20. BARRACAS

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Havia duas festas que eu adorava durante minha adolescência: o Natal e a festa anual da cidade.

As barracas de arte, brinquedos, lanches e as músicas ao vivo no palco principal atraíam muitas pessoas. Mas o que realmente as fazia voltar no ano seguinte era a alegria contagiante das pessoas.

Não sei por que, mas naqueles dias parecia que todos esqueciam seus problemas e decidiam simplesmente aproveitar a vida em abundância, como os céus nos garantem.

Fiquei chocada quando cheguei à praça da cidade e vi poucas barracas abertas, um palco inutilizado e um ar de desânimo nas faces das pessoas.

— Será que chegamos cedo demais? — perguntei a Igor, que retirava caixas do porta-malas para nossa barraca — Isso aqui não parece uma festa.

Igor suspirou, observando ao redor, e eu o segui com o olhar, notando que as pessoas na rua nem pareciam querer entrar na praça.

— O atual prefeito cortou os fundos para a cultura da cidade. O que temos é graças à igreja e ao esforço pessoal dos cidadãos.

Fiquei de mãos na cintura, incrédula com a atitude do prefeito.

— Está bem difícil... podemos ir? — Igor me interrompeu, e eu concordei imediatamente, pedindo desculpas e seguindo para montar nossa barraca "Quiz Doce".

Era basicamente um jogo de perguntas e respostas onde o erro resultava em torta na cara.

Eu realmente gostei dessa ideia de Marília, mãe da pequena Lilian. Contudo, passei uma hora na barraca sem que ninguém aparecesse para participar.

Igor até cochilava nos fundos, e o máximo que eu fazia era acenar para as pessoas das outras barracas e depois tamborilar no balcão, impaciente com a situação.

Cansada de esperar, decidi visitar a barraca ao lado, onde a Família Teixeira vendia crepes. A Sra. Lidia, uma senhora de sorriso acolhedor, me reconheceu imediatamente por trabalhar na festa da cidade há mais de 12 anos. Por amor à cidade, ela insistia com seu marido para manter a barraca aberta, mesmo nos tempos atuais.

— Lembro de você ainda pequena... — ela disse com um sorriso melancólico. — Eu queria que meus netos tivessem momentos felizes como os que você teve naquela época...

Olhei para seus netos, que brincavam quietos no fim da barraca com alguns dinossauros, e sorri tristemente, concordando.

Uma pergunta surgiu em mim: "Será que não há algo que possamos fazer para mudar isso?"

Logo depois, seu marido trouxe um crepe que, ao dar a primeira mordida, me fez grunhir alto de satisfação.

— Isso está delicioso! — exclamei, e eles sorriram, tímidos e gratos. — Posso pedir mais três para levar agora?

Eles estavam preparando meu pedido quando vi Dustin chegar com sua irmã, que cumprimentou o casal e entrou na barraca deles, enquanto Dustin tirava os óculos escuros, olhando ao redor como se presenciasse uma tragédia.

— Eu tentei avisar que a festa não era mais a mesma, mas ele não acreditou — Jane deu de ombros e ele bufou alto.

— Isso aqui não é uma festa — ele fez uma careta apontando para o palco vazio — Parece um velório, Jane.

— E talvez realmente seja, meu querido.

Sra. Lívia comentou antes de precisar se sentar com a ajuda de Jane, sentindo as pernas falharem por um breve momento.

— Lívia, está tudo bem? — perguntou seu esposo preocupado nos fundos, e ela apenas acenou, querendo tranquilizá-lo, pois não queria encerrar a noite.

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