Jeff
Eu estava acordado quando a porta da frente se abriu. Passava das dez horas da manhã, e eu já estava desperto desde o amanhecer. Do meu canto cativo no sofá, vi o sol se erguer e tingir de vermelho o firmamento, e as luzes que entraram pela janela livre das persianas aqueceram a manhã depois de uma madrugada fria e solitária.
Foi bonito demais, e a consciência de que, graças ao André, eu pude ver mais um nascer do sol, me consumiu por um tempo considerável.
Agora ele caminhava em minha direção. Trazia um saco de papel nas mãos e olheiras no rosto. A barba rala parecia mais escura, ou talvez ele estivesse mais pálido, e seu cabelo meio caótico me fez imaginar como estaria o meu agora.
Ele não falou nada. Depositou o saco de papel ao meu lado no sofá e se enfiou no banheiro. Ouvi o chuveiro e não me movi. Senti o cheiro salgado de algum assado, que vinha do saco de papel, e embora meu estômago reagisse com fome, tive medo de comer.
Foi a primeira manhã em anos que a primeira coisa que desejei não foi uma dose.
Tentei me levantar. Embora sentisse muita dor, me obriguei a isso em alguns momentos, como se estivesse avaliando o estrago e se alguma evolução estava ocorrendo. O golpe de ontem provocava um latejar agudo e cortante e me fazia sentir ainda mais dor ao respirar, mas o restante não parecia pior, e isso me animava um pouco.
Fui até a cozinha e me servi de água. Bebi muitos copos ao longo da manhã, como se estivesse compensando minha negligência nesse assunto. Pelo menos a água não fazia doer meu estômago.
Eu precisava tomar os medicamentos, mas se o fizesse sem nada no estômago, passaria mal. Abri o saco e tirei dele o assado, estava morno ainda e parecia apetitoso. Mais uma vez, o cuidado do André me constrangia.
Dei algumas dentadas. Senti enjoo, mas nada voltou, graças aos Céus. Não insisti em ingerir o alimento até o fim, apenas engoli os comprimidos e empurrei com água. Esperei o mal-estar passar e voltei à sala.
– Você está se movendo melhor – a voz me atingiu antes da visão. André estava sentado em uma das cadeiras, o cabelo molhado, uma calça de moletom azul (sim, mais uma), uma camiseta branca, pés descalços, e um aroma de sabonete e shampoo permeava o ar.
Ele estava...
– Por que fez isso? – Perguntei. Eu tive vontade de enfiar minha cabeça em seu pescoço e cheirar ali. Tive muita vontade mesmo.
– Como está seu ombro?
– Tomei os analgésicos; obrigado pelo assado. Por que fez isso?
– Não teve enjoo? Seu estômago ainda dói?
– Tive um pouco, mas deu pra controlar. Não está doendo agora. André, por que fez isso? Por que foi atrás de mim depois de ter me mandado embora? Por que tirou o pente da arma?
– Teoricamente, você quis ir embora. Eu só deixei.
Me aproximei dele. Parei a um passo de suas pernas. Ele me olhava de baixo e isso fez eu me sentir maior.
– Por que fez tudo isso?
Ele ficou de pé. Sabe aquela sensação de se sentir maior? Evaporou.
– Você sabe por quê.
Senti meu coração dar um salto e se jogar no meu estômago.
– Não, eu não sei.
– Sim, você sabe.
Tive um medo avassalador. Ele estava a menos de um braço de distância e eu queria me jogar em seu peito. Eu nunca senti isso na minha vida, ainda mais por outro homem. Minhas relações físicas sempre foram superficiais, até meu casamento, que não passou de uma forma de manter minha filha por perto. Meu coração pulsava acelerado e eu queria dar um passo a frente, mas também queria dar um passo atrás.
Eu não sabia se sabia por que ele tinha feito tudo aquilo. Achava que sabia, mas tinha medo de tirar conclusões precipitadas. O medo me fez recuar, então girei sobre os calcanhares e lhe dei as costas para voltar ao sofá, e foi então que algo inesperado aconteceu.
Senti seu braço envolver meu peito e me puxar para trás. Meu corpo se chocou ao seu, e senti sua massa rígida e quente por toda a extensão das minhas costas, nádegas até as coxas. Senti o volume de sua ereção e entrei em colapso. Senti seu hálito quente em meu pescoço e meu corpo inteiro entrou em alerta vibrante.
O toque dos lábios ocorreu perto da minha orelha, e tenho certeza de que tombei o pescoço e fechei os olhos com a sensação. Sua voz entrou com o ar quente em meu ouvido, e tudo em mim acordou.
– Você sabe...
Quando sua língua tocou o lóbulo da minha orelha e trilhou um caminho até meu ombro, minhas pernas viraram gelatina. Acho que gemi alguma coisa, mas não quis pensar nisso. Ele passeou com as mãos pelo meu peito e estreitou o contato, como se isso fosse possível. O ouvi arfar quando friccionei meu quadril à sua pelve, e seus dedos se fecharam e agarraram o tecido da minha blusa.
– Céus... – ouvi sua voz enrouquecida e inclinei a cabeça para melhorar seu acesso às regiões mais sensíveis do meu pescoço.
Meu corpo tremia. Não me lembrava desse tipo de expectativa, de ânsia... de tesão. Sem mais procurar motivos para protelar o que desejava, girei o corpo e meus lábios o encontraram no caminho, se chocando aos seus.
O mundo desapareceu. Tudo ficou branco como algodão-doce. Não sei se o gemido que escapou foi dele ou meu, ou de ambos. Senti seus dedos longos se entranharem pelo meu cabelo, e subi com as minhas mãos até sua barriga, percorrendo os dedos por sua cintura até as costas, descendo enfim até as nádegas firmes e o trazendo de encontro a mim.
Nossas ereções se roçaram. Ele libertou meus lábios e inclinou a cabeça para trás num grunhido. Aproveitei o caminho livre e ataquei seu pomo de adão com a língua, depois distribuí beijos até o pé de sua orelha.
Ele tinha o melhor cheiro do mundo, e por um longo momento, não me dei conta de que estava dando o melhor amasso da minha vida em um homem, e quando me dei conta...
Não me importei.
– Jeff... – Ele segurou um punhado do meu cabelo e inclinou minha cabeça para me olhar nos olhos. Fui atingido pelo breu do seu olhar e quis dizer alguma coisa, qualquer coisa significativa, mas a única coisa que saiu foi:
– Eu sei.
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Improvável (Romance Gay)
Romance🌈 Romance Gay 🥉TOP 3 NA CATEGORIA "ROMANCE LGBTQIA+" - 3ª Ed.CONCURSO CÓSMICO 2024 🥇 #1 romancegay (Jun2024) 🥇 #1 sensual (Mai2024) 🥇 #1 homoerótico (Abr2024) 🥇 #1 autodescoberta (Abr2024) 🥇 #1 policial (Set2024) 🥈 #2 novos (Abr2024) 🥈 #2...