Jeff
Eu devia ter levantado daquela merda de banquinho há uns cinco minutos, mas não conseguia me mover. Eu sentia minha pele arrepiar a cada parcela de ar que entrava pela porta semiaberta, e meu desejo era me enfiar em qualquer roupa quente e desaparecer por algumas horas.
André estava demorando. Aquele idiota me deu um banho, e se eu não estivesse tão lascado por todos os lados, não teria permitido que ele encostasse aquela mão enorme em mim. Ele encostou a mão em mim, e agora eu me sentia... Limpo?
Por que ele estava demorando?
Tentei me erguer. Não sabia que aquela bosta de banquinho tinha um ímã para bundas quebradas, porque eu não ia conseguir a façanha sem esforço. Não entendi nada, há pouco eu tinha me levantado do chão e tirado a roupa, por que agora não conseguia me erguer do banco?
Ah... Porque eu estava estranho.
Sentia-me esquisito depois do banho. Estava amortecido e embaraçado, porque gostei de ter aquelas mãos esfregando o meu cabelo. Eu não podia me lembrar de um momento sequer na minha vida inteira em que alguém tivesse feito algo minimamente parecido com isso por mim. Nem minha mãe, que me ensinou a tomar banho sozinho, e desde então, sempre fiz tudo sozinho.
Tentei me levantar de novo. Apoiei-me na porta do box e icei o corpo. Cada maldita partícula de cada núcleo de cada célula que existia em mim gritou em protesto. Provavelmente o efeito dos analgésicos estava passando.
Eu precisava de uma dose.
Ouvi uma batida na porta. Estava só encostada, por que ele batia? Já tinha me visto pelado, ocupado o mesmo box que eu (certo, isso foi bizarro) mas era verdade.
— O quê? — resmunguei. Minha voz continuava estranha, muito rasgada e lembrei que um dos caras tinha apertado o meu pescoço, devia ser por isso.
André passou uma toalha limpa pela porta e jogou sobre o lavatório. Por que ele não entrava na porra do banheiro dele?
— Consegue se levantar sozinho? — ele perguntou, do outro lado.
— Eu me viro — o caminhão de areia ainda estava lá na minha garganta, e milhares de alfinetes me espetavam o resto do corpo.
Saí do box, hiper consciente do quanto eu estava fodido. A cada passo, uma tortura, a cada tortura, um palavrão.
Isso não podia estar acontecendo! Eu precisava voltar pra casa! Minha mãe devia estar preocupada e a Larinha já estava sem a mãe... Agora sem o pai?
Finalmente, alcancei a toalha. Demorei uma semana pra chegar até ela. Aquele bosta que me deu o banho não podia agora me dar outra mãozinha? Ou mãozona?
Não me dei ao trabalho (e à tortura) de me secar, só cobri meu corpo da cintura para baixo. Meu pau estava formigando e eu não sabia a razão disso. Tinha muito tempo que ele não acordava, e por vários motivos.
Saí para um corredor que dava para três portas. Não sabia para onde ir. Arrastei-me até um vão livre e dei numa sala aconchegante. O lugar era bacana pra caralho, tinha um sofá o qual um dos lados era mais alongado, tipo, dava para deitar-se nele; uma mesa com quatro cadeiras, uma TV bem grande e um tapete felpudo, desses que parecem rabo de gato. A janela era imensa, pegava quase toda a parede e tinha uma espécie de persiana blecaute bem maneira. Puta casa legal.
— Separei isso pra você. Consegue se vestir ou precisa de ajuda?
Ah, agora ele queria ajudar. Idiota! Olhei para ele, irritado. Ele usava uma calça de moletom, camiseta branca e meias, e os cabelos molhados estavam penteados para trás. Achei bonito, sei lá por quê. Não pensei muito no assunto, minha mente estava ocupada tentando encontrar uma forma de me vestir de novo sem morrer no processo.
— Você tem mais analgésicos? Ou whisky? Ou vodca?
— Tenho os analgésicos. Bebida, pode esquecer.
Merda!
— Aceito.
