𝑋𝐼𝑉 - 𝑂 𝑛𝑜𝑣𝑜 𝑐𝑜𝑙𝑒𝑔𝑎 𝑑𝑒 𝑡𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙ℎ𝑜.

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「𝐹𝑟𝑎𝑛𝑐𝑖𝑠 𝑝𝑜𝑣」

Apesar de tudo o que aconteceu nos últimos dias, eu ainda acordava todos os dias dizendo a mim mesmo que hoje seria normal e um ótimo dia... Eu sempre me enganava, pois Henry, o porteiro, sempre deixava um ou mais sósias entrar. Eu estava começando a pensar que esse garoto precisava de óculos.

Meu despertador literalmente destruiu meus ouvidos enquanto tocava, eu gemi de cansaço e desliguei-o. Cambaleei para fora da cama, minhas costas arqueando e doendo enquanto eu me levantava porque ainda não estava curado. Eu claramente não estava animado para mais um dia de trabalho. Eu não odiava meu trabalho. O que eu odiava era acordar tão cedo depois que adormecer era um grande desafio todas as noites. Especialmente agora que precisava relaxar as costas. Fiz minha rotina matinal habitual e, quando estava pronto para sair, peguei as chaves do carro e calcei os sapatos, como todos os dias.

Ao sair para o corredor, cruzei com Nancy. Que sorriu para mim assim que me viu.

《 Mmm, acordou tão cedo? Estou surpreso. 》 eu disse, com um sorriso lateral visível em meu rosto de aparência cansada.

Ela riu. 《 Vamos, não é a primeira vez. Você já deveria saber disso. Então, você está trabalhando de novo hoje? Que pena, não tenho nada para fazer hoje. Conversar com meu vizinho teria sido bom. 》 Nancy me contou, cruzando os braços de brincadeira.

《 Ah, encontre outro vizinho para isso. Eu trabalho a semana toda...》 eu disse, encolhendo os ombros. 《... você já deveria saber disso. 》 acrescentei, copiando o que Nancy acabara de dizer, fazendo-a balançar a cabeça e rir novamente.

《 Sim, tudo bem, vá entregar seu leite, Sr. Milkman. 》Ela me disse, virando as costas para mim com um olhar presunçoso no rosto.

Deixei escapar uma última risada antes de me despedir dela e ir embora, com garrafas de leite já esperando para serem entregues.

Assim que cheguei à oficina, vi alguém sair dirigindo um dos caminhões de leite. Não reconheci aquele rosto e disse a mim mesmo que ele devia ser um cara novo no trabalho. Não prestei muita atenção e fui para minha própria bóia de leite, pronto para começar o dia apesar de ter dormido um total de 3 horas.

Dirigi pela estrada habitual, meus clientes habituais esperando pela entrega. Ao chegar na primeira casa, fui bater na porta.

《 Mm... Aqui está o seu leite. 》 Eu disse à cliente assim que ela abriu a porta.

A mulher parecia confusa. 《 Mas acabei de receber meu leite há alguns minutos? 》 Ela me contou.

Uma carranca se espalhou pelo meu rosto.  《O que você quer dizer? 》 perguntei com incerteza.

《 Bem, acho que foi um novo leiteiro. Tinha um menino que veio entregar o leite. 》 Ela me contou, olhando para a estrada, mas não havia outro carro.
《 Ok... bem, tenha um bom dia de qualquer maneira, senhora... 》 Eu disse a ela antes de sair, de volta para minha bóia de leite.

O que isso deveria significar? O novo cara recebeu o plano errado?
Porque ele não devia estar aqui, esses eram meus clientes, cada leiteiro tinha um bairro diferente. Deve ter havido um erro.

Continuei meu caminho... cada casa que bati já tinha recebido o leite. Tudo pelo mesmo garoto, pois todos o descreveram da mesma forma. Cabelo loiro, uniforme de leiteiro, óculos escuros e aparentemente ele nunca falava. Eventualmente, no final da estrada, minha bóia de leite ainda estava cheia, e nenhuma garrafa foi entregue. Isso não deveria estar acontecendo. Enquanto eu estava sentado no veículo, com a cabeça apoiada no volante, derrotado, eu poderia jurar que vi algo de relance. Uma bóia de leite. Deve ter sido o cara que roubou minha casa.

Levando alguns segundos para descobrir se era realmente ele ou não, eu o vi sair. Mesmo de onde eu estava, pude ver sua aparência. Cabelo loiro... usando o uniforme de sempre... usando óculos escuros... e carregando uma pequena caixa de garrafas de leite, caminhando em direção à porta de uma casa. Ele distribuiu as garrafas e recebeu dinheiro em troca. Acenando para o cliente, ele se virou e voltou para seu veículo.

Franzi a testa e liguei o motor da minha própria bóia de leite, decidindo seguir esse cara novo até que ele parasse novamente. Assim que ele estacionou, eu fiz o mesmo e saltei do veículo, andando em direção ao cara com um olhar irritado.

<<< Ei! >>> Chamei, esperando ganhar a atenção dele.

O menino se virou para mim e ficou ali, me observando enquanto eu me aproximava.

《 Você está na área errada! Esses são meus clientes para quem você entrega leite. Você não deveria estar aqui, garoto. 》 Eu disse a ele com uma carranca.

Tudo o que recebi em resposta foi o silêncio. Um silêncio longo e enervante... até que ele levou a mão ao rosto e lentamente levantou os óculos escuros. Seus olhos estavam... costurados.

《 Pobre homem... Você vai chorar para a sua mamãe, Francis? 》 Ele perguntou, um sorriso sinistro se espalhando por seu rosto.

Sua voz era profunda e desumana. Não admira que ele não tenha falado com os clientes. Então me dei conta... este não era um humano. Devo ter estado cara a cara com um sósia. Uma súbita expressão de pânico cruzou meu rosto e dei um passo para trás.

<< Vamos lá... não fuja agora... só um pouquinho de sua carne... >> O sósia falou, seus dentes afiados aparecendo.

Ao ouvir suas palavras, corri imediatamente de volta para minha bóia de leite e liguei o motor novamente, correndo para ir embora. A criatura me seguiu, mas tudo o que pôde fazer antes de eu ir embora foi quebrar um farol.

Com o coração ainda acelerado, olhei pelo retrovisor lateral e o vi parado no meio da estrada, olhando para mim indo embora.

...

The Milkman (Tradução pt/br) Onde histórias criam vida. Descubra agora