7. DECISÃO

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Se eu pensei que tinha sido exortada o suficiente após conhecer todo rancho e ser recepcionada com carinho pelo pessoal que mora ali. Eu estava muito errada.

Pois como era costume de todos eles acordarem e ter um momento de devocional sobre seu café da manhã junto com Sr. Louis, a oportunidade de trazer a palavra daquela manhã acabou sendo feita pela pequena que me ajudou a entrar na cozinha. A Lilian.

— Semana passada eu percebi de que a Carmen estava muito triste, então a olhei os outros dias também para ver se ela não ia ficar doente, porque eu gostava muito dela. Ela era legal e a mais bonita de todo o mundo!

Lilian dizia animada sentada no colo de uma moça a qual acredito ser a mãe dela, até que o seu rosto começou a ficar triste.

— Carmen era uma pata daqui que ela gostava muito... — o Sr. Louis me avisou.

E então assenti achando fofo o amor dela pelos animais. Provando que o amor ao próximo ia além de amar apenas aos humanos.

— Gostava? O que aconteceu? — perguntei a ele que suspirou e então entendi a tristeza nos olhos da Lilian.

— A mamãe disse que ontem a Carmen não estava mais respirando, e eu chorei. Eu chorei muito por ter perdido o vovô e a Carmen muito perto. Mas então logo lembrei que o Pastor Louis disse que foi o papai do céu que criou todas as coisas, então lembrei que não tinha por que ficar triste. A Carmen já tinha feito tudo o que o papai do céu queria dela aqui, assim como o vovô.

E então a mãe da Lilian a ajudou dizer um versículo que ela tinha decorado.

E porque dele, por ele e para ele são todas as coisas, Romanos 11:36.

Enquanto o Sr. Louis glorificava a Deus contente pelo aprendizado da Lilian, eu estava me sentindo um caco de novo, em perceber que Deus usava até mesmo aquela menina através da morte da sua pata, para me dar uma lição.

Se eu não fizer a sua vontade, ele não vai parar a obra dele. Ele vai levantar outro, e quem sairá perdendo será apenas eu mesma.

Porque dele, por ele e para ele são todas as coisas, inclusive a minha vida, que não era minha, mas era dele desde o dia que eu a entreguei. Então por que eu estava querendo ainda tomar decisões por mim?

— Podemos fazer a oração? — Sr. Louis perguntou e engolindo em seco assenti.

Depois da oração todos guardaram a sua bíblia para tomar o café da manhã, ao mesmo tempo que o Sr. Louis me apresentava uma senhora.

— Nicole essa é a Helena, a nossa psicóloga voluntária. Fique a vontade com ela e o pessoal. Preciso ir comprar rapidinho mais rações aos animais.

— Cuidado com a ração que compra pastor! — a Helena tentou o avisar, e logo me abraçou com todo carinho — Me desculpa querida é que por algum motivo que eu não entendo, alguns animais estão rejeitando a ração.

Assenti entendendo e logo ela me guiou para pegarmos um pedaço do bolo e nos sentarmos novamente ao redor da mesa.

— É uma honra recebê-la aqui, e além do mais, meus sentimentos pela sua perda. Nós amávamos o seu avô que falava muito bem de você.

— Sério? — quase me engasguei ao comer um pedaço de bolo, vendo os outros que voltaram concordarem.

— Ele tinha muito orgulho de você, a única neta dele... — Helena sorriu e eu precisei comer mais para evitar o arranhão na garganta — Além do mais, vou te apresentar o pessoal daqui. A pequena pregadora de hoje foi a Lilian e a sua mãe é a Marília.

Marília me deu um aceno tímida bem ao contrário da filha que acenou para mim com as duas mãos sorridente. O que de imediato me tirou um sorriso.

— Esse à sua frente é o Igor, o nosso excelente jardineiro. E ao seu lado o nosso velho amigo e bonitão Ótis...

Helena apresentou o rapaz a minha frente que devia ter quase a minha idade, com uma cabeleira ondulada de dar inveja ao acenar rindo sobre o elogio dos jardins, enquanto ao lado um senhor de idade com a barba rala totalmente branca só ergueu a xícara.

E então a Helena apresentou um casal de gêmeos ao seu lado — Esses são o Teodoro e Talita. Nossos adolescentes.

Ela ergueu a sobrancelha divertida e entendi que eles deviam dar trabalho pelo aceno brincalhão que me deram.

Mas pelas cicatrizes nos braços dela e o corte de faca no pescoço dele, fiquei com um aperto no coração em pensar sobre oque eles passaram. E Helena percebendo isso me explicou baixinho.

— Eles tinham um pai alcoólatra, e o mesmo atacavam os filhos com uma faca toda noite. Eles sobreviveram já que fugiram para rua, mas a mãe não teve a mesma sorte...

Coloquei a mão na boca a olhando, e ela assentiu antes que eu voltasse a comer quieta, observando como os dois irmãos se divertiam comendo com os outros.

Sendo que eles usavam uma faca para partir o bolo sem sinal aparente de gatilho sobre o que houve. O que achei simplesmente admirável e incrível.

— Como eles conseguem? — perguntei a Helena quando cada um foi fazer a sua tarefa doméstica com os animais e a mesma apontou a xícara aos céus.

E de imediato tive que realmente rir sem acreditar.

Não que eu não acreditasse no poder de Deus. Eu sabia que ele curava tudo e qualquer coisa. Mas quando a gente ver com os próprios olhos... é lindo a prova de que ele realmente faz aquilo.

— Eu sei como está se sentindo Nicole.. pois quando os conheci pela primeira vez, quis chorar assim como você.

Imediatamente me virei para Helena em choque sem perceber que os meus olhos estavam cheios d'água — Céus...

Ela riu antes de respirar fundo com o olhar para a linda paisagem do rancho.

— Quando pisamos aqui e vemos eles dando graças a Deus pelo básico que muitos de nós nem sequer dar valor, sem mesmo passar pelas tragédias que passaram... é realmente um soco no estômago. De que apenas não sente quem não tem um pingo de empatia mínima no coração.

Engoli em seco concordando com ela, e a encarei curiosa.

— Você disse que o meu avô falava de mim... o que ele realmente dizia?

— Muita coisa boa, como que um dia você viria até aqui e que então iria se encantar por esse lugar igual a ele. E nitidamente eu vejo que ele acertou.

— Como ele poderia dizer algo assim... — sussurrei para mim mesma e ela indicou a xícara de novo para o céu.

— Propósitos de Deus, Nicole.

Nós duas sorrimos por um momento até que senti meu celular começar a tocar e para a minha surpresa era o Noah. Logo eu pedi a devida licença para a Helena que se retirou da cozinha e assim atendi.

— Oie Noah

— Oie, estou no hospital, é o Dustin.

— O que aconteceu? — perguntei com o meu coração batendo tão rápido, que eu conseguia até escutar a sua frequência.

—Por favor, nos ajude... céus, eu te imploro.. ajude o Dustin, Nicole.

Não precisei que ele dissesse mais uma palavra para dar certeza que estaria com eles o mais rápido que eu pudesse.

Desliguei a ligação e corri até a Helena que estava na varanda sorrindo quando me avistou sem fôlego e assim perdeu o sorriso preocupada com minha reação.

— Aconteceu alguma coisa?

— Você poderia chamar um Uber pra mim? — a pedi enquanto via se tinha na minha bolsa os documentos que eu precisava para sair do país — Eu preciso ir agora mesmo para um aeroporto.

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