chamar suas filhas, contendo o riso diante da situação.

Logo após, o pastor pediu a atenção de todos para iniciar o sermão.

— Hoje, eu estava refletindo sobre como o tempo voa. Meus dois bebês cresceram e às vezes sinto falta de quando eles precisavam que eu pegasse um brinquedo ou fizesse uma mamadeira. Agora, muitas vezes sou eu quem precisa da ajuda deles... — ao ouvir isso, toda a igreja riu, inclusive eu e Dustin. — E, com a saudade de alguns momentos com meus filhos, refleti muito sobre o que Eclesiastes 3 diz.

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