Onze

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O caminho para casa foi em silêncio, ninguém teve coragem de dizer uma palavra. E quando a moto de Christopher parou em frente ao prédio de Dulce, ela apenas o entregou o capacete e entrou no prédio.

Ele não esperava nada de diferente, até porque também não tinha nada para falar. Foi um caso a parte, muito supreendente, mas algo que não tinha chances de se repetir.

A noite havia acabado para ele também, e os dois cada um em sua casa ao deitar no travesseiro ficaram revivendo aquele beijo.

Muitos sentimentos passavam por Dulce Maria mas nenhum eram relacionados a sua vingança. Seria esse o sinal para desistir de tudo?

O restante do final de semana foi morno, as meninas passaram o domingo em casa estudando e se organizando para a semana. Christopher levou Joaquim para o aeroporto junto com os pais dele, e depois passou o resto do dia também estudando.

Na segunda-feira de manhã como de costume, Christian e Dulce estavam tomando seu café preto sentados em uma das mesas da cantina.

- Então você conseguiu o que queria! - Disse Christian com um sorriso no rosto.

- Não, não saiu do jeito que eu queria. Não foi um beijo consensual.

- Como não? Vocês dois queriam isso.

Ele esta certo, mas Dulce não queria que seu plano fosse para caminhos tortuosos. O beijo tinha que ser como uma arma para ela, e não um motivo de prazer.

Precisava ser muito fria, mas por enquanto se sentia quente como um vulcão ao lembrar daquele beijo.

- Mas isso não pode se repetir, eu tenho que pensar em cada passo que vou dar e tem que ser tudo calculado.

- Se não quem vai se apaixonar vai ser você! - Christian traduziu em palavras o que a mente de Dulce Maria queria esconder.

- Nem morta. Fica tranquilo que esse risco eu não corro.

O amigo a olhou de rabo de olho, e desconfiou da confiança dela. Isso daria uma bela história, mas Christian achou melhor não falar nada.

- Agora deixa eu te contar da minha noite... Ai sábado!

Dulce se aproximou empolgada para escutar as aventuras do final de semana do amigo. Pelo menos alguém havia se divertido muito no sábado a noite.

Próximo dali, Christopher e Alfonso estavam esperando o início da primeira aula do dia. Estavam dentro da sala de aula, o computador ligado só aguardando o professor aparecer.

- Você foi embora cedo no sábado. - Comentou Poncho.

- Achei que não tinha percebido, já que estava tão ocupado conversando com a Annie.

- Na verdade, a gente não só conversou... - Deu uma risadinha sacana. - Foram só uns beijos, mas a Annie é uma garota legal.

- Ela é muito legal, por isso cuida bem dela.

O garoto concordou com a cabeça e voltou ao assunto da festa.

- Mas porque foi embora tão cedo?

Christopher suspirou antes de responder, ele quis fazer um favor a Dulce mas depois ficou confuso se o favor era realmente para ela. As coisas saíram do controle como nunca haviam saído e isso o deixou confuso.

- A Dulce. Sabe, a amiga das meninas tava precisando de uma carona.

- E você saiu de uma puta festa para dar uma carona? Já entendi bem.

O garoto deu outro de seus sorrisos e Christopher imediatamente começou a negar com a cabeça.

- Não, não rolou nada. E eu nem quero, ela é completamente louca! Você precisa conhecer ela melhor e vai entender.

- A Annie fala muito bem dela, disse que é como uma irmã.

- É, elas se acham as meninas super poderosas. Mas a Dulce, não dá, chata e mimada!

- E já rolou alguma coisa?

- Nunca!!! Nem de brincadeira!

A resposta foi bem incisiva, e Alfonso deixou por isso mesmo. Não era muito próximo de Dulce, mas já tinha percebido que Christopher não gostava dela e o sentimento era recíproco.

Mais tarde naquele dia, havia um projeto voluntário no hospital universitário que os professores incentivavam muito os alunos a participarem. Eram visitas para crianças na ala pediatra, e também tinha alguns projetos envolvendo pessoas da terceira idade.

Como aluna de Fisioterapia, Dulce estava pelo menos três vezes por semana no hospital universitário. Uma de suas aulas, envolvia a comunidade e principalmente pacientes do hospital da terceira idade, que necessitavam de fisioterapia.

Havia uma sala enorme para isso, eles aprendiam a ler prontuário, a atender os idosos, e com a ajuda dos professores a realizar os procedimentos.

Depois do final da aula a professora os convidou a conhecer o projeto para as crianças do hospital. Sendo um hospital público e que recebia verbas do governo do estado, havia algumas coisas precárias.

Havia muito incentivo a doações de brinquedos, e fraldas geriatricas. Na maioria dessas campanhas Dulce e Christian ajudavam como podiam.

Hoje não foi diferente, e os dois aceitaram participar da dinâmica. A professora avisou que o pessoal de medicina eram os mais envolvidos, e os organizadores do projeto.

O pequeno grupo seguiu para dentro do hospital, e foi recepcionados por alguns estudantes de medicina. Entre eles é claro que estava Christopher, vestindo seu jaleco branco e sorrindo para todas as garotas.

Foram até a brinquedoteca e as enfermeiras ajudaram a levar algumas crianças. Os estudantes que não conheciam, ficaram mais afastados, apenas observando. Enquanto os outros interagiam com as crianças, lhe dando alguns livros infantis e brinquedos.

Christopher pegou um violão e se sentou em um banquinho.

- Quem está a fim de ouvir uma musiquinha? Eu quero ver quem sabe essa.

Começou a dedilhar o violão e com a ajuda de outros alunos cantaram "Borboletinha", as crianças cantaram em coro e todo mundo parecia se divertir.

Dulce ficou surpresa com a quantidade de música infantil que Christopher sabia cantar e em como ele tratava cada criancinha que falava com ele. Era tão humano e amoroso, um Christopher que ela nunca tinha visto antes.

Ficou em seu canto, parada e um pouco chocada. E até encantada, ela nunca havia visto essa sensibilidade nele.

Christian lhe cutucou com o braço e deu uma risadinha. Só então Dulce percebeu que provavelmente o estava olhando com cara de boba.

Uma hora depois, e muitas brincadeiras e músicas a visita teve fim, e o responsável pelo grupo convidou a todos que foram acompanhados pela professora a voltarem outras vezes e participar.

Na saída Dulce deu de cara com Christopher e não pode deixar de sorrir para ele. Estava mole igual a uma gelatina.

- Oi. Nossa muito legal isso que você fez. - Disse a ele.

- Valeu. Faz tempo que fazemos isso, legal da parte de vocês virem conhecer.

- Sim, a professora nos convidou. Mas você me surpreendeu Christopher, nunca imaginei.

- Porque? Eu to estudando para ser médico, eu tenho que saber me envolver com os meus pacientes.

- Mesmo assim, acho que nunca te vi dessa forma.

- Você não me conhece como pensa, Dulce.


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👀👀

O Plano ImperfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora