19. MELHOR VERSÃO

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Era quase nove horas da noite, e eu analisava as finanças do rancho quando ouvi um toque na porta. Sem desviar o olhar do computador, pedi que entrassem.

— Você tem ideia de quanto tempo está trancada aqui, minha querida?

Apertei os lábios ao ver o Sr. Louis, que havia entrado e fechado a porta, indicando que talvez eu tivesse exagerado naquele dia.

Estávamos no começo de dezembro e Luis não fora capturado pelos capangas da prefeitura. Já fazia uma semana que ele desaparecera da cidade sem deixar pistas. Isso deixava sua esposa, acolhida no rancho, por vezes silenciosa e preocupada, assim como eu, ao pensar nele. Afinal, Luis era a principal testemunha no caso de maus-tratos que eu estava investigando, com a audiência já marcada.

— Estou tentando compreender como tudo funciona, as finanças, como era antes e como podemos aprimorar.

— E? — Sr. Louis indagou, fazendo-me rir ao lembrar que ele era um pastor nato, o que me obrigava a confessar a verdade.

— E estou tentando me ocupar com o trabalho para não pensar o tempo todo na audiência.

Ele estalou os dedos e sentou-se numa cadeira à minha frente, com um sorriso que muito me lembrava seu filho.

— Foi Dustin quem pediu para o senhor vir aqui? — perguntei com uma careta brincalhona antes de fechar cada pasta de trabalho.

— Ele realmente pediu que eu cuidasse de você, uma workaholic. Mas ainda assim, vim aqui para falar sobre ele.

Imediatamente, engoli em seco e perdi o sorriso — Sobre o que seria, especificamente?

Dustin estava nos EUA há cinco dias. Ele tinha ido para uma consulta e me disse que voltaria logo, mas nunca retornava. Por isso, pensando que talvez seu pai pudesse ter suspeitado de algo, fiquei gelada até ele sorrir e segurar minhas mãos.

— Eu queria agradecer-lhe pessoalmente.

— Por quê? Eu não fiz nada, Sr. Louis.

Ele deu um sorriso fraco ao examinar minhas mãos e depois perdeu o sorriso, parecendo ter lembranças ruins.

— Ainda tenho pesadelos com a imagem do meu filho trancado no quarto depois de voltar do exército, Nicole.

Apertei suas mãos, fazendo-o engolir em seco — Pensei que o tinha perdido quando ele se mudou para os EUA. Mal conseguia vê-lo sangrar após cada luta. Era como se uma parte de mim estivesse se entregando à morte, e eu não podia fazer nada além de rezar e pedir que Deus enviasse alguém para ajudá-lo a compreender isso.

Ele me olhou e eu baixei os olhos, sentindo um nó na garganta.

— Você se lembra da história de Rebeca? — ele perguntou, e eu concordei com a cabeça ainda baixa — Assim como ela não tinha ideia de que estava cumprindo uma oração apenas ao oferecer água ao servo de Abraão, você não tinha noção de que, ao trazer vida ao Dustin e a nós, estava cumprindo uma oração querida. Obrigado por ser quem você é.

Olhei para ele com lágrimas nos olhos, e ele apertou minhas mãos com alegria.

— E eu diria que não é coincidência que as melhores versões do meu filho que já vi até hoje foram quando ele está ao seu lado... você é uma luz, continue assim.

Imediatamente, levantei-me e contornei a mesa para abraçá-lo em agradecimento.

— Nossa, hoje nem é meu aniversário e já ganhei o dia. Obrigada por isso, Sr. Louis!

Logo depois, ouvi risadas altas de uma menina animada e feliz que invadiu meu escritório em pura euforia.

— Nossa noite de pijama vai começar e você está atrasada! Você tem que vir!

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