Vinte

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Na segunda de manhã, Dulce se sentia exausta. Havia passado boa parte do domingo no hospital com Alfonso, e depois os quatro amigos voltaram para casa. Chegou exausta e apesar de ir dormir logo, ainda se sentia muito cansada.

Estava terminando de se arrumar para ir a faculdade, quando alguém bateu na porta, e logo Anahí colocou o rosto dentro do quarto.

- Posso entrar?

- Claro.

A loira entrou e rapidamente se sentou na cama de Dulce que ainda estava toda desorganizada.

- O final de semana foi legal né? Tirando o fato do Poncho ter se machucado no final.

- E do hotel ser horrível e meio assustador. - Lembrou Dulce.

Valeu a pena o final de semana, mas também foi um pouco confuso. Aconteceu muita coisa em pouco tempo, e Dulce tentava processar tudo.

A forma como ela e Christopher se entenderam, não estava em seu roteiro. Ela não achou que ele fosse se entregar tão fácil. Mas agora os dois estavam de volta a realidade, e não sabia o que esperar.

- Sim, o hotel era horrível....

Anahí ficou parada olhando Dulce, e conhecendo bem a amiga, sabia que Anahí estava sem jeito para perguntar alguma coisa.

- Fala logo! - Virou-se para Annie e cruzou os braços.

- Não é nada... Quer dizer, aquela hora em que fui chamar você e o Ucker vocês estavam de mãos dadas ou eu tava muito louca?

Droga! O ato foi tão automático, que Dulce nem pensou que Anahí pudesse ter visto. Se ela não tivesse interrompido os dois, a noite poderia ter acabado de outra forma. E Dulce não sabe até que ponto isso foi bom.

Se entregar a Christopher de primeira poderia ser muito perigoso e ela sabia disso, mas ao mesmo tempo desejou tanto estar com ele.

O que era outra coisa horrível, já que tudo não passava de um plano. As coisas haviam ficado embaçadas para Dulce, e por sorte o final de semana havia acabado. De volta a casa e sua rotina, ela provavelmente voltaria a sua ideia original.

- Ele só estava me ajudando a sair de perto daquele monte de gente. - Inventou uma desculpa, que achou convincente. - Conversamos no final de semana, e decidimos ser mais compreensivos um com o outro.

- Entendi. É que olhando de longe parecia outra coisa....

- Onde você quer chegar com isso, Annie? Não ta rolando nada, relaxa. - Dulce estava na defensiva e Anahí claramente percebeu.

- Ta, tudo bem. - Anahí se levantou da cama. - Só quero que tome cuidado, apesar do Christopher ser muito legal, ele não tem a melhor fama em relação a como tratar garotas.

As palavras de Annie colocaram uma incerteza na cabeça de Dulce. Realmente, Christopher tinha uma fama ruim, ele beijava as garotas, dormia com elas e depois as dispensava.

E se Dulce tivesse se deitado com ele, o que teria acontecido? Ele não iria mais falar com ela depois? Iria inventar um milhão de desculpas e desaparecer por um tempo?

Esses pensamentos fizeram Dulce sentir raiva dele. É óbvio que ele faria isso, é por isso que pediu sigilo, é por isso que só aceitou ficar com ela longe de todo mundo. Ele não valia nada, e é por isso que precisava ser muito fria.

Cada vez mais a vingança ganhava força dentro de Dulce. Ele não merecia nenhum sentimento, além do desprezo. E ela iria provar a ele como era o gostinho da dor de um coração partido.

- Obrigada pela preocupação, amiga. Mas está tudo bem, eu juro.

Anahí concordou com a cabeça e as duas saíram juntas do quarto para tomarem café da manhã e irem para a aula.

Na faculdade, Maite havia combinado de encontrar com Christopher e os dois tomarem café da manhã juntos. Sentaram-se em uma mesinha de madeira, de uma das cafeterias do campus.

Christopher lhe contou um pouco sobre o final de semana, e lamentou o final de Poncho. O amigo estava de atestado e com o pé engessado, sozinho em casa. Essa era a parte ruim de morar sozinho, não havia ninguém para ajudá-lo.

Annie se propôs a levar comida para ele, e Ucker prometeu levar as anotações das aulas e ajudar com o que precisasse.

- Você fez falta no final de semana.

- Não deu para ir... Mas Annie disse que vocês se divertiram muito.

- Foi interessante até o Poncho torcer o pé.

Interessante mesmo, foi o que aconteceu entre ele e Dulce. Os beijos dos dois não sai da cabeça de Christopher, e ela o continua enlouquecendo. Não sabe o que pensar, a sensação estranha em seu peito o invade toda vez que pensa nela.

Estaria desenvolvendo algum tipo de doença? Uma intolerância a Dulce Maria? Ou seria uma dependência? Esses pensamentos com certeza o deixaria maluco.

Enquanto estava perdido em pensamentos, Nico um colega de classe passou pelos dois e foi sorrindo ao encontro de Maite, onde lhe deu um beijo estalado no rosto.

- Bom dia, pessoal. Seu livro May, li ontem a noite. A gente precisa marcar de sair de novo para conversar sobre ele.

- Ah claro que sim, Nico. Eu ia adorar, depois te mando uma mensagem pode ser?

- Claro, vou ficar esperando. A gente se ve na aula, Ucker.

O garoto saiu caminhando segurando a mochila nas costas, enquanto Maite ficou o olhando se afastar.

- Pensei que você tinha ficado estudando no final de semana. - Falou Christopher com a cara fechada.

- E fiquei, mas depois do curso eu encontrei o Nico e ele me convidou para beber alguma coisa e eu fui.

- E parecem bem amiguinhos vocês dois.

- Ah por favor Ucker, sem ciúmes. Ele é legal, e a gente só ta se conhecendo.

- Mas ele é meu amigo!

- E dai? Eu não ia me opor se você começasse a namorar uma amiga minha.

- Mas eu não vou namorar nenhuma amiga sua e nem ninguém, até o final da faculdade.

- Lá vem você de novo com esse papo... Não precisa seguir os passos do papai a risca sabia?

O pai dos dois havia focado totalmente nos estudos até os 28 anos, quando encontrou a mãe de Maite e Ucker, foi uma paixão rápida e em pouco menos de dois anos se casaram. Os dois tinham vidas completamente diferentes, ela era uma bailarina e ele um cirurgião recém-formado. O relacionamente foi um grande aprendizado para os dois.

E sempre o pai de Christopher, falava a respeito de saber o foco em cada coisa na vida. Primeiro os estudos, depois a construção de uma família. Uma coisa de cada vez, e é por isso que ele tem plena convicção que não deve namorar ou se envolver sério com alguém até o final da faculdade, e a residência.

As festas, as noitadas e as bebidas eram fáceis de controlar. Ele ia quando podia, beijava as bocas que queria quando podia, não tinha um compromisso fixo. Não tinha que dar satisfação. Ele pedia se trancar em seu quarto e estudar pelo tempo que achasse bom, sem precisar ser cobrado de fazer outra coisa.

- Eu sei, mas eu tenho um caminho longo pela frente ainda e não quero distrações.

Christopher levava muito a sério os estudos, e durante toda a sua vida ouviu de seu pai, que namoros era uma atraso na busca do sucesso. E ele acreditava nisso, sem alguém para tomar seus pensamentos, ele conseguia se dedicar ao que realmente importava.

O Plano ImperfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora