André
Ele pediu para eu lavar seu cabelo. Deu uma desculpa de que doía o ombro (talvez não fosse desculpa), mas eu desconfiava que era só uma forma de repetir a primeira experiência. Ele tinha os olhos fechados num semblante de puro deleite, e isso fez meu pau formigar.
– Para de ser chato e entra aqui... – Ele murmurou, sem abrir os olhos.
– Está muito frio – respondi, e era verdade.
– Eu te aqueço...
Deus, ele não parava! Não que eu não o quisesse. Agora, por exemplo, eu meio que o comia com os olhos. Ele sem dúvida era muito bonito fisicamente. Tinha um corpo magro, talvez mais magro do que deveria ser, e isso devido à vida que levava, mas ainda que fosse possível ver a sombra de suas costelas, seus músculos definidos ainda estavam lá.
Uma alimentação adequada, distância do álcool e um pouco de exercícios o deixariam com o corpo de um modelo. De fato, ele parecia um modelo, com aquela pele dourada, seus pelos eram claros, quase loiros, mas ele não era exatamente loiro. Bom, sei lá, não entendo de cor de cabelo, mas o tom dele era uma coisa entre um e outro, nem claro, nem escuro, meio cor de cabelo de milho, sabe?
– Vira de costas – sugeri a fim de passar a esponja em seu dorso.
– Assim? Sem preparo nem nada? – ele troçou.
Nem me dei ao trabalho de responder, só revirei os olhos.
Apesar de ele ter lesões bem feias na parte da frente, suas costas eram o que mais evidenciava a forma cruel como ele fora surrado. Ele tinha muitas manchas escuras em toda a extensão das costas, além de lacerações. Pelo que pude ver nas radiografias, por dentro estava ainda pior, com as costelas trincadas e os músculos lesionados. Havia um curativo na lateral esquerda de seu corpo, por onde havia sido feita a incisão para a cirurgia de correção da fissura pulmonar. A costela que envolvia a região recebera pinos para fixação.
Só de lembrar da radiografia, eu tinha arrepios. Fiquei surpreso ao constatar que Jeff passara aquela noite inteira com aquilo cortando seu órgão, e não abrira a boca para reclamar uma só vez. Eu não era muito cuzão para dor, mas ver o estrago em seu corpo me fez pensar que talvez ele fosse muito mais homem do que eu nesse sentido.
Ou estivesse habituado a dor, o que era algo terrível.
– Vira de frente – ordenei.
– Ah... Mas estava tão gostoso.
– Para de ser idiota – respondi com voz de bravo, mas estava sorrindo – você quer fazer a barba?
Ele realmente estava com uma camada bem mais generosa de pelos cobrindo o rosto. Quando o vi da primeira vez e nos reencontros pontuais, ele tinha uma sombra de barba, mas não chegava a ser uma barba de fato.
– Talvez só aparar com a tesoura. Não precisa se preocupar, posso fazer isso depois.
– Aproveita que está no banho e eu faço em você.
– Tá querendo por a lâmina no meu pescoço, André? – E aquele brilho cristalino me atravessou de novo.
– Se eu quisesse que você morresse, era só sair andando. Você é muito bom em se virar nesse sentido.
– Obrigado por salvar minha vida – agora ele tinha uma expressão séria no rosto.
– Faria por qualquer pessoa.
– Acho que não.
– Tá se achando muito, Jeff.
– Você gosta de mim.
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Improvável (Romance Gay)
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