Ele entrou por uma porta, devia ser a cozinha. Fiquei ali encarando a roupa e a roupa me encarando. Só de me inclinar para pegar a calça no braço do sofá minhas costelas gritaram. Devia haver alguma fratura, fui chutado sei lá quantas vezes. Quando endireitei o corpo, notei que estava suando frio.
— Você está pálido — ouvi, atrás de mim — toma isso.
Peguei os comprimidos que ele me dava e ignorei o copo d'água. Mastiguei as esferas amargas para fazer efeito mais rápido. Uma dose de qualquer birita seria perfeita para acelerar a coisa, mas aquele pau no cu não queria facilitar pra mim.
Tentei levantar a perna para colocar a calça, mas não deu muito certo. Endireitei o corpo, respirei fundo e tentei de novo. A toalha caiu, e eu quase caí também, zonzo de dor.
— Ah, mas que merda! Me dá isso! — André arrancou a calça da minha mão e me empurrou até o sofá.
Senti-me ridículo porque estava pelado de novo diante do cara, e agora ele ia me vestir. Minhas pernas bateram no sofá e tive que me sentar. Ele me olhava de cima com uma cara muito feia, e eu me encolhi na minha própria vergonha.
Masculinidade fracassada em 3... 2... 1...
Ele passou o moletom por minhas pernas. Alguma coisa aconteceu quando ele roçou os dedos pela minha pele, e eu fiquei alarmado porque o formigamento no meu pau resolveu se intensificar. Peguei uma almofada e coloquei no meu colo.
— Está tudo bem? — ele perguntou, parando com o elástico da calça na altura da minha coxa — você estava branco que nem papel, agora está vermelho igual a um tomate!
— Deixa eu terminar de pôr — empurrei as mãos dele e, num movimento só, subi a calça. Quase fui a óbito com as pontadas no meu abdômen, certamente eu estava pálido de novo, e meu pau faleceu por tempo indeterminado.
Graças aos anjos por isso.
André pegou a camiseta e passou pela minha cabeça. Esperou que eu erguesse os braços, mas fiquei parado.
— Você pode colaborar? — ele resmungou.
— Eu sou a porra de um bebê, agora? — resmunguei de volta, mas acabei erguendo os braços e ele me ajudou a vestir a camiseta. Fez o mesmo com o blusão de moletom, passou por um braço, depois pelo outro, e eu mesmo fechei o zíper.
— Vou jogar sua roupa no lixo — ele avisou antes de se afastar. Não protestei, nada daquilo prestava mais — pode ficar com essas aí, não precisa me devolver.
Gostei disso. A roupa cheirava gostoso, devia ser algum tipo de amaciante de roupa, sei lá. Eu me senti bem dentro das peças, tão bem quanto durante o banho...
Meu pau voltou a formigar.
Que merda significava isso?
— Eu preciso do meu aparelho. Preciso acessar a internet. Você pode me ajudar? — perguntei quando ele voltou à sala.
Ele ficou um tempo me encarando. Não gostei disso. Senti-me do mesmo jeito de quando ele saiu do box e ficou assistindo minha infame tentativa de tomar banho.
— Como você sabia meu nome? — ele perguntou.
— Qualquer policial saberia o seu nome. Depois daquele caso, você virou meio que uma lenda.
Ele corou. Achei engraçado. Se eu fosse esse cara, teria um ego inflado do cacete. Ele não parecia tão petulante de perto.
Um cara petulante não levaria um homem todo ferrado e fedido para o próprio apartamento, muito menos daria banho nele e emprestaria roupas. Um cara petulante teria feito o que eu pedi, me deixado em qualquer bar e desaparecido. Eu não sabia qual era a desse cara, mas para um inimigo, ele estava se saindo muito mal.
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Improvável (Romance Gay)
Romansa🌈 Romance Gay 🥉TOP 3 NA CATEGORIA "ROMANCE LGBTQIA+" - 3ª Ed.CONCURSO CÓSMICO 2024 🥇 #1 romancegay (Jun2024) 🥇 #1 sensual (Mai2024) 🥇 #1 homoerótico (Abr2024) 🥇 #1 autodescoberta (Abr2024) 🥇 #1 policial (Set2024) 🥈 #2 novos (Abr2024) 🥈 #2...