Vinte e Dois

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No domingo a tarde, Dulce Maria se encontrava no mais absoluto tédio. No sábado havia ficado em casa com Maite, assistindo filme e comendo pipoca. No domingo de manhã, acordou cedo, finalizou uns trabalhos da faculdade. Foi para uma feirinha próximo ao apartamento com Anahí, e ajudou a fazer o almoço.

Depois as amigas saíram, Annie foi ficar com Poncho e May foi a um café com Nico. Dessa forma Dulce ficou sozinha em casa, sem saber o que fazer.

Não tinha mais o que estudar, não tinha nada de legal na TV, e ela não conseguia tirar um cochilo. Olhou o grupo de mensagens da faculdade, e descobriu que havia um jogo do hóquei da atlética de Medicina.

Dulce não se interessava por jogos, mas ela não tinha muitas opções. Mandou mensagem para Christian o chamando, mas o amigo também estava ocupado. Combinou então com o pessoal da sua sala, alguns meninos e meninas que pareciam tão entediados quanto ela.

O jogo era no clube onde eles faziam os treinos, já que a faculdade não tem uma pista de gelo. Trocou de roupa e encontrou o pessoal na frente do clube.

Dulce se sentou na arquibancada, comprou pipoca e ficou tentando atender o que estava acontecendo. Era um jogo bem violento, e os garotos gritavam e comentavam o tempo todo, enquanto ela tentava reconhecer quem estava jogando.

Pensando bem, era melhor ter ficado em casa. Puxou papo com uma das meninas ao seu lado e isso ajudou o tempo a passar.

- Não to entendo nada! - Disse ela a colega.

- Eu também, só vim porque o Vini ficou insistindo. - Vini no caso era seu namorado, e estava do lado dela gritando e comentando as jogadas com os amigos.

- Acho que estou precisando de um namorado também, ta todo mundo namorando...

O assunto não continuou, pois algo chamou sua atenção. O disco do jogo voou e acertou um dos jogadores no vão do capacete. Ele levou a mão imediatamente ao ferimento, e era possível ver sangue escorrendo.

- Meu Deus!

- Putz, coitado do Uckermann! - Ouviu alguém dizer.

O garoto foi ajudado pelos outros jogadores e ir para o canto da pista, e tirou o capacete. Tava meio longe para enxergar, Dulce estava sentada em um dos últimos bancos da arquibancada.

- O que você disse? É o Christopher? - Perguntou já ficando em pé.

- Sim, é ele. Com certeza vai precisar ir para o hospital e levar ponto.

A ruiva nem o respondeu, simplesmente saiu correndo em direção às escadas para ir o mais próximo que conseguisse.

Quando ouviu o nome de Christopher, algo aconteceu dentro de Dulce e ela sabia que precisava ver com os próprios olhos que estava bem.

Era um jogo amador, mas por sorte havia uma equipe médica do lado de fora da pista. Quando Dulce chegou perto o suficiente, pode ser o sangue escorrendo vivido acima de sua pálpebra. Ele havia cortado o supercílio, uma região que sangra muito.

Os colegas o ajudaram e sair do gelo, e um dos garotos estava o conduzindo para o local dos primeiros socorros.

- Oi! - Dulce se aproximou mais. - Quer ajuda? O que posso fazer?

Christopher não esperava encontrar ela ali, e ficou bem surpreso quando ouviu sua voz.

- Vou levar ele até a ambulância. - Respondeu o garoto.

Ela ficou ao lado dele, e os três foram para o lado de fora. O sol estava bem forte, e Christopher imediatamente foi atendido.

O garoto voltou para dentro da quadra, quando Dulce garantiu que ficaria com Christopher. Ficou esperando do lado de fora, até as portas da ambulância se abrirem novamente.

Ele estava deitado em uma maca e com uma compressa de gelo sobre o ferimento. Sua mão ainda estava suja de sangue seco.

- Tudo bem? - Perguntou a ele.

- Sim, levei um puta azar mas não é nada demais. O que você esta fazendo aqui?

- Prometi ao seu amigo que iria ficar, quer que eu o chame de volta?

