8. DUSTIN

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— Nós descobrimos o que ele tem... — escutei o Noah no telefone dando o que imaginei que era um suspiro de desespero — Mas ele se recusa a receber qualquer tipo de tratamento.

— Sinceramente eu não sei como que a mulher desse cara suporta ele falar de você todo dia, Kyle.

Escutando o Tate ajustar sua cadeira e estender um copo de café na minha direção com uma careta, preferi nem mesmo observar para onde Noah ia.

— Ele tem seus motivos de qualquer maneira... — dei um gole e encarei a TV sentado na cama do hospital sabendo que aquilo era o que tinha para noite.

Estava internado há cinco dias para todo tipo de exame possível, sobre um hospital particular que para a saúde do paciente não dispõem o acesso ao mundo atual, como usar o seu próprio celular.

— Não tem nem mesmo um filme aí?— Tate apontou para TV e neguei escolhendo o único canal interessante.

— Apenas alguns documentários.

Não demorou muito para ele não aguentar mais escutar sobre a vida das cabras. E se sentar na ponta do sofá para me encarar sério.

— Gostar disso não é normal. Mas no momento estou mais preocupado com a sua saúde do que com o seu gosto.

— O que você quer saber? — perguntei sabendo que era isso que queria ouvir

— Como você realmente se sente cara, após o diagnóstico que descobrimos.

Bebi o último gole calmamente do café que ele me trouxe e joguei o copo de onde estava na cama, direto ao lixo.

Descobrir que eu sofria de transtorno de estresse pós-traumático, o (TEPT) com um subtipo dissociativo. Não era uma novidade para mim há mais de sete anos atrás, quando tive a minha primeira reação distinta da realidade.

Os doutores da época disseram de que isso poderia melhorar com remédios e eles realmente ajudaram um pouco. Porém eles acabaram com o meu humor, apetite e até o meu cabelo começou a cair. Então precisei descobrir outra forma de sobreviver que não fosse remédios.

E essa maneira tinha sido pelo MMA a qual infelizmente parecia ter chegado ao tempo de validade. Depois que viram uma lesão no meu cérebro nos últimos milhares de exames feitos.

— Eu me sinto um aposentado pela 2x em ter que precisar deixar o exército e agora o MMA... — eu o respondi tentando ser divertido e ele bufou preocupado — Pelo menos eu ainda tenho tempo para fazer alguma coisa muito aleatória nesse mundo até a loucura total me atingir.

— Como do tipo descobrir como que as galinhas da angola se reproduzem?

Tate apontou para a TV que passava o comercial exatamente disso e então o ergui a sobrancelha — Uma boa ideia.

Escutei ele de imediato soltar um bufo em pegar o controle e mudar de canal.

— Isso é baboseira, você está apenas no período de negação em dizer isso.

Respirei fundo apoiando a cabeça na cabeceira da cama e depois a balançei ao avistar ele procurar outro canal de que prestasse. Sem sucesso.

— Existe momentos de que devemos aceitar o que as circunstâncias dizem. E o momento agora na minha vida, é que não tenho saída assim como você que terá que deixar no documentário Tate.

Pedi o controle da TV. E com a angústia no rosto em entender o que eu disse, ele me devolveu o controle com o olhar completamente desolado sobre assistir novamente um documentário de animais.

— Porque não nos contou sobre a TEPT antes e agora que voltou a ter ataque dissociativos? O que aconteceu no exército que te deixou assim cara?

Fiquei quieto o encarando e ele então entendeu que eu não o responderia.

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