Capítulo IX

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Não me sinto muito bem.  O meu psicológico já bastante afectado ficou pior depois que fiquei com Juliette.   Sinto que as consultas de terapia não têem produzido os resultados desejados.

Eu saí de casa dela feliz.   Comprei as flores e os chocolates, mandei entregar e voltei para casa. 

A minha ideia era convidá-las para passarem o final de semana aqui na quinta, mas foi só chegar a casa e as dúvidas voltaram.

Durante estes anos todos desde a morte de Luz vivi em função da sua imagem.  Nunca uma outra mulher havia despertado em mim o sentimento que eu tive com Juliette.

A minha mãe percebeu a minha angústia.   Mais uma vez.  E mais uma vez me aconselhou que eu tinha que deixá-la ir.

Decidi não procurar Juliette até resolver estes meus sentimentos.   Não foi correcto, eu sei, mas estou disposto a correr o risco dela não querer olhar mais para a minha cara.

Trabalhei que nem um louco na semana seguinte e deixei esta para fazer o que eu tinha em mente.

Fui para Lisboa.  Ali eu tinha as mais belas recordações do meu casamento.  Durante três dias percorri ruas e ruelas como tantas vezes fiz com ela.  Fui aos nossos restaurantes preferidos, aos mercados e rezei na nossa igreja.

O padre viu-me e foi ter comigo.  Não sou de praticar muito a religião,  mas Luz fazia questão de ir todos os domingos à missa.

Conversámos durante muito tempo.  Contei-lhe os meus tormentos e ele disse que já tinha passado da hora de deixá-la num cantinho do meu coração e não ocupar o coração todo.

Saí dali um pouco mais leve.  Passei em frente ao nosso antigo apartamento e voltei para Cascais.

Preciso fazer uma última coisa, mas queria fazê-la com Juliette.   Hoje vou falar com ela.  Espero que não esteja muito magoada e queira conversar comigo.

O telefone tocou.  Olhei para a tela e vi escrito "Tio".  Foi assim que eu salvei o número dele.
Decidi não atender, mas ele insistiu.

- Olá.

- Juliette,  não desligues por favor.  Preciso conversar contigo.

- Um pouco tarde, não?

- Eu sei.  Desculpa, mas preciso muito mesmo.

- Vou sair agora.  Passa por aqui e conversamos num sítio qualquer.

Em cinco minutos eu estava de frente ao escritório dela.  Ela desceu, entrou no meu carro e eu dirigi até à boca do inferno.
O local é agradável, público e ali podia conversar à vontade, dentro ou fora do carro.

- Como estás?  E a Rita?

- Estamos bem.

- Primeiro mil desculpas por ter desaparecido.  Não estava bem e ainda não estou.

Contei-lhe tudo sem esconder o que quer que fosse.  Ela ouvia sem nada questionar.
Eu observava a expressão dela tentando entender o que lhe ia na alma.

- Tens noção de que não é muito agradável passares uma noite com um homem que estás a tentar conhecer e ele simplesmente desaparecer na manhã seguinte.

- Sei, mas não penses que eu te quis usar.  Só fiquei muito confuso.

- Já experimentaste fazer terapia?

- Eu faço terapia,  mas até agora não tem resultado.

- E porque era importante falares hoje comigo?

- Depois destes dias em Lisboa,  eu preciso fazer uma última coisa, mas quero fazer contigo.
Eu quero fazer parte da tua vida e que tu faças parte da minha, por isso acho que devo ir contigo.

Rodolffo explicou o que era.

- Isso é uma coisa tão pessoal.  Tens a certeza?

- Tenho, mas só se tu quiseres apostar numa relação comigo.  Eu sei que não te sou indiferente.  Eu senti na nossa noite que me querias tanto quanto eu queria.

- Apesar de tudo tenho dúvidas.

- É normal,  e ainda mais depois do meu comportamento, mas diz-me;
Vão comigo?

- É necessário levar a Rita?

- Eu gostaria, sim.  Pode ser domingo?

- Está bem.  Nem que seja para dar sossego a esse coração.

- Obrigado por me entenderes.  Eu sei que fiz a escolha certa.

Depois da tormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora