Remover a bota imobilizadora foi um grande alívio. Meu tornozelo se recuperou rapidamente e, após cinco dias, eu já conseguia caminhar sem problemas.
Naturalmente, agendei algumas sessões de fisioterapia e uma consulta de retorno com o ortopedista para o próximo mês, ou seja, no ano seguinte. Porque infelizmente, na segunda semana de dezembro, tudo que dependia do setor público naquela cidade já operava em ritmo de férias. Qualquer coisa que pudesse ser adiada era prontamente postergada, desde exames até audiências.
Isso contrastava com a partida de Dustin, que tinha seu retorno aos EUA marcado para daqui a três dias. A notícia surpreendeu a todos e levantou muitas questões sobre o motivo, mas ele apenas agradecia o carinho e nunca respondia, o que levava muitos a acreditar que era por causa das lutas. Afinal, para eles, sua estadia foi apenas uma breve pausa.
No entanto, eu sabia que não era por isso. Além de saber que o Dustin estava aposentado do MMA. Eu sentia que o Dustin escondia algo de mim. Por isso, tentei ligar para Noah, mas só dava ocupado. Então deixei uma mensagem exatamente quando meu pai entrou na cozinha e olhou para o forno temeroso.
— Minha filha, você tem certeza de que não quer ajuda? Você vai ficar bem?
— Eu vou ficar bem, não se preocupa, prometo que não vou explodir a casa.
Cruzei os dedos como promessa fazendo ele soltar um riso anasalado e beijar a minha testa antes dele ir para a saída.
— Isso é um alívio, já que pensei que a cozinha estava perto disso... — ouvi ele comentar, me fazendo olhar ao redor e coçar a cabeça vendo a bagunça que fiz.
Era o dia da confraternização do fim de ano do ano entre os membros da igreja em que meus pais congregavam, uma tradição feita desde que eu era pequena. E que neste ano, seria realizada no quintal da casa da Família Kyle, a casa do pastor.
E como tradição, todos levavam algo para doar aos necessitados. Meus pais, claro, prepararam caixas para isso, e por isso o meu pai saiu de casa com duas delas. Contudo, faltava algo: os pacotes de biscoitos que meu avô sempre fazia e distribuía gratuitamente às crianças.
Ele era um mestre dos doces, e sua tradição de fim de ano era aguardada pelas crianças da vizinhança todo ano.
Por isso, eu resolvi tentar fazer os biscoitos, apesar de não ter o mesmo talento.
E as duas primeiras tentativas foram desastrosas: uma vez queimei todos os biscoitos por esquecer do tempo e na outra, coloquei ingredientes errados, resultando em algo horrível. Mas não desisti, e na terceira tentativa, agachada em frente ao forno, ouvi o alarme do meu celular indicando o momento certo para retirá-los. Com esperança, os retirei, mas ao ver a aparência, fiz uma careta. Os pingos de chocolate estavam desordenados, e a massa havia estufado em alguns pontos, deixando a carinha feliz, mais grotesca do que simpática.
Porém, ao provar, estavam deliciosos.
— Eu consegui, não posso acreditar... — disse, comendo outro pedaço e sentindo os olhos se encherem de lágrimas — Eu consegui, vovô! Meu Deus, eu consegui!
Ao observar os biscoitos mais uma vez, lágrimas e risos se misturaram, pois a noção de ter a liberdade de fazer o que bem entendesse naquele instante começou a aliviar muitas das minhas inseguranças. Afinal, no começo de uma nova vida com novas atividades e novas rotinas, nem sempre vamos saber o que fazer. Nem sempre vamos acertar tudo e nem sempre vamos estar confiantes. O importante é não desistir. Errar faz parte e no início de algo, é ainda mais compreensível. Estava tudo bem estar perdida as vezes. Com o tempo, as coisas começariam a dar certo. Assim como eu consegui fazer com aqueles biscoitos. Eu esperava conseguir fazer na minha vida.
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Sempre Volto Para Você
RomantiekNicole é advogada de um lutador de MMA nos EUA e vive uma vida de aparência. Ela pode ter uma renda legal, mas não tem amigos, não tem lazer e nem sabe qual foi a última vez que se sentiu feliz no trabalho. Dustin é um ex militar dos EUA com traumas...