4. MISSÃO

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Ter a decisão de voltar para o Brasil era algo que eu já tinha em mente ao ser demitida, nem que fosse apenas por alguns dias. Mas quando recebi uma ligação dos meus pais dias depois precisando da minha presença para resolver algumas coisas urgentes, eu tive certeza de que era o momento de voltar.

Assim, percebi sentir mais saudades dos meus pais do que imaginava, quando eu não aguentei nem mesmo esperar o Uber parar, para começar a chorar ao avistar o meu pai com a mão sobre os olhos me esperando na porteira. E a minha mãe vindo ao seu lado sorrindo. 

Provavelmente a minha versão mais nova, que não chorava por quase nada. Estaria assustada com o quanto chorei em sair do carro e ir até os meus pais que me seguraram com segurança e proteção. 

— Minha preciosa filha! — foi o que a minha mãe disse quando me abraçou enquanto o meu pai precisou me soltar para tirar a minha mala do Uber. 

— Desculpa, me desculpa por não vir antes…  

— O que importa é que você está aqui, você voltou para casa… — ela se afastou, me analisando de cima a baixo com orgulho e alegria — Minha linda filha. 

— Sim, sou eu mesma, mãe… — sorri para ela com os olhos ainda cheios d’água. 

Meu pai logo começou a reclamar que minha mãe devia parar de me apertar e me dar espaço para poder entrar. E enquanto o rebatia, ela seguiu para o casarão brava com ele que imitava o tom dela segurando a minha mala na mão. E assim acabei abraçando o meu pai rindo, ao perceber que sentia falta até mesmo desse “arranca rabo” deles. 

O casarão estava praticamente quase o mesmo quando eu morava ali, se não fossem alguns móveis novos e as ordens em que eles estavam. Mas o cheiro que vinha da cozinha era o que sempre me lembrava o meu tempo ali. 

— Logo o almoço está pronto querida… — minha mãe apertou a minha mão e então assenti olhando para o 2 andar. 

E o meu pai ao perceber que eu estava querendo subir, começou a ir para o quarto não me deixando levar a mala.

Fiquei sem entender a sua insistência até entrar no quarto e ver como ele conservou tão bem e queria me mostrar isso.

Minha cama era a única coisa de que não era a mesma. O guarda-roupa estava impecável, assim como a mesinha de que tanto estudei no colegial. Meus livros estavam ainda na estante, sem nem mesmo uma mancha. Sem contar que o meu mural de fotos ainda estava ali, mas com algumas fotos minhas da faculdade e outras atuais que enviei para eles. 

— Atualizo o seu mural quando posso, apenas para manter o seu passatempo, sabe… — ele deu de ombros, me explicando como se não fosse nada de mais. Mas eu sabia muito bem que era importante para ele, porque era o que ele podia fazer para matar a saudade. 

Meu pai era assim, criado em outra cidade do interior ainda mais simples que a nossa, ele não era de muitas palavras e nem de expressar com toques físicos o que sentia como a minha mãe. 

Mas ele sempre cuidou de mim quando podia ou não podia. Era zeloso, bondoso e protetor a minha vida inteira. Quando eu esquecia meu lanche, ele ia até meu colégio e levava. Quando quebrei o meu tornozelo na adolescência, ele me descia no colo com todo cuidado e sempre me dava o que eu queria quando podia ou não. Ele que me sustentou no começo da faculdade na capital e nunca reclamou.

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