Capítulo X

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Conforme estava combinado, domingo chegou e Rodolffo foi buscar Juliette e Rita para almoçar.  De seguida iriam fazer o que estava combinado.

Pensem na alegria de Rita.  Por ter sido criada sem pai ou porque realmente se apaixonou por Rodolffo,  a menina não cabia em si de contente.

Eles caminhavam os três de mão dada pelas ruas de Cascais como se realmente de uma família se tratasse.

Hoje o almoço foi numa das esplanadas do largo Camões.  Escolheram um peixe grelhado para os dois, mas Rita preferiu carne.

Juliette analisava o comportamento de Rodolffo.   O seu semblante parecia mais leve que da última vez que o viu.

Ele interagia com Rita enquanto ela só observava.
Cortava-lhe a carne, deitava o refrigerante no copo, ajeitava o guardanapo para ela não se sujar, tudo como se de um pai se tratasse.

Rodolffo apanhou Juliette a olhar para ele. Fixou os olhos nos dela e perguntou:

- Que foi?

- Nada.  Só observando.

- Fiz alguma coisa errada?

- Não.  Mimas demais esta miúda.  Só isso.

- Ciúmes?  Também posso fazer a ti.

- Convencido é o teu nome do meio.

Riram os dois.

- Esqueci-me de um pormenor.  A Rita enjoa no barco, ou tu?

- Não.   Só andámos uma vez,  mas foi tranquilo.

- Ainda bem.  Se enjoassem  não era possível ir.

Terminaram a refeição e foram até à praia dos pescadores.  Dali seguiram a pé até à marina onde iam apanhar um pequeno iate que os levaria para mar alto.

Rodolffo entrou numa florista e comprou um ramo de flores brancas.
Com elas entraram os três para o barco.

Juliette segurava a mão dele e reparou que estava suada.

- Estás nervoso?

- Um pouco.  Ansioso é o melhor termo.

Ao fim de alguns minutos a navegar, Rodolffo pediu para pararem o iate.
Era mais ou menos ali que ele tinha deitado as cinzas de Luz ao mar conforme o seu pedido.

Luz adorava o mar e por isso, apesar de morar em Lisboa,  todos os finais de semana iam a Cascais.

Rodolffo segurou a mão de Juliette e Rita e aproximou-se da borda.
Fez silenciosamente uma oração pedindo a bênção de Luz, deu um beijo nas flores, entregou uma a Juliette e outra a Rita e juntos jogaram as flores no mar.

Colocou os braços sobre os ombros de cada uma delas e ficou a ver as flores balançarem sobre as ondas.

Juliette deitou a cabeça no ombro dele e passou o braço pela sua cintura.

O momento de contemplação foi interrompido por uma criança curiosa.

- As flores é para os peixinhos?

- Também,  mas é para a senhora do mar.  Para proteger os barcos e as pessoas.  E também para proteger as pessoas que nós gostamos muito.

- E no outro dia que mandaste flores à minha mãe, também era para a proteger?

- Não.   Quando damos flores à alguém é porque gostamos muito delas.

- Eu nunca ganhei flores.

- Vamos resolver isso.  Da próxima vez dou à tua mãe e a ti, pode ser?

- Pode.

Juliette olhou para mim e perguntou:

- Estás bem?

- Estou.  Sinto que o devia ter feito há muito tempo, mas tudo no tempo Dele.

Ficaram ali mais alguns minutos antes de fazerem a viagem de regresso.

Fizeram um lanche ali mesmo na marina e já o sol se punha quando Rodolffo as foi levar a casa.
Esperou um convite de Juliette para ficar, mas o convite não veio.

Despediram-se e ele voltou para a quinta.

Depois da tormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora