17. DESCANSO

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Trabalho. Foi nisso que me concentrei na última semana desde a festa de boas-vindas no rancho.

Primeiro, porque era o motivo do meu retorno ao Brasil: ajudar no projeto do meu avô. Solicitei minha licença para advogar no país e comecei a defender o projeto contra acusações de maus-tratos. Em segundo lugar, queria esquecer meu vizinho.

Sim, estava evitando Dustin para compreender meus sentimentos em relação a ele. Ainda não tinha certeza se era influência das ideias da minha mãe, uma carência ou algo mais profundo.

No entanto, cada vez que chegava ao rancho e o via participando da devocional com dedicação, ou cuidando dos animais com carinho e alegria, eu tinha que parar para admirá-lo com o coração aquecido, vendo-o reconstruir sua vida.

— Parece que você está apaixonada por isso.

Ao ouvir isso, encostada na coluna da porta dos fundos e observando Dustin examinar os cavalos com seu pai, quase me virei para Helena.

Foi então que percebi que ela realmente se referia à minha paixão pelos seus pães de queijo.

— É o único que vejo você comer desde que assumiu o projeto. Fiz especialmente para você, querida.

— Ah, não precisava... — suspirei, tentando sorrir enquanto pegava um prato e provava um — Está delicioso, nossa! Obrigada, Helena.

Ela parou ao meu lado, observando Dustin enquanto eu começava a comer, tentando não olhar novamente para o mesmo espetáculo.

— É o mínimo que posso fazer por você, que trabalha sem descanso por este lugar. Assim como aquele jovem.

Subitamente, ouvi uma risada no exato momento em que um cavalo relinchou, forçando-me a olhar novamente para Dustin, que tentava domar o animal.

O cavalo, desta vez, era de um marrom muito escuro e parecia ter um temperamento desafiador.

— Cuidado com o Zangão, filho! — Sr. Louis, que estava mais distante, observava com preocupação — Ele ainda não está recuperado.

— O que houve com esse cavalo? — perguntei, curioso, a Helena, que também parecia apreensiva com a maneira como Dustin se aproximava do Zangão.

— Nós resgatamos este cavalo de um homem que o maltratava. Ele sofreu traumas e sempre enfrentamos dificuldades para nos aproximar dele.

Sr. Louis se aproximou, balançando a cabeça ao ver que Dustin ainda tentava se aproximar do animal, indiferente à sua irritação natural.

— Por que ele insiste nisso? Seria mais fácil administrar o remédio do Zangão na ração, como sempre fizemos...

Observando o cavalo mais uma vez, notei que Dustin parou de rir e começou a falar seriamente com o animal. Para surpresa de seu pai e de Helena, isso fez com que o Zangão se acalmasse.

— O que ele está fazendo? — Helena se aproximou de Sr. Louis, que riu incrédulo com a cena à sua frente.

E então, quando menos esperávamos, vimos Dustin começar a acariciar o Zangão e, aos poucos, aplicar a medicação necessária enquanto mantinha uma conversa com o cavalo.

— Eles se entendem, Dustin conhece a dor do Zangão. O cavalo percebeu isso e sentiu que podia confiar nele.

Sussurrei isso com um sorriso, observando Dustin montar no cavalo e galopar por toda a extensão do rancho, passando por nós e deixando seu pai e Helena com um sorriso estampado no rosto.

Vendo o cavalo expressar sua mais pura sensação de liberdade, algo que acredito nunca ter feito antes, correndo livremente pelo rancho ao lado de Dustin, que ria alto enquanto Zangão se libertava de um trauma. Percebi que Deus às vezes usa nossa dor para curar a dos outros e, sem que percebamos, isso também vai curando a nossa.

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