Ele sorriu, ela parecia preocupada e isso trouxe algum conforto para o coração de Christopher.

- Não, quis dizer no jogo. Não imaginava te encontrar aqui.

Dulce se sentou ao lado dele na maca podendo ver seu rosto melhor. Estava todo suado, o cabelo molhado, as mãos sujas e seu olho já estava levemente inchado.

- Estava entediada, ai acabei parando aqui. Mas acho que foi bom, quem iria cuidar de você? - Disse em tom de gozação, e sorriu.

Não havia sido nada grave, mas Dulce se sentiu na obrigação de ir ajudá-lo. O que era um absurdo, já que o correto seria odiá-lo e não dar a mínima para os acidentes idiotas em campo.

Christopher sorriu para ela e fechou os olhos. Era bom saber que Dulce estava ali, e que se preocupava com ele.

Algum tempo depois Christopher recebeu alta e instruções para evitar esforços para os pontos não se abrirem.

- Quer ir lá para casa? Você pode descansar um pouco antes de ir embora.

- Não sei, a May vai ficar preocupada. Aliás, se puder não comentar com ela, amanhã eu explico direitinho.

- A May não tá em casa, não tem ninguém em casa. Mas se quiser ir embora tudo bem, só acho perigoso você sair de moto depois de tomar tanto remédio.

Ela estava certo, e seria bom ficar um tempinho a mais com Dulce. Christopher acabou concordando, e os dois foram caminhando até o apartamento dela.

Assim que chegaram ela o colocou sentado no sofá e foi atrás de mais gelo.

- Você se importa se eu tirar a camisa? Esqueci minha mochila lá, na verdade eu não trouxe nem meu celular.

- Não, tudo bem. Se quiser pode usar meu celular.

- Não adianta, não sei o número de ninguém de cor, mas eles me viram saindo com você.

Ele então tirou a camisa de manga cumprida que usava e os sapatos e se ajeitou no sofá. Dulce lhe entregou um saco de gelo, e Christopher colocou sobre o ferimento.

Lhe entregou um copo de água e se sentou ao lado dele, ligando a TV. Os dois ficaram em silêncio por um tempo, um silêncio reconfortante. Apenas se ouvia o barulho da TV.

Christopher se aproximou dela no sofá e Dulce se ajeitou mais próxima a ele, e ficaram assim por um bom tempo.

- Tudo bem por ai? Quer alguma coisa?

Ele a olhou de rabo de olho, estavam próximos que ele conseguia sentir o cheiro do shampoo do cabelo dela.

- Quando foi que ficou tão legal comigo?

Era uma boa pergunta. Nem mesmo Dulce sabia, mas quando viu machucado algo estranho vibrou dentro dela, e se viu nervosa e agitada. E tudo só se acalmou quando soube que Christopher estava bem.

Não tinha nada a ver seu plano ridículo, ou algo assim. Ela simplesmente parou de vê-lo apenas como o cara chato irmão da sua melhor amiga, ou do garoto que fez um aposta suja envolvendo ela, ou do idiota que sempre fora. De repente ele virou apenas o Christopher bonito, e que foi super legal com ela em um final de semana. De repente ele se tornou o cara por quem ela daria muito beijos.

- Também tô tentando descobrir. - Respondeu sinceramente. Christopher fez cara de dor e se ajeitou no sofá. - Tudo bem?

Por impulso Dulce se aproximou ficando quase encima dele, colocando a mão sobre a sua no saco de gelo e o olhando nos olhos.

Uma faísca se acendeu dentro dela, e estava impossível olhar aqueles olhos e não sentir alguma coisa. Os olhos de Christopher desceram para os lábios dela, e sem permissão ele a beijou.

Puxou Dulce com a mão livre pela cintura e enfiou a língua em sua boca. Ela abriu passagem o beijando de volta, enroscando seu braço no pescoço dele e chupando seu lábio.

Tudo parecia calmo e silencioso, como se tudo nesse domingo tivesse acontecido para esse momento.

O momento em que Dulce e Christopher deixaram seus sentimentos aparentes sem dizerem uma só palavra.

O Plano ImperfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora