No momento em que precisei estacionar o carro no centro da cidade, percebi o quanto o passeio que fiz por ali dias atrás com minha mãe tinha sido útil.
O comércio estava tão mudado que Dustin não fazia ideia de onde ficava a nova delegacia após anos fora do país, assim como eu também não saberia se não fosse por aquele passeio.
— É por ali... — indiquei antes de descermos do carro e finalmente chegarmos.
A nova delegacia parecia grande por fora, mas a impressão se intensificou de verdade ao entrar. Havia mais espaço e bancos disponíveis do que policiais para nos orientar sobre o problema.
— Vocês precisam pegar uma senha... — foi o que nos disse uma moça algemada, mascando chiclete e sentada numa cadeira.
Então peguei a senha enquanto Dustin olhava tudo ao redor, visivelmente angustiado.
— Eles não estão aqui, ou devem estar em algum lugar lá dentro com um investigador. Mas não podemos ficar esperando ser chamados pela senha e permitir que os policiais encerrem aquele projeto social... — ele disse, observando a senha que estava longe de ser chamada. Sem conseguir a atenção de um policial, movida pelo desespero, decidi voltar até a moça algemada.
— Você sabe onde estão os investigadores, por acaso?
Ela me encarou com desconfiança e respondeu na defensiva — Por quê? Veio me denunciar também? É sério?!
— O quê? Não é nada disso... — questionei, surpresa com sua reação, até que respirei fundo e consegui explicar — Sou nova na cidade e não faço ideia do que aconteceu com você. Estou aqui por um motivo diferente.
Ela me encarou por um tempo, até concluir que nunca me viu antes naquela pequena cidade. Antes de apontar para uma escada no canto esquerdo.
— Se você subir, encontrará alguns investigadores.
— E o que aconteceu com você? — perguntei, e ela riu sem humor, surpresa por eu não sair dali sem uma resposta — Estou com pressa, moça...
— Eu não deveria estar aqui, mas não suportei ter que ver o assassino do prefeito e não contar a verdade. Por isso estou aqui.
Prefeitura, prefeito... isso não me pareceu coincidência. Anotei mentalmente o que ela disse antes de agradecer.
— Obrigada pela ajuda.
— Nikki, descobriu algo? — Dustin me chamou, e apontei para ele a direção das escadas.
Enquanto ele seguia na frente, observei a mulher algemada que, apesar da dor nos olhos e nas mãos causada pelas algemas, acenou com a cabeça educadamente.
— Boa sorte.
Apressadamente, segui Dustin escada acima, ouvindo um burburinho crescente. Só entendi o motivo ao chegar no segundo andar e ver quase todo o bairro defendendo o projeto social do meu avô, incluindo a irmã de Dustin, que parecia prestes a voar em um policial.
— Vocês precisam nos ouvir! Que tipo de polícia é essa que não faz justiça, hein?!
Enquanto ela gritava, segurando a grade que separava o público dos policiais, eu avistava a Sra. Lia andando de um lado para o outro ao telefone. A Sra. Carla, em alto e bom som, comentava com as outras pessoas que aquilo era um absurdo. Sentado, com a cabeça baixa, visivelmente cansado e sem saber o que fazer, estava o pai de Dustin. O pastor Louis, por causa de quem, provavelmente, Jane gritava com raiva.
— Vocês sabem muito bem que aquele projeto nunca teve uma reclamação de maus-tratos aos animais, então isso foi uma armação! Vocês não podem fechá-lo!
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Sempre Volto Para Você
Roman d'amourNicole é advogada de um lutador de MMA nos EUA e vive uma vida de aparência. Ela pode ter uma renda legal, mas não tem amigos, não tem lazer e nem sabe qual foi a última vez que se sentiu feliz no trabalho. Dustin é um ex militar dos EUA com traumas...