O fórum da minha cidade não era tão grande, mas parecia imenso comigo caminhando de um lado para o outro enquanto falava ao telefone com Noah, que me informava sobre a ausência de Dustin na consulta nos EUA.
— Ele partiu ontem... — suspirei, com a mão na cintura, observando o corredor do tribunal — Eu vi o bilhete dele... como ele não pode estar nos EUA?
Já se passaram quatro dias desde que ele teve outra dissociação ao sairmos da cachoeira. E, como prometido, conversamos e ele assegurou que iria à consulta, até me avisou que estava indo mais cedo para o aeroporto. Eu estava serena, aguardando a hora da audiência com o Ministério Público, até Noah me ligar, preocupado com o desaparecimento de Dustin.
— Exatamente, eu tinha combinado de encontrá-lo aqui na clínica. Mas ele não apareceu e também não está em sua casa.
— Se ele não está aqui e nem lá, onde ele poderia estar agora? Será que aconteceu algo...
— Vou contatar todos que o conhecem... se ele deixou o Brasil, eu descobrirei. Nós vamos encontrá-lo.
Ouvi Noah tentando me tranquilizar, embora ele mesmo parecesse ofegante.
E não era para menos. Eu estava tão distraída com a preocupação que uma funcionária teve que se aproximar e me avisar que a audiência iria começar.
— Noah, eu falo com você mais tarde. Tá bom? — avisei-o e, com sua concordância, desliguei o telefone e segui a funcionária até a sala de audiência de conciliação que utilizaríamos.
Antes de entrar, consegui sussurrar uma prece para que meu Deus protegesse Dustin onde quer que ele estivesse, e que ele estivesse ao meu lado quando avistei a mesa oval na sala, cercada por quase dez homens de terno do lado oposto ao meu.
— Seja bem-vinda, Dra. Nicole. Sou Caio, o promotor responsável pelo seu caso — um deles se levantou e me cumprimentou — E na sua defesa escrita que recebemos, parece que a senhora atacou mais o poder público desta cidade do que se defendeu adequadamente dos maus-tratos. Por isso, estamos aqui para esclarecer as coisas.
Caio se sentou e percebi que a ideia de ter tantos homens do outro lado era para me intimidar, o que realmente provava que defendiam a prefeitura, e não a lei, como deveriam.
— O projeto que você administra recebeu uma denúncia de maus-tratos e, com uma busca da polícia, encontraram-se provas de que os animais pareciam estar infectados... — Caio me entregou uma pasta com fotos e laudos — E com o resultado da perícia, constatou-se que houve envenenamento.
— Foi uma denúncia anônima falsa, feita por alguém que colocou veneno na ração. Anexei o comprovante de pagamento das rações, compradas no mesmo fornecedor de sempre, e também fotos dos animais saudáveis dias antes. Ou seja, ninguém do projeto envenenaria eles.
— Isso não é prova suficiente — disse outro homem, dando de ombros enquanto eu fazia uma careta antes de Caio suspirar.
— Vamos denunciar seu projeto e ele será fechado em um mês. Mas podemos fazer um acordo para evitar isso.
— Com todo respeito, desde quando o promotor é também juiz para determinar o desfecho disso? — perguntei irritada, e ele sorriu de forma esnobe, e eu sabia o motivo. Era porque, assim como eles, a prefeitura compraria o judiciário.
Era difícil de aceitar, mas o atual prefeito tinha comprado tudo o que podia, exceto aquele rancho.
O orgulho que sentia do meu avô por nunca ter cedido àquele homem que nem conheço era imenso.
— A doutora passou muito tempo fora, em outras áreas, então expliquei o óbvio: não há defesa contra os maus tratos.
— Que acordo vocês propõem?
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Sempre Volto Para Você
RomanceNicole é advogada de um lutador de MMA nos EUA e vive uma vida de aparência. Ela pode ter uma renda legal, mas não tem amigos, não tem lazer e nem sabe qual foi a última vez que se sentiu feliz no trabalho. Dustin é um ex militar dos EUA com traumas...