Capítulo XII

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Passei o dia de sábado com Rita.

Fui buscá-la à pastelaria da Bete  e aproveitei para dar um beijo em Juliette.

- Trago-a à noite.  Não faças jantar que eu levo.

- Toma conta dela.  Cuidado com a piscina que ela tem a mania que já é grande.
Na mochila, vai uma muda de roupa.

Os dois saíram dali e logo veio a Bete  moer-me o meu juízo.

- Ena!  O caso está sério.   A filhota já vai para a casa da namorado.

- Que namorado?  Nós não temos nada.

- Porque gostam de desperdiçar tempo.  Está na cara que os dois estão afim.

- Como, está na cara?

- Dos dois.  Nem se dão ao trabalho de disfarçar.
Vai à luta amiga.   O tempo é curto.  Não esperes ser tudo perfeito que não vai ser.  Se não der, valeu a tentativa.

Na quinta após a chegada, Rita quis logo ir ver o Ciclone.  Rodolffo calçou as botas de montar e saiu com ela na garupa.

- Tio, tu achas que eu já consigo montar sózinha?

- És muito pequenina e o Ciclone não está muito habituado com crianças.   Quando voltarmos eu deixo-te montar sózinha lá no picadeiro, mas eu a segurar as rédeas.

- Está bem.

Era adorável ver a alegria desta criança quando estava em cima de um cavalo.  Eu, junto dela era outra criança igual.
Não quero pensar se um dia a mãe se zangar e me proibir de vê-la.

Voltámos e Raffaela juntamente com a família já tinham chegado.

Bárbara pegou em  Rita e foram aproveitar a piscina.

- Cuidado com a Rita.  Bárbara, toma conta dela.

- Pode deixar, tio.  Eu estou de olho nela.

Quando as duas saíram, a minha irmã olhou para mim com cara de poucos amigos.

- A mãe já me disse que agora vives de agradinhos para essa pirralha e a mãe dela.

- Rafa, eu não disse nada disso

- Não foi assim, mas é a mesma coisa.

- E se for?  Por acaso eu devo-te explicações sobre a minha vida? E não é pirralha,  é Rita.

- Não gosto delas.

- Nem as conheces. Tenho pena.

- Não conheço a mãe pessoalmente,  mas sei bem quem é.

- Sabes quem é,  como?

- Um amigo do Vítor mora no mesmo prédio e diz que ela chama a PSP por tudo e por nada.

- Por alguma coisa há-de ser.

- Por vezes eles reunem-se na casa dele para verem futebol ou uma confraternização qualquer e a festa vai até às tantas.

- Já estou a ver.  Gritaria, música alta, álcool e outras coisas mais.  Devias era pôr juízo na cabeça do teu marido e não criticar pessoas que querem descansar e têem crianças.
Boazinha é ela, porque como advogada poderia ter outra atitude mais drástica.

- Mas geralmente é à sexta feira.

- Sabias que tem gente que trabalha ao sábado.   Sabias que hoje eu fui buscar a Rita às 7 da manhã na fábrica de pastelaria onde a mãe trabalha.

- Mas ela não é advogada?  Ou é pasteleira?

- E se for as duas coisas qual é o problema?  Nem toda a gente nasceu para ser madame como tu que não fazes nada.

- Meus filhos, não quero discussões entre irmãos.  Raffaela não te metas nos assuntos do teu irmão.   Olha como ele anda feliz.

- Feliz não.  Iludido.

- Não quero discutir.  Vou para o meu quarto.

Sentei-me na varanda do meu quarto e de lá podia vigiar a Rita que brincava com a Bárbara  na piscina.

Enquanto isso na cozinha...

- Foste muito dura.  Olha os anos que o teu irmão levou a tentar esquecer a Luz.  Agora que ele tenta refazer a vida tu vens com esses problemas da treta?

- E não podia escolher outra pessoa?  Logo uma mulher já com filha?  E ele ainda a trata como se fosse filha dele.

- Os dois adoram-se.  Antes dele conhecer a mãe já se apaixonou pela filha.  Foi no aniversário da Bárbara.

- Nunca vi o Vítor agir assim com a Bárbara. Como pode o Rodolffo ser assim com quem não é do sangue dele.  E porque nunca foi assim carinhoso com a minha filha?

- Agora sim.  Disseste tudo.  Tu tens ciúmes da relação dele com a menina porque na tua casa nunca houve disso entre o teu marido e a Bárbara.
O Rodolffo adora a Bárbara e quando ela era criança ele vivia em Lisboa.

- Não gosto delas e pronto.  Se o Rodolffo começar a trazê-las cá eu deixo de vir.

Rodolffo vinha a chegar e ainda ouviu esta última parte da conversa.

- Mãe, fazes-me um favor.  Dás banho à Rita e trocas-lhe a roupa?  Vou sair com ela e almoçamos por aí antes que estrague o dia de todos.

Depois da tormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora