18. AJUDA

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O fórum da minha cidade não era tão grande, mas parecia imenso comigo caminhando de um lado para o outro enquanto falava ao telefone com Noah, que me informava sobre a ausência de Dustin na consulta nos EUA.

— Ele partiu ontem... — suspirei, com a mão na cintura, observando o corredor do tribunal — Eu vi o bilhete dele... como ele não pode estar nos EUA?

Já se passaram quatro dias desde que ele teve outra dissociação ao sairmos da cachoeira. E, como prometido, conversamos e ele assegurou que iria à consulta, até me avisou que estava indo mais cedo para o aeroporto. Eu estava serena, aguardando a hora da audiência com o Ministério Público, até Noah me ligar, preocupado com o desaparecimento de Dustin.

— Exatamente, eu tinha combinado de encontrá-lo aqui na clínica. Mas ele não apareceu e também não está em sua casa.

— Se ele não está aqui e nem lá, onde ele poderia estar agora? Será que aconteceu algo...

— Vou contatar todos que o conhecem... se ele deixou o Brasil, eu descobrirei. Nós vamos encontrá-lo.

Ouvi Noah tentando me tranquilizar, embora ele mesmo parecesse ofegante.

E não era para menos. Eu estava tão distraída com a preocupação que uma funcionária teve que se aproximar e me avisar que a audiência iria começar.

— Noah, eu falo com você mais tarde. Tá bom? — avisei-o e, com sua concordância, desliguei o telefone e segui a funcionária até a sala de audiência de conciliação que utilizaríamos.

Antes de entrar, consegui sussurrar uma prece para que meu Deus protegesse Dustin onde quer que ele estivesse, e que ele estivesse ao meu lado quando avistei a mesa oval na sala, cercada por quase dez homens de terno do lado oposto ao meu.

— Seja bem-vinda, Dra. Nicole. Sou Caio, o promotor responsável pelo seu caso — um deles se levantou e me cumprimentou — E na sua defesa escrita que recebemos, parece que a senhora atacou mais o poder público desta cidade do que se defendeu adequadamente dos maus-tratos. Por isso, estamos aqui para esclarecer as coisas.

Caio se sentou e percebi que a ideia de ter tantos homens do outro lado era para me intimidar, o que realmente provava que defendiam a prefeitura, e não a lei, como deveriam.

— O projeto que você administra recebeu uma denúncia de maus-tratos e, com uma busca da polícia, encontraram-se provas de que os animais pareciam estar infectados... — Caio me entregou uma pasta com fotos e laudos — E com o resultado da perícia, constatou-se que houve envenenamento.

— Foi uma denúncia anônima falsa, feita por alguém que colocou veneno na ração. Anexei o comprovante de pagamento das rações, compradas no mesmo fornecedor de sempre, e também fotos dos animais saudáveis dias antes. Ou seja, ninguém do projeto envenenaria eles.

— Isso não é prova suficiente — disse outro homem, dando de ombros enquanto eu fazia uma careta antes de Caio suspirar.

— Vamos denunciar seu projeto e ele será fechado em um mês. Mas podemos fazer um acordo para evitar isso.

— Com todo respeito, desde quando o promotor é também juiz para determinar o desfecho disso? — perguntei irritada, e ele sorriu de forma esnobe, e eu sabia o motivo. Era porque, assim como eles, a prefeitura compraria o judiciário.

Era difícil de aceitar, mas o atual prefeito tinha comprado tudo o que podia, exceto aquele rancho.

O orgulho que sentia do meu avô por nunca ter cedido àquele homem que nem conheço era imenso.

— A doutora passou muito tempo fora, em outras áreas, então expliquei o óbvio: não há defesa contra os maus tratos.

— Que acordo vocês propõem?